Em clima de revolta, moradores descartam deixar conjunto habitacional Cingapura em São Paulo

Desocupação pedida pelo Ministério Público Estadual foi determinada pelo Tribunal de Justiça devido ao risco de explosão

Mais de 2.700 moradores vivem no Cingapura Zaki Narchi, em que a Justiça determinou remoções (Foto: Paulo Pepe)

São Paulo – Moradores do conjunto habitacional Cingapura Zaki Narchi, na zona norte da capital paulista, foram surpreendidos nesta segunda-feira (10) com a notícia de interdição das moradias devido ao perigo de explosão decorrente de vazamento de gás metano, e negam-se a deixar o local. 

A pedido do Ministério Público Estadual, o Tribunal de Justiça de São Paulo determinou a interdição do local e a remoção de 2.700 moradores na sexta-feira (7), mas a decisão só foi divulgada nesta segunda (10). A Prefeitura tem cinco dias para a retirada das pessoas, mas já protocolou pedido de reconsideração da decisão da 10ª Vara da Fazenda Pública da capital.

Os moradores ouvidos pela Rede Brasil Atual veem a recente preocupação com a área com ares de interesse imobiliário e discriminação. “Esse é um jogo político de grandes grupos para mexer com as moradias”, aponta Medeiros. “Há anos, ouvimos falar que o Center Norte e o Novotel não querem comunidades simples por perto, porque pega mal, é feio”, aponta a moradora Valéria Braga. “Estamos muito nervosos, é uma bomba”, descreve.

Segundo lideranças do Cingapura, as medições de gás metano realizadas diariamente em 420 pontos do conjunto habitacional, há dois anos, não apontam perigo de incêndio ou explosão. “A polícia já jogou bombas aqui dentro no passado e nada aconteceu”, recorda o morador José Tavares de Medeiros Filho.

Incomodados com o assédio da imprensa, parte dos moradores evita falar até que a Prefeitura se manifeste sobre a retirada de moradores. “Pode ter certeza que ninguém quer sair”, diz uma moradora que não quis se identificar.

“Se tiver problema, a Prefeitura tem de colocar drenos. E não tirar a gente daqui”, aponta outro morador que pediu para manter seu nome em sigilo. “Não é assim, não vão jogar todo mundo num cafundó. Ninguém é cachorro”, criticou.

No início da noite, os moradores tomaram por alguns minutos duas vias da avenida Zaki Narchi em protesto contra a decisão judicial.

Segurança

Medições de metano

Sem garantias da Prefeitura, os moradores recorreram nesta tarde à Defensoria Pública do Estado, pedindo providências para suspensão da liminar do TJ-SP. “Acompanhamos cada poço, cada medição. Estamos tranquilos porque não há gás metano nos apartamentos térreos, na área da creche, nas caixas de inspeção, nem rachaduras no prédio”, afirma Cleonice Maria Nascimento, da Associação Vida Melhor. 

Antes das polêmicas que tiveram início com a divulgação de possível risco de explosão no Shopping Center Norte, que acabou interditado pela Prefeitura de São Paulo por dois dias, na semana passada, os moradores afirmam que sempre viveram com tranquilidade na área. “A gente sempre soube das medições e acompanha dia a dia”, reitera Ana Maria.

Medeiros atribui à falta de informação de alguns moradores, a ideia de que em alguns momentos há odor de gás na região. “O que se sente é o cheiro de esgoto porque as caixas são próximas, são superficiais e precisam de tampão, o que nem todo mundo usa.”

Durante a reportagem, a empresa responsável pelo controle do gás metano no subsolo e na superfície do conjunto habitacional realizaram duas medições que não indicaram risco. Há 12 pontos de coleta de amostras em cada um dos 35 prédios do Cingapura.

Valas

Desde 2009, a Prefeitura monitora o local a pedido do Ministério Público, devido à proximidade com o aterro Carandiru, também na zona norte. Embora a área não faça parte do antigo local de despejo de lixo, na década de 1940, a região era composta por valas de exploração mineral que foi aterrada com entulho e resíduos sólidos urbanos. Mais tarde, as cavidades deram lugar a construções como o conjunto habitacional, o shopping Center Norte, o Novotel e outras empresas que atuam na área.

O Cingapura está na borda do local, enquanto o shopping estaria no centro das valas, informou a assessoria da Secretaria Municipal de Habitação.

A poucos metros do Cingapura acabou de ser construído um centro de reabilitação da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD), da Prefeitura de São Paulo e do governo do Estado de São Paulo.

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