Kassab pede respeito a pedestres, mas não oferece faixas em plena Praça da Sé

Apesar de campanha da prefeitura para melhorar segurança das vias, semáforos estão há um mês sem sinalização adequada

Faz o que tu queres: na falta de faixas, cada um pode parar onde bem entender, mas a CET continua multando (Fotos: © Gerardo Lazzari. Rede Brasil Atual)

São Paulo – Enquanto a prefeitura de São Paulo aposta no Programa de Proteção ao Pedestre como uma de suas bandeiras, a administração de Gilberto Kassab (ex-DEM, a caminho do PSD) tropeça em um aspecto básico para o êxito da campanha iniciada no fim do primeiro semestre. Ao redor da Praça da Sé, o marco-zero da maior cidade do país, faltam faixas de pedestres em sete semáforos.

“Tem pedestres que são muito bons, que me ajudam, mas guarda não tem nunca”, relata Maria da Penha, de 79 anos, que se vira como pode para cruzar a rua utilizando uma faixa que existe apenas na imaginação de pedestres e motoristas. Ela fraturou o fêmur em dezembro do ano passado e só voltou a caminhar, com a ajuda de um andador, há três meses.

Todos os dias, passa no local a caminho da fisioterapia, e já se cansou de ver a Praça da Sé sem a pintura que sinaliza o ponto para cruzar a rua. A travessia dela, que já seria lenta, se torna ainda mais penosa pela necessidade de parar a cada instante para fazer um sinal aos motoristas pedindo que aguardem um pouco mais. 

Os faróis desprovidos de faixa estão concentrados entre as praças da Sé e João Mendes e o Largo Sete de Setembro. Não há pintura no chão também entre um cruzamento da Sé com a praça Clóvis Bevilácqua. São pontos que estão a menos de 900 metros, a pé, do gabinete do prefeito, de onde Gilberto Kassab costuma chegar e partir utilizando um helicóptero. Segundo comerciantes locais, o problema já dura um mês em alguns sinais, e atingiu outros há duas semanas.

O recapeamento das vias foi o motivo para o início das “faixas imaginárias”. Depois disso, equipes da Companhia de Engenharia de Trânsito (CET) deveriam ter feito a nova sinalização, o que ainda não ocorreu. Procurada, a assessoria de comunicação da CET não prestou informações até às 18h40 desta sexta-feira.

Maria da Penha, perto dos oitenta, conta com a ajuda ocasional de pedestres para atravessar

“Respeita o pedestre, meu senhor”, grita uma jovem, irritada com o motorista que parou no meio da faixa de segurança. Sem sinalização, a localização exata do local próprio para a travessia depende da avaliação de cada um. Como cada cabeça funciona de um jeito, varia a altura exata em que pedestres e motoristas “decidem” que ela deveria estar. E não é raro que surjam conflitos, com taxistas perdendo a paciência ao se darem conta de que pararam sobre o local de cruzamento.

Os 40 anos de praça de José Silva não o livram de errar. Ele conta que já foi multado uma vez pela CET e, desta vez, só não levou mais uma punição porque não havia fiscais no local – por sinal, não foi visto qualquer funcionário durante toda a tarde em qualquer dos semáforos nas proximidades da Praça da Sé. Se houvesse, o motorista de táxi poderia escolher entre ficar parado e tomar cinco pontos na carteira de habilitação mais uma multa de R$ 127,69, ou furar o farol vermelho, levar sete pontos e R$ 191,54. “Fiquei perdido. Quando o farol fecha, a gente não sabe onde parar. E mesmo assim, eles multam”, acusa.

Luis Henrique, que trabalha como segurança em uma livraria na Sé, conta que os fiscais ficam na região apenas durante a manhã. Depois a situação fica complicada. “É batida direto. Terça-feira teve três, uma atrás da outra. E os motoristas param de qualquer jeito, os pedestres têm que ficar desviando. É isso aí o tempo todo.”

Campanha

A falta de faixas em pleno centro de São Paulo chama ainda mais atenção porque esta foi a região escolhida pela prefeitura para jogar todos os holofotes da campanha Travessia Segura, que tenta conscientizar os motoristas sobre a importância de se respeitar a faixa de pedestre. “A prefeitura vai se esforçar bastante para que tenhamos um programa que sirva de referência e exemplo para todas as grandes cidades do Brasil e do mundo”, afirmou o prefeito Gilberto Kassab durante o lançamento do projeto, em maio deste ano.

As faixas "imaginárias" atrapalham a vida de pedestres e de motoristas, provocando acidentes e atritos

Segundo a administração municipal, a cidade registrou 7.007 acidentes entre automóveis e pedestres no ano passado, o que resultou na morte de 630 pessoas – 43% do total de mortos no trânsito de São Paulo. Dos transeuntes que morreram, 83% estavam atravessando ruas, 10% estavam parados e 7% estavam sobre calçadas. Vanessa Almeida, de 30 anos, trabalha há três semanas no centro da cidade. Na dúvida sobre onde atravessar uma rua, segue a massa. “Nem sabia que devia haver faixa de pedestres aqui. Vi uma muvuca e fui junto.”

Em junho, a administração Kassab anunciou a contratação de 1.040 orientadores de pedestres. São funcionários que seguram uma placa que indica aos motoristas o momento de cruzar a rua. A previsão inicial era de que fossem selecionados até 11 de julho, passando por treinamento em seguida para começar a atuar já no dia 18. A expectativa da administração municipal é começar a aplicar em 8 de agosto a multa de R$ 191,54 prevista pelo Código de Trânsito, que é de 1998.

Confira no endereço abaixo, uma série de fotos da falta da faixa de pedestre no centro de São Paulo:
http://www.flickr.com/photos/redebrasilatual/sets/72157627311188908/

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