Proposta de Alckmin para desafogar metrô dobra tempo de viagem do usuário

Especialista afirma que medida que visa a desafogar a Linha 4 - Amarela pode não ser aceita pelos paulistanos, que não devem mudar modo de deslocamento para ajudar a reduzir superlotação

Ainda sem conclusão, Linha 4, que se conectará a todos os ramais do metrô paulistano, tem execução lenta e superlotação (Foto: Rodrigo Dionisio.Frame.Folhapress)

São Paulo — Meramente paliativa e pouco efetiva. O especialista em mobilidade urbana da Rede Nossa São Paulo Marco Nordi define assim a medida anunciada ontem (19) pelo governo de Geraldo Alckmin (PSDB) na tentativa de desafogar a Linha 4-Amarela do metrô da capital. A gestão estadual passará a oferecer gratuidade, a partir de 15 de outubro, para usuários da Linha 5-Lilás do metrô da capital que utilizarem as linhas de ônibus no terminal Santo Amaro, na zona sul, em vez de realizar a integração com a Linha 9-Esmeralda da CPTM e depois com a Linha 4. A proposta visa a reduzir a superlotação da linha amarela, que vai do Butantã, na zona oeste, até a Estação da Luz, no centro da capital.

Para o especialista, vai ser difícil justificar para as pessoas que utilizam metrô e trem para se locomover da periferia ao centro da cidade que agora elas devem utilizar metrô e ônibus para fazer o mesmo trajeto. “A maioria das pessoas que vive naquela região se desloca em horário de pico para ir ao trabalho, então querem chegar logo. Elas não vão aceitar, e nem podem, mudar a sua hora de entrada no serviço ou fazer um trajeto mais longo e mais demorado com o ônibus”, diz.

Segundo a proposta do governo de São Paulo, o usuário desembarca na estação Largo Treze da Linha 5 e pode tomar gratuitamente qualquer ônibus no terminal Santo Amaro. No caminho inverso, desce no terminal e pega o metrô gratuitamente na estação Largo Treze.

O site da São Paulo Transporte (SPTrans) estima que o trajeto de trem e metrô de Santo Amaro para a rua da Consolação, onde está a estação paulista da Linha 4-Amarela, é feito em 45 minutos. De ônibus, o mesmo trajeto levaria uma hora e meia.

Para Nordi, se existe uma preocupação dos governos em São Paulo para desafogar determinados trechos, como a Linha Amarela, o importante é priorizar os corredores de ônibus e tornar os coletivos mais atrativos para o cidadão. “Na prática, não temos faixas exclusivas para ônibus em São Paulo. Eles precisam dividir espaço com os táxis e mudar de faixa em determinados lugares, o que os torna mais lentos. Não é só reduzir o preço ou conceder gratuidades que vai atrair as pessoas para deixar de usar o metrô e usar ônibus”, afirma Nordi.

Além disso, é preciso destacar que a entrega total da Linha 5 está três anos atrasada em relação ao primeiro prazo para entrega da obra completa, em 2009. A estimativa atual é para 2015, ou seja, seis anos a mais que o previsto inicialmente. A linha ligará a estação Capão Redondo à estação Chácara Klabin, na Linha 2 – Verde, integrando também com a Linha 1-Azul na estação Santa Cruz. “O metrô de São Paulo está muito aquém do que a cidade precisa. As obras são muito lentas e quando ficam prontas a demanda já superou a capacidade delas”, afirma Nordi.

O especialista da Nossa São Paulo criticou ainda o recente anúncio do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), de pintar faixas para ônibus em 66 quilômetros de vias na cidade, a fim de suprir a demanda e cumprir a promessa de campanha de instalar corredores de ônibus na mesma quilometragem anunciada agora. “Faixa não é corredor. O corredor tem de ter plataformas de embarque decentes, estrutura viária especial, fluxo rápido, coisa de primeiro mundo. O que ele [Kassab] quer é dizer que cumpriu as promessas, fechar bem o mandato”, conclui Nordi.

 

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