Vereadores são agredidos; acorrentados deixam a prefeitura de São Paulo

Prefeitura de São Paulo descartou negociação da tarifa de ônibus com ativistas; PM dispersou ato com gás de pimenta e balas de borracha

Vereadores Donato e Zé Américo são agredidos em frente à prefeitura (Foto: Nelson Antoine / Fotoarena/Folhapress)

São Paulo – Após um dia de protestos e muita confusão, terminou por volta das 23h30 desta quinta-feira (17) a manifestação em que seis jovens estudantes, militantes do movimento que luta contra o aumento da tarifa de ônibus urbano,  ficaram acorrentados a catracas no interior da prefeitura de São Paulo. Eles só saíram do prédio após negociação de vereadores, em um clima tenso. Ativistas e populares pedem a revisão do aumento da tarifa. Esta foi a sexta semana consecutiva de manifestações contra o aumento de 11,11% nas passagens da capital paulista, de R$ 2,70 para R$ 3,00.

“Ficamos lá dentro o tempo todo até eles saírem bem. Eles (policiais e representantes da prefeitura) estavam tensionando, queriam que os estudantes fizessem algo de errado. Por isso, o tempo todo, quebravam o acordo que tinham feito no momento anterior”, disse a vereadora Juliana Cardoso (PT), que foi agredida do lado de fora, à tarde.

Acorrentados

O protesto começou ao meio-dia, depois de sucessivas tentativas de reuniões frustradas com a Prefeitura e de um encontro informal em que o secretário adjunto de Transportes, Pedro Luiz de Brito Machado, afirmou que a decisão de aumentar a tarifa é política e não técnica. O prédio foi fechado ao público pela Guarda Civil Metropolitana.

No final da tarde, houve confronto entre a PM e os cerca de 500 manifestantes que estavam do lado de fora da sede da administração municipal. A manifestação tomou conta do Viaduto do Chá e da Praça do Patriarca, no centro.

A Polícia Militar (PM) passou a usar a força e jogou bomba de gás lacrimogêneo nos ativistas. O vereador Antonio Donato (PT) disse, via Twitter, que ele e seus companheiros José Américo e Juliana (ambos do PT) foram agredidos “por policiais sem identificação”. Ele prometeu mover representação contra o comandante da tropa de choque, Amarildo Garcia.

A vereadora Juliana passou mal após uma bomba de gás lacrimogêneo ter estourado próximo a ela. “Tive que ser carregada. É um absurdo, foi uma agressão gratuita, a manifestação estava pacífica”, relatou.

O vereador José Américo acusou o governo estadual pela ação truculenta da PM. “Eu duvido que a PM tenha agido desta forma sem um aval do governador (de São Paulo, Geraldo Alckmin)”, acusou.

De acordo com CartaCapital, um estudante foi preso. “Vinícius Figueira foi algemado e sangrava muito quando foi levado pelos policiais”, relatou o Twitter da revista. “Quando os tiros de borracha começaram, o vereador José Américo entrou no fogo cruzado para tentar negociar uma trégua, mas foi contido por borrifadas de sprays de pimenta”, diz CartaCapital.

Segundo amigos do estudante, ele quebrou o nariz e será operado pela manhã. O jovem também apresenta escoriações em todo o corpo e passa por exames para verificar possíveis fraturas na coluna. Outros feridos estariam se reunindo para prestar queixa da violência.

 Na reunião com a prefeitura

Durante a tarde, antes de se instalar o conflito, os manifestantes, acompanhados dos vereadores Juliana e Donato, foram recebidos pelo secretário de Relações Governamentais, Antonio Carlos Maluf, na sede da prefeitura, mas teriam ouvido dele que não haverá negociação. “Surgiu a possibilidade de uma mesa de negociação, mas o secretário se retirou da reunião e, ao voltar, disse que o diálogo está fechado”, informou Donato.

Com a negativa do Executivo, o parlamentar teme que a situação fuja do controle. “É preciso manter a cabeça fria”, alertou. Donato critica a postura do poder público: “A prefeitura não ajuda a ter um processo tranquilo de diálogo”.

Segundo Nina Cappello, ativista do MPL, os quatro homens e duas mulheres permaneceriam acorrentados no interior da prefeitura até que o órgão decida negociar.

Crítica

Em nota,  o prefeito Gilberto Kassab (DEM) disse não entender e não aceitar a violência usada pelos manifestantes que protestam contra a tarifa do transporte público, uma vez que a prefeitura sempre manteve os canais abertos de diálogo com a sociedade.
 
“Não há, portanto, razões que justifiquem os atos extremados da manifestação em frente à Prefeitura de São Paulo, que se mantém aberta ao diálogo e espera que isso aconteça em um clima de mais civilidade”, disse o prefeito.

Colaboraram Suzana Vier e Ricardo Negrão