Paulistanos enfrentam dia de inquietação e traumas após acidente no Metrô

Reportagem acompanhou os passageiros que dependeram do meio de transporte no dia em que um acidente deixou dezenas de feridos e a circulação ficou interrompida por cinco horas

Passageiros enfrentaram demora dos trens do metrô e declararam ter perdido a confiança no transporte (Foto: Christian Tragni/Folhapress)

São Paulo – Os paulistanos que recorreram hoje (16) ao transporte pela Linha 3 – Vermelha do Metrô precisaram ser pacientes após a colisão entre dois trens próximo à estação Carrão, na zona leste da cidade. Durante as cinco horas em que a linha teve sua circulação interrompida entre as estações Carrão e Corinthians-Itaquera, a velocidade foi reduzida e o tempo de espera nos terminais chegava a quinze minutos. As Linhas 1 (Azul) e 2 (Verde) também foram afetadas neste período. A circulação começou a ser normalizada somente por volta das 14h30, quando as catracas da estação Carrão foram liberadas.

A reportagem fez o trajeto na Linha Vermelha sentido Corinthians-Itaquera ao meio-dia. Na espera entre uma estação e outra os passageiros se inquietavam com a demora da partida do trem. Os poucos que não sabiam do ocorrido procuravam informação uns com os outros. “Imagina essa espera toda em pleno horário de pico”, disse a enfermeira Cristiane Lopes, de 31 anos, checando o relógio. À medida que a espera se prolongava, algumas pessoas desistiam de seguir viagem.

A caminho de um exame, o aposentado Manuel Carvalho Silva, de 63 anos, teve de avisar pelo celular que chegaria atrasado ao laboratório em razão do contratempo. “Só peguei esse metrô hoje porque não me restaram alternativas. Se eu pudesse, ficava em casa”, lamentou. “Isso aqui é um completo desrespeito com o cidadão, que ainda paga pelo serviço. Deveríamos é pegar nosso dinheiro de volta”, disse Manuel, que, além do Metrô, dependia também de ônibus para chegar ao seu destino.

A assistente social Alessandra Oliveira chegou meia hora atrasada em uma entrevista de emprego por conta da velocidade reduzida dos trens. “A gente não está seguro. Pensávamos que sim, mas não dá mais para confiar”, disse. Alessandra já enfrentou outras panes no metrô e teme que, no futuro, as empresas vão começar a discriminar para contratação de quem mora mais longe e depende do transporte público.

Cleonice, cozinheira de 34 anos (que preferiu não dizer o sobrenome), declarou sofrer de fobia de lugares fechados, uma vez que já teve crise de pânico em uma das longas paradas do metrô. “Depois de hoje, estou com muito medo de andar por aqui”, disse. No entanto, segundo ela, não há como desistir: tem de enfrentar um trajeto diário de 1 hora e meia de Carapicuíba, cidade da região metropolitana, para seu trabalho na avenida Paulista.

Na estação Carrão, as pessoas que chegavam para embarcar deparavam-se com as grades de acesso às catracas e eram obrigadas a voltar e adotar uma alternativa. As bilheterias também permaneceram fechadas durante a interdição. Quatro seguranças do metrô orientavam os desavisados, que não se conformavam com a viagem perdida.

Lata Velha

No Hospital Tatuapé, na zona leste da capital – para onde os ao menos 47 feridos, de acordo com o Corpo de Bombeiros, foram levados –, algumas das vítimas mostraram trauma por conta do acidente. À reportagem, o autônomo de 54 anos de idade José Pinheiro Oliveira contou o que vivenciou no vagão no momento do ocorrido. “O trem estava devagar, mas se estivesse mais rápido poderia ter sido pior. Eu estava sentado e várias pessoas caíram em cima de mim. Machuquei as duas pernas. Não vou pegar esse metro nem amanhã, nem nunca mais. Essa lata velha”, disse.

Fabricio Santos, analista de crédito de 26 anos de idade, estava com o supercílio cortado por causa do impacto da freada do trem. “Eu vim de Artur Alvim em velocidade reduzida, aí teve um freada brusca. Eu fiquei zonzo e não entendi o que estava acontecendo, mas vi todo mundo ensanguentado. Meus óculos quebraram. Todo mundo saiu pelas janelas, uns ajudando aos outros”, relatou.

O presidente do Metrô, Peter Walker, declarou que a causa mais provável do acidente foi uma falha mecânica. Segundo o Sindicato dos Metroviários de São Paulo, houve negligência por parte da empresa para a manutenção e modernização do sistema que impede a proximidade entre as composições, chamada de ATC. Os trens foram recolhidos para perícia, e o laudo da Polícia Civil sobre o caso deve sair em 30 dias.