Parque de Kassab tem passarela no mato e poste em ciclovia

Prefeitura entrega estruturas inacabadas no extremo sul de São Paulo e sequer cuida da manutenção das áreas

Uma passarela que liga nada a lugar nenhum é uma das marcas do parque Castelo, nas margens da Guarapiranga (Fotos: Rodrigo Gomes. Rede Brasil Atual)

São Paulo – Uma passarela no meio do mato, uma guarita e quatro aparelhos de ginástica para terceira idade: o parque linear do Castelo, na zona sul de São Paulo, é um resumo de como o prefeito Gilberto Kassab (PSD), na tentativa de a todo custo cumprir uma de suas metas de mandato, deixa de lado o cuidado com a construção de estruturas que efetivamente atendam às necessidades da população.

Na orla da represa Guarapiranga, alvo da Operação Defesa das Águas, abundam exemplos de áreas verdes que sequer foram equipadas, mas entraram no balanço da atual gestão, e de estruturas que chegaram a ser construídas, mas hoje já perderam boa parte das atrações. Os parques lineares são a principal bandeira de realizações da administração Kassab nas áreas ambiental e de lazer. Seriam 50 até 2008, mas apenas 30 estarão entregues ou em fase de construção até o fim do atual mandato, em dezembro.

Em 29 de abril de 2008, o Diário Oficial do Município anunciava sua mais ambiciosa empreitada no extremo sul de São Paulo: a construção de quatro parques (Nove de Julho, Castelo, São José e Barragem) na orla da represa Guarapiranga. O tamanho e a estrutura prometidos chamavam a atenção. O parque Nove de Julho, o maior deles, teria mais de 500 mil metros quadrados, seis quadras poliesportivas, ciclovia, área para passeio a cavalo, quiosques, vestiários, pista de aeromodelismo, campo de futebol, brinquedos, equipamentos de ginástica e uma piscina de 40 mil metros quadrados com 150 mil metros quadrados de areia ao redor.

poste em ciclovia

A visita ao parque decepciona quem busca o anunciado. A começar por sua localização: a página da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente na internet informa que o parque fica na altura do número 1000 da rua Frederico René de Jaegher. Segundo um folheto informativo da subprefeitura da Capela do Socorro, publicado em fevereiro de 2008, esta seria a entrada principal do parque. No endereço há um muro com um imenso buraco, local frequentado por usuários de drogas, o que provoca insegurança na população. Para encontrar o parque é necessário uma caminhada de cerca de um quilômetro adiante e vários pedidos de informação.

A área realmente é imensa. Já a estrutura se resume a uma pista de caminhada, dois campos de futebol, algumas mesas de pedra, um deck flutuante, vários equipamentos de ginástica para terceira idade e alguns brinquedos para crianças. O estacionamento, segundo informou um guarda do local, são as próprias ruas que dão acesso ao parque e um terreno irregular na entrada. Quase não há postes de iluminação e as árvores se concentram em uma pequena área. No campo de aeromodelismo, de acordo com uma pessoa que pediu para não ser identificada, quem corta a grama da pista de pouso são os próprios usuários. Um dos campos de futebol também é cuidado pelos moradores.

moleque no parque

O diretor da equipe de futebol amador Flamenguinho, Carlos Roberto Canastra, de 52 anos, capinava e marcava um dos campos quando a reportagem chegou, no último fim de semana. Perguntado se era funcionário da prefeitura, ele riu. “A prefeitura não faz nada aqui, diz que não faz parte do parque. Nosso time está aqui há mais de trinta anos e se a gente não cuidar do campo o mato vai tomar conta de tudo”, disse. Canastra afirma que o campo já existia e, assim como a pista de aeromodelismo, foi destruído com a criação do parque. “Nós nos organizamos, pressionamos, lutamos durante muito tempo para garantir o nosso espaço”, explica.

Mesmo incompleta, a área recebe muitos visitantes. A aposentada Nadir Fernandez, de 77 anos, diz que gosta muito do parque e que ele é bastante frequentado. “Venho sempre que posso. Meu neto, que nem mora na região também costuma vir aqui. De manhã passa muita gente pela minha rua vindo caminhar no parque”, diz. Nadir afirma que durante muito tempo o local foi inseguro e ficou abandonado, mas que agora está bem melhor. “Podia ter mais coisas, mas para nós está muito bom”, conclui. De acordo com o site Agenda 2012, que apresenta o plano de metas da prefeitura de São Paulo, o parque foi concluído em julho deste ano.

Nem um centavo

Segundo os moradores do Jardim Castelo, pelo projeto apresentado pela prefeitura, o Nove de Julho deveria ser interligado ao parque linear do Castelo, mas na prática os dois estão separados por clubes de futebol amador e uma grande quantidade de casas. “A prefeitura disse que ia unir os parques com passarelas sobre a água. Mas o local onde nós estamos [entre os dois parques], o parquinho e os outros campos são mantidos pelas associações, a prefeitura não destina nem um centavo”, diz José Carlos, presidente da Associação Barcelona de São Paulo, um dos clubes de futebol amador da região. Na área informada por ele como sendo do parque, havia apenas dois cavalos pastando.

O parque linear do Castelo deveria ter pontos para pesca e pista de caminhada, em meio à mata nativa, com trechos suspensos sobre a vegetação, áreas para descanso e contemplação da fauna, flora e da represa. No entanto, o parque se resume a uma passarela “que vai de nada a lugar nenhum”, como define o entregador Cristiano Silva Barbosa, de 25 anos. “Antes de fazerem o parque, a gente frequentava muito mais esse espaço, soltava pipa, pescava. Agora está tudo abandonado, a maior parte do tempo o portão está fechado”, afirma Barbosa.

Ao redor da passarela há muito mato, praticamente sem árvores nas proximidades, e áreas com água aparentemente poluída. O deck de onde se poderia pescar está quase coberto pelo mato e fica próximo do local em que um córrego bastante poluído deságua na represa. Já no lado da Avenida Atlântica não há acesso para a população. Nesta parte existem muitas árvores e o córrego passa entre elas, a caminho da represa. A ciclovia que dá acesso ao parque foi construída com árvores pequenas e postes interditando uma das faixas. Segundo o site Agenda 2012, este parque foi concluído em dezembro de 2011.

Vitrines

Os parques da Barragem e Praia do Sol são os mais completos. O Praia do Sol tem arena de esportes e já foi palco de torneios transmitidos na televisão. Ambos ficam bastante expostos, sendo visíveis desde a avenida Atlântica, diferentemente dos outros, localizados no interior dos bairros.

O parque linear São José, considerado conquista pela comunidade, já perdeu parte de sua estrutura e atrações. A quadra de cimento da área mais baixa não tem traves há meses. A passarela ao lado dessa quadra e o deck no final dela, dentro da represa, não existem mais há tempos. Segundo o folheto informativo da subprefeitura, a segunda fase instalação do parque incluía incluía a despoluição do córrego que passa por ali. De acordo com os moradores, o parque está pronto há três anos e até hoje nada foi feito nesse sentido.

Procurada, a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente não respondeu aos questionamentos da nossa reportagem.

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