Repentistas pedem coerência a prefeito de SP: ‘seja muito competente: não coloque a polícia para correr atrás da gente’

Repentistas pedem ao prefeito para autorizar apresentações que recebam contribuições do público (Foto: Suzana Vier/RBA) São Paulo – As trovas de Pena Branca, Galdino de Atalaia e Ivan Embolador arrancam […]

Repentistas pedem ao prefeito para autorizar apresentações que recebam contribuições do público (Foto: Suzana Vier/RBA)

São Paulo – As trovas de Pena Branca, Galdino de Atalaia e Ivan Embolador arrancam risos de quem passa ou para na roda de repente. O sol quente do meio-dia não intimida ninguém, nem cantores, nem público, no burburinho da confluência entre a Rua 15 de Novembro e a ladeira General Carneiro, no coração do Centro Velho paulistano.

Os três são mestres do improviso. Mas o ofício anda prejudicado nos últimos meses, contam à Rede Brasil Atual.  “Querem tirar a gente (da rua) como (se fôssemos) camelôs. Somos músicos profissionais, associados à Sociedade Independente de Compositores e Autores Musicais”, antecipam.

“Primeiro eram fiscais, depois liberaram e a cultura não podia ser interrompida. Agora, o prefeito (Gilberto Kassab) coloca policiais para impedir a gente e pegar nossos materiais”, relatam. “Nosso CD é nosso mesmo. Temos CDs e DVDs gravados”, dizem.

Para demonstrar a seriedade do trabalho, os artistas mostram a carteirinha da Sociedade Independente de Compositores e Autores Musicais (Sicam). Por meio da associação, eles contribuem e têm direito a receber direitos autorais pelos materiais gravados.

“Nós viajamos o Brasil inteiro e não temos problemas, mas aqui estão empatando o nosso trabalho e se cismar nos levam presos”, adianta Galdino. “Então, nós não podemos debater com autoridade. Eu sei que são mandados, mas é uma falta de respeito à cultura”, critica.

  • Repente – conhecido também como desafio – é uma tradição folclórica brasileira cuja origem remonta aos trovadores medievais. Especialmente forte no nordeste brasileiro, é uma mescla entre poesia e música na qual predomina o improviso – a criação de versos “de repente

Das apresentações na rua, cada um deles garante o sustento da família e visibilidade para conquistar futuras apresentações. “É daqui que vem o convite para o programa de televisão. Tenho mais de 30 anos, mas a cada dia que passa vai fechando o cerco contra a gente”, lamenta.

Os músicos não se incomodariam em pagar uma taxa para trabalhar. Mas, correr da polícia depois de décadas de trabalho artístico, incomoda muito. “Nós pagaríamos não queremos nada de graça”. “É uma política discriminatória, discriminação da cultura popular brasileira”, define. 

Repente para Kassab

A angústia dos artistas, ao verem seu trabalho prejudicado na capital paulista, rendeu até um repente em que pedem ao prefeito Gilberto Kassab (DEM) apoio à cultura e o fim do que eles consideram ‘perseguição da prefeitura’, por meio da Polícia Militar. 

“A gente pede ao prefeito um apoio à nossa cultura
que apoie o repentista com tanta desenvoltura
porque a gente não canta por conta da prefeitura
nós estamos cantando na rua
ninguém deixa trabalhar
a polícia pega o DVD e tira logo do ar
e a nossa sobrevivência a gente não pode ganhar
prefeito vou lhe avisar
quero dizer certamente: libere a nossa cultura, seja muito competente.
não coloque a polícia para correr atrás da gente
o nosso CD a gente vende pro povo, é canção
nós precisamos trabalhar e de ganhar o pão
divulgar a cultura com o pandeiro na mão
prefeito, olhe com atenção, quero dizer temos o apoio do presidente
essa lei foi bem feita e pelo povo é aceita e não é você que vai empatar
o que eu tenho pra lhe falar canta eu canta você
nós vendemos nosso trabalho, divulgando DVD
por favor Kassab, deixa os poetas sobreviverem
prefeito eu vou lhe dizer escute o cantador
apoia a nossa cultura que ganhamos do criador
nós somos trabalhadores, precisamos da profissão
nós divulgamos nosso trabalho pelo sul, norte e sertão
e aqui nesse São Paulo a gente precisar ganhar o pão
a gente ganha o pão, você tem que acreditar
bato pandeiro na rua,  todo dia venho cantar
e ganho o pão de cada dia que é melhor do que roubar
Graças a Deus”.

(Pena Branca e Galdino de Atalaia, exclusivo para a Rede Brasil Atual)

Outro lado

De acordo com a assessoria de imprensa da Subprefeitura da Sé, órgão da prefeitura responsável pela administração da área central da cidade, desde maio deste ano, artistas de rua estão proibidos de vender CDs ou DVDs, mesmo que sejam de seu próprio trabalho, ou fazer apresentações com aparelhagem de som, em praças ou ruas da capital paulista. A mesma proibição vale para artistas que recebem doações do público.

“A venda de Cds na via pública caracteriza comércio ambulante. A emissão de Termo de Permissão de Uso para esta atividade está suspensa em toda a cidade desde maio desse ano, por uma Portaria do Secretário Municipal de Coordenação das Subprefeituras”, apontou a subprefeitura em nota.

A prefeitura justifica que a simples apresentação de artistas na via pública não requer autorização. “Uma vez que a manifestação artística é garantida pela Constituição Federal”. Mas, os artistas discordam, afirmando que dependem das doações recebidas nas ruas e da venda de suas próprias produções.

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