Moradores: armamentos usados pela GCM em favela de São Paulo são proibidos

Pelo menos seis pessoas foram feridas em confronto contra GCM. Balas de borracha e bombas de efeito moral não fazem parte do kit oficial de atuação dos guardas

O secretário municipal de Segurança Urbana afirma que vai apurar abusos na operação (Foto: Fabio Braga. Folhapress)

São Paulo – O clima na favela do Moinho, no centro da cidade de São Paulo, continua tenso hoje (21) depois dos conflitos entre moradores e guardas civis metropolitanos na noite de ontem. Cerca de 50 guardas permanecem no local, que na véspera foi palco de uma ação repressiva que deixou ao menos seis feridos.

Os integrantes da comunidade acusam os guardas civis de utilizarem armas proibidas durante a atuação, iniciada depois que ocorreu uma troca de hostilidades entre as partes. A Guarda Civil Metropolitana (GCM) atua na favela do Moinho para impedir que os moradores reconstruam seus barracos, destruídos por um incêndio ocorrido na última segunda-feira – o segundo de grandes proporções na comunidade desde dezembro e o 68º em favelas de São Paulo este ano. 

Iran Ferreira Pinto, de 46 anos, que havia sido hospitalizado após o episódio, já foi liberado. Ele foi atingido nas duas pernas por balas de borracha. Pelo menos outras cinco pessoas também foram atingidas e têm escoriações provocadas, segundo eles, por estilhaços de bombas de efeito moral. A GCM, no entanto, não tem autorização para usar esse tipo de equipamento. “Eu fiquei no meio da fumaça e quando saí senti uma queimação na perna, passei a mão e vi que tinha sangue. Depois senti a queimação na outra coxa e começou a sair muito sangue também”, conta Iran. 

A líder comunitária Alessandra Moja Cunha, de 28 anos, que exibe marcas na barriga e na coxa, conta que a confusão começou porque moradores da favela tentaram defender um rapaz que estava sendo agredido por seis guardas. “Eu cheguei para negociar com os guardas quando ele me empurrou, jogou gás nos meus pés e atirou na minha barriga praticamente a queima roupa. Daí os moradores correram para dentro da favela e eles vieram atrás de nós.”

“A guarda não tem equipamento de bala de borracha. Não tem bomba de efeito moral. Eu já mandei apurar isso. O que nós queremos é que quem viu diga com quem viu”, afirmou o secretário municipal de Segurança Urbana Edson Ortega. Segundo ele, a corregedoria da Polícia Civil revistou as viaturas dos guardas envolvidos na ação e não localizou vestígios do armamento ilegal. A presença de pessoas estranhas à GCM está sendo investigada. Alessandra, no entanto, garante que pode reconhecer o guarda que disparou contra ela. Os outros moradores não conseguiram visualizar os autores dos disparos, mas garantem que todos estavam com o uniforme azul da GCM. 

A Santa Casa de Misericórdia confirmou hoje que o ferimento de Iran foi motivado por uma bala de borracha. O jornal O Estado de S. Paulo publicou na edição de hoje que o hospital havia divulgado que o ferimento era de arma de fogo. Mas o uso de balas foi descartado e as armas dos guardas não foram vistoriadas.

Os moradores afetados pelo incêndio se improvisam entre a casa de parentes e um barracão que fica ao lado da comunidade, área que também havia sido utilizada quando o fogo consumiu parte da comunidade, em dezembro. Esta semana, advogados que atuam no caso questionaram a prefeitura sobre a demora na entrega de moradias às vítimas da primeira ocorrência. 

Em 2008, os moradores conseguiram uma decisão em primeira instância que garantia a propriedade pelo dispositivo do usucapião, que assegura este direito pelo tempo de permanência no local. A prefeitura e o governo do estado pretendem construir uma estação de metrô ou um parque. 

Assista a reportagem da TVT sobre o caso: