Juiz diz que ação da Rota em Várzea Paulista, em SP, segue lógica da ditadura

Ação que resultou na morte de nove pessoas recebe apoio do governador Geraldo Alckmin

“A Rota é exatamente para isso”, afirmou Alckmin, sobre batalhão de elite em vez do policiamento local de Várzea Paulista (Marcelo Camargo/ABr)

São Paulo – O presidente do conselho executivo da Associação de Juízes para a Democracia (AJD), José Henrique Rodrigues Torres, criticou a ação da Rota que resultou na morte de nove pessoas em Várzea Paulista, no interior de São Paulo, na semana passada. Já o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Antônio Ferreira Pinto, considera legítima a ação dos policiais.

A operação que ocorreu no dia 11, envolvendo 40 policiais militares, tinha como objetivo, segundo a PM, impedir a realização de um suposto tribunal do crime organizado para julgamento de um acusado de estupro. De acordo com a polícia, os acusados fariam parte do Primeiro Comando da Capital (PCC) e morreram após reagir à ação policial, tese confirmada por declaração do governador do Estado, Geraldo Alckmin. “Quem não reagiu, está vivo”, comentou.

Em entrevista exclusiva à Rádio Brasil Atual, Ferreira Pinto reiterou o apoio dado aos policiais que participaram da ação. “Os dados que nos chegaram até agora tornam legítima a ação da Rota, isso é claro”.

Para Torres, as autoridades do governo paulista não deveriam fazer declarações como esta antes da conclusão das investigações. “Estamos diante de um fato em que há a possibilidade de ocorrência de violência e abuso, isso precisa ser apurado. As autoridades tem que se comprometer com a lisura da apuração, seja ela qual for”, diz.

O presidente da AJD ainda lembra que a política de segurança pública do governo Geraldo Alckmin (PSDB) é semelhante àquela usada na ditadura militar contra ativistas políticos. “Esta é uma concepção ideológica de segurança urbana que tem suas raízes na mesma concepção de segurança nacional que nos levou à uma ditadura”.

Ele ressalta que esta ideologia permanece hoje travestida da ideia de paz social e segurança urbana. “Isso acaba legitimando uma ação fora da lei”.

Ivan Seixas, presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe), afirma que a declaração do governador em apoio à ação da Rota incentiva a violência. “A declaração mostra que São Paulo adota a política de primeiro matar, e depois ver se vai prender a pessoa”.

Declarações do ex-comandante da Rota e candidato a vereador pelo PSDB, Paulo Telhada, também têm sido consideradas estímulo à violência. Telhada publicou em sua página do Facebook frases de apoio aos policiais e congratulações ao filho, que é tenente da Rota e foi um dos coordenadores da operação. Para o secretário da Segurança Ferreira Pinto, Telhada tem o direito de se expressar. “Cada um fala o que quer. Ele não pertence mais à corporação, então o regulamento disciplinar não o alcança com o mesmo vigor que alcançaria se ele ainda estivesse na ativa”.

Ouça aqui a reportagem de Lúcia Rodrigues.