Rio: moradores de Ipanema protestam contra metrô no bairro

São Paulo – Cerca de 200 moradores de Ipanema, área nobre do Rio de Janeiro, protestaram no sábado (22) contra a construção de uma estação de metrô na praça Nossa […]

São Paulo – Cerca de 200 moradores de Ipanema, área nobre do Rio de Janeiro, protestaram no sábado (22) contra a construção de uma estação de metrô na praça Nossa Senhora da Paz. O ato foi marcado por um abraço coletivo em torno do monumento senador Pinheiro Machado e foi organizado pela associação Projeto de Segurança Ipanema (PSI).  De acordo com governo do estado, a estação será construída sem a descaracterização da praça e é necessária a milhares de usuários da capital fluminense.

De acordo com os moradores, a construção de uma estação de metrô “acumula muitos aspectos desfavoráveis”, como a derrubada de árvores centenárias e o fim das atividades de lazer no local, principalmente para os idosos. Os integrantes do PSI também dizem que Ipanema não precisaria de mais uma estação de metrô porque já conta com uma na praça General Osório, da Linha 1, e uma outra a ser construída no Jardim de Alah (projeto da Linha 4), que também servirá a moradores do Leblon.

Membros da Associação de Moradores e Amigos de Copacabana também participaram do protesto. De acordo com o vice-presidente da Amacopa, Tony Teixeira, a estética do bairro sofreria graves alterações nos próximos anos, o que resultaria em prejuízos para a atividade turística.

Em nota, a Secretaria Estadual de Transportes afirmou que a “a estação Nossa Senhora da Paz será construída sem a descaracterização da praça”. Segundo o governo estadual, “a opinião de algumas poucas pessoas sobre uma obra que beneficiará milhares de usuários diariamente não representa a vontade da população do Rio de Janeiro”.

Gente diferenciada

Para a jornalista Thalita Pires, do blogue Desafios Urbanos, da Rede Brasil Atual, esse tipo de argumento lembra a resistência dos moradores de Higienópolis, em São Paulo, à construção de uma estação de metrô no bairro. O lobby dos moradores com o governo do estado levou à organização do Churrascão da Gente Diferenciada, protesto bem-humorado que conseguiu chamar grande atenção sobre o tema.

“A distância de uma Via Dutra entre as cidade não impede que os argumentos dos moradores dos dois bairros sejam muito semelhantes. Com um verniz sofisticado, os descontentes demonstram um medo exacerbado de que “suas” vizinhanças sejam invadidas por pessoas que não estavam lá antes, e que não são bem-vindas”, analisa a especialista.

Thalita acrescenta que, no caso de Ipanema, o incômodo para os moradores é o fato da praia de Ipanema ter ganhado muitos visitantes da Zona Norte do Rio quando a estação Ipanema/General Osório, na divisa do bairro com Copacabana, foi inaugurada, em 2009.

“A questão mais importante levantada pelo grupo opositor á estação é a da segurança pública. É interessante como o medo do diferente está entranhado na mente dos moradores de bairros ricos. A presença do metrô não tem nenhum motivo para atrair um fluxo muito maior de pessoas do que as que já passam por Ipanema. O bairro é um corredor de tráfego importante, por onde passam dezenas de linhas de ônibus. Na realidade, é possível que o número de ônibus diminua, melhorando ainda mais a qualidade de vida do local. Um menor número de ônibus significa menos ruído e menos poluição. Além disso, quem trabalha na região terá a locomoção facilitada, provavelmente ganhando um tempo que hoje é gasto no trânsito. É um cenário em que todos ganham”, avalia a jornalista em seu post “No Rio de Janeiro, o horror à gente diferenciada volta a atacar”.