Restrição a sacolas plásticas exige novos hábitos de consumo

Site do Instituto Akatu tem sugestões para substituir sacolas plásticas (Foto: Divulgação) São Paulo – As iniciativas de restrição ou proibição do uso de sacolas plásticas no comércio devem reduzir […]

Site do Instituto Akatu tem sugestões para substituir sacolas plásticas (Foto: Divulgação)

São Paulo – As iniciativas de restrição ou proibição do uso de sacolas plásticas no comércio devem reduzir o descarte de plástico no meio ambiente e aumentar o reaproveitamento de materiais, analisa Estanislau Maria de Freitas Junior, coordenador de conteúdo do Instituto Akatu, organização sem fins lucrativos voltada à educação para o consumo consciente. Entre inúmeros benefícios de medidas desse tipo, ele acredita que as restrições às sacolinhas vão impulsionar a separação de materiais que antes iriam parar no lixo e mudar os padrões de vida e consumo.

“O padrão mundial e brasileiro de consumo são insustentáveis”, afirma. “Na falta de sacolas (gratuitas) para colocar o lixo doméstico, as pessoas vão procurar separar mais seus materiais.” Como exemplo, o especialista cita as garrafas pets que aumentam o volume do lixo e se jogadas no lixo doméstico vão exigir mais gastos na compra de sacos de lixo. Sem falar nos danos ambientais.

No lugar de sacolas plásticas de uma única utilização, devem entrar em cena outras mais resistentes e retornáveis como as ecobags ou mesmo de plástico durável. “Nossos pais não usavam”, provoca.

Parcimônia

A principal sugestão do Instituto Akatu para lidar com a restrição às sacolas plásticas é comprar com parcimônia. “Menos produtos, menos embalagens, menos lixo”.  Além do cuidado com o tipo de embalagem, é preciso repensar o conteúdo das sacolas. “Temos de consumir menos e melhor”, alerta o ativista. “Isso vai pressionar menos a produção de novos bens e serviços.”

O efeito das mudanças de hábito de consumo vai impactar positivamente o meio ambiente e a economia. “Vão sobrar recursos para outros investimentos como lazer e cultura”, propõe.

Ainda do ponto de vista econômico, o recolhimento de lixo é “uma atividade cara” para os municípios. “Em São Paulo foram R$ 1,2 bilhão para os cofres públicos jogados no lixo, no ano passado”, diz Freitas.

Ele ainda lista problemas causados pelo plástico como 400 anos para a decomposição, entupimento de bueiros, poluição de rios e mares e envenenamento de aves e peixes. “Com a distribuição gratuita o consumo se tornou inconsciente, reproduzindo o consumo diário”, compara. “O pior dos mundos é encontrar plástico dentro de plástico, como muitas vezes ocorre com um saco plástico dentro do outro.”

Lista espartana

A segunda sugestão é evitar compras grandes. “Vá mais vezes ao supermercado”, aconselha. E faça uma lista de compras programada e “espartana” para evitar itens desnecessários. De acordo com uma pesquisa do instituto de 2009, um terço dos alimentos perecíveis vão para o lixo. “Os supermercados são uma festa de cheiros e sabores. É justo e legítimo para o dono, mas é mais fácil nos rendermos.”

“O pior dos mundos é encontrar plástico dentro de plástico, como muitas vezes ocorre com um saco plástico dentro do outro”, critica especialista do Instituto Acatu.

Utilizar sacos ou sacolas de papel no lugar das sacolinhas proibidas ou restritas não é a melhor opção, diz Freitas. Mas o papel é “menos pior”. “Pelo menos ele desfaz em seis meses”, contemporiza. Independentemente das sacolas serem de papel ou plástico, é preciso descartar corretamente. “O melhor é se livrar da embalagem na loja”, analisa o coordenador do Akatu.

Lixo doméstico

Para resolver o problema da utilização de sacolas plásticas para acondicionar lixo doméstico,  Freitas sugere a substituição por jornais devidamente dobrados.

Outra sugestão é manter um cesto maior com saco preto de lixo para reunir os resíduos de toda a casa e descartar definitivamente. “Você pode tirar diversos saquinhos feitos de jornal”, opina. “Mas só pode colocar o lixo nas ruas duas horas antes do caminhão e no dia adequado.”

Onde já existe legislação

Em Jundiaí (distante 60 quilômetros da capital paulista), um acordo entre a Prefeitura e a Associação Paulista de Supermercados (Apas) substituiu, em agosto de 2010, as sacolinhas plásticas tradicionais por outras produzidas com resina baseada em amido de milho. Nesse formato, as sacolas se decomporiam em 90 dias.

A Prefeitura da cidade estima ter reduzido em 95% a distribuição das sacolas plásticas nos supermercados desde o início da campanha “Vamos tirar o planeta do sufoco”. Antes, Jundiaí consumia 22 milhões de sacolas por mês.

A exemplo de Jundiaí, Belo Horizonte (MG) adotou restrições às sacolas plásticas em abril deste ano. Os consumidores só podem comprar as sacolas biodegradáveis, que causam menos danos ao meio ambiente, mas são mais caras do que as de plástico.  A medida vale para farmácias, supermercados, lojas e padarias.

Na capital paulista, a medida é mais rigorosa. Proíbe a distribuição e venda de sacolas plásticas em estabelecimentos comerciais, inclusive as chamadas biodegradáveis. A medida entra em vigor em 1º de janeiro de 2010.