Protestos na CPTM revelam colapso no transporte público em São Paulo

Para integrante do Conselho Nacional das Cidades, população não tem condições humanas de se locomover e parte para a revolta

O cansaço da população com as condições subumanas dos trens paulistas levou ao episódio de ontem na zona leste da capital (Foto: Mário Angelo.Sigmapress.Folhapress)

São Paulo – A situação caótica envolvendo o transporte na cidade atingiu ontem (17) seu estopim, provocando protestos em uma composição da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) na Estação Comendador Ermelino, zona leste da capital. Vagões que apresentaram problemas técnicos foram depredados por passageiros.

Segundo o membro do Conselho Nacional das Cidades Manuel Xavier Lemos Filho, os protestos são resultado do cansaço da população diante do colapso de mobilidade urbana enfrentado diariamente. “As pessoas estão cansadas de não terem condições humanas de se locomover, e isso leva ao desespero e à revolta”, diz em entrevista à Rádio Brasil Atual. Ele explica que este cenário faz com que a população passe a não reconhecer o próprio direito ao transporte público, gerando insatisfações como a de ontem.

É também importante lembrar do viés político que o transporte público adquiriu, ele ressalta. Apesar das promessas, os progressos são cada vez menos visíveis na cidade. “Não há investimentos pesados na ampliação do metrô, na melhoria da CPTM ou no sistema de ônibus”, diz.

Para ele, o transporte continua sendo visto como um comércio, na lógica de lucro.“É uma das tarifas mais caras do mundo. Tem que se pensar na sua redução”.

Por outro lado, as investigações para identificar as causas de problemas técnicos no transporte não estariam sendo levadas à sério em São Paulo.

Carlos Aranha, do grupo de trabalho de mobilidade urbana da Rede Nossa Cidade, ressalta a dependência da população de poucos meios de transporte de massa. “Numa cidade com milhões de habitantes é esperado que no momento em que um sistema não funciona ou atrasa, as pessoas possam contar com alternativas. E isso não existe”, comenta.

A precariedade de trens e metrô atinge principalmente os mais pobres. “O pobre fica sem opção, porque não tem carro, não tem respeito se colocar uma bicicleta na rua e não tem ônibus que vá com rapidez, porque os corredores, quando existem, não funcionam”.

Aranha analisa que os governantes pensam a malha ferroviária e metroviária a curto prazo, somente no período de sua gestão ou no período de oito anos, visando a reeleição, quando o investimento deveria ser de longo prazo. 

“Observamos algumas injeções de recursos milionárias, como na duplicação da Marginal Tietê, que podem ser feitos rapidamente em uma gestão, mas que não alteram a estrutura da mobilidade urbana em São Paulo”, diz.  

Ouça aqui a reportagem de Marilu Cabañas.