SP: pane na linha 4 coloca em xeque eficiência da iniciativa privada no metrô

Para diretor do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, lucro não pode mover operações do metrô

Estação Pinheiros, que liga as linhas 4 do metrô à 9, da CPTM, foi uma das que sofreu com a pane da manhã desta segunda (Foto: Ciete Silvério/Divulgação governo de SP)

São Paulo – Uma falha técnica na linha 4-Amarela do metrô manteve as seis estações do trecho Butantã-Luz fechadas por quatro horas nesta segunda-feira (3), na capital paulista. Apenas às 8h20 a linha, administrada pela concessionária ViaQuatro, voltou a operar.  Com a pane, cerca de 75 mil passageiros deixaram de ser transportados, de acordo com o Metrô. A SPTrans acionou o Paese (Plano de Apoio entre Empresas em Situação de Emergência) para atender à população até as 8h30.O atraso teria ocorrido devido a problemas no sistema de sinalização e gerenciamento das composições, chamado de CBTC (Controle do Trem Baseado em Comunicações, na sigla traduzida do inglês). 

A linha 4 é a única do sistema ferroviário de São Paulo que funciona com a tecnologia driverless, que permite a operação sem maquinista. “Apesar de ser símbolo de modernidade, esse tipo de operação mostra-se ineficiente diante de problemas técnicos, como os que ocorreram nesta segunda”, desabafou o presidente da Federação Nacional dos Metroviários, Paulo Pazin, secretário-geral do Sindicato dos Metroviários de São Paulo.

Atrás de México, Santigo e Buenos Aires

O metrô paulistano é tido como um dos mais modernos do mundo, mas o serviço poderia ser muito melhor se não fosse a lentidão com o que o governo do Estado investe no sistema, que começou a operar nos anos 1970 e possui 70 quilômetros de extensão divididos em cinco linhas. A média diária de passageiros é de 3,4 milhões, sendo que a cidade tem quase 12 milhões de habitantes e é o centro de uma Região Metropolitana com 20 milhões de pessoas.

A Cidade do México, centro de um conglomerado urbano com o mesmo número de habitantes, começou seu sistema metroviário na mesma época que o de São Paulo e já chegou a 202 quilômetros em suas 11 linhas.

A Grande Santiago, no entorno na capital do Chile, também inaugurou sua primeira linha em meados dos anos 1970. Com 6,6 milhões de habitantes, a cidade é servida por 105 quilômetros e cinco linhas de metrô, e deve chegar a 120 quilômetros em 2014.

Buenos Aires, na Argentina, começou a construir suas linhas subterrâneas no início do século 20. Hoje conta com 56 quilômetros em seis linhas, para uma população de 3 milhões de pessoas.

Segundo o dirigente sindical, as demais linhas do metrô –  administradas pela Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô) – operam manualmente quando há panes no sistema de sinalização porque contam com maquinistas nos trens. “Na linha 4 não há alternativas, porque não há funcionários nessa função. A empresa e os usuários são reféns do sistema automatizado”, acusou Pazin. Ele disse que, embora haja lentidão, a operação manual garante a continuidade da prestação de serviços à população, o que não ocorre na linha automatizada.

De acordo com o sindicalista, a pane na primeira semana de funcionamento da linha 4 em período integral acaba com o mito de que a iniciativa privada é mais eficiente do que a empresa pública para construir e operar o metrô. “Houve o acidente na construção da estação Pinheiros (também de responsabilidade da ViaQuatro), algo que nunca vimos em 30 anos de construções do metrô, e agora essa pane de fechar estações”, observou

Durante a falha técnica desta segunda também faltaram informações aos usuários e satisfação à população. Usuários da linha 4 denunciaram o problema pelo sistema de mensagens do Metrô. “A CCR, proprietária da ViaQuatro, esconde informações do Metrô. A CCR não tem estratégia em conjunto, embora o Metrô cobre e ela devesse ter”, acusa Pazin.

Pazin disse que o problema já era esperado e que panes desse tipo serão recorrentes neste trecho, o único administrado por concessionária, por se tratar da primeira experiência da empresa em operação de trens. “As demais linhas do Metrô transportam um Uruguai (4 milhões de pessoas) por dia com eficiência. A linha 4, mal ficou mais cheia e já começou a dar problema”, apontou. Outro problema, segundo ele, está relacionado aos testes do sistema de sinalização CBTC. “É uma espécie de GPS com múltiplas funções e os testes do sistema são feitos com usuários dentro dos vagões”, lamenta.

As seis estações da linha Amarela funcionam com número mínimo de trabalhadores, de acordo com Pazin. “As empresas focam no lucro e os funcionários, em menor número, recebem menos treinamento.” Pazin afirma que os trabalhadores exercem múltiplas funções e não têm condições de se especializar. “Em qualquer ocorrência é preciso ter reação rápida, mas sem preparação e especialização fica difícil os trabalhadores responderem como o trabalho exige”, aponta.

O presidente dos Metroviários de São Paulo, Altino de Melo Prazeres Junior, adiantou a preocupação com o sistema, à reportagem, em matéria publicada no dia 22 de agosto. “Nos testes na linha 2, o CBTC apresentou problemas”, dizia. O novo sistema permite aproximação maior entre os trens e redução dos intervalos. Mas se não estiver funcionando adequadamente aumenta a probabilidade de acidentes. Para o sindicalista, o número de testes ainda é insuficiente para garantir a segurança do sistema. “No metrô qualquer falha, por menor que seja, causa tumulto.”

 

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