Depois de um ano de inundações, bairro de Itaquaquecetuba continua vulnerável

Única promessa feita pela prefeitura do município paulista é que 74 famílias que ocupam área considerada de proteção ambiental serão removidas

Inundações: campo de futebol se transformou em lagoa em Itaquá (SP) (Foto: Suzana Vier/RBA)

São Paulo – Vítimas de enchentes desde outubro de 2009, moradores do Jardim Fiorello, em Itaquaquecetuba (SP), região metropolitana da capital, criticam os governos municipal e estadual por “descaso” com o bairro. Nenhuma obra foi providenciada pelo poder público para evitar novos alagamentos no local.

“Estamos na divisa entre o município de Itaquá e a capital paulista, dizem que somos poucos eleitores, fim de cidade… Nos destratam bastante”, aponta Sandro Laureano, líder religioso e morador do bairro.

Segundo os moradores ouvidos pela Rede Brasil Atual, apesar de a população sofrer com enchentes desde 8 de outubro do ano passado, somente após uma passeata em 1º de setembro deste ano, foram recebidos pela prefeitura de Itaquá. “Se não fosse nossa movimentação, poderíamos morrer submersos”, dispara Sandro. “Quando ficamos 45 dias debaixo d´agua, ninguém veio aqui”, recorda.

Judite Ferreira, líder comunitária, vê diferença no tratamento dado à população do Jardim Romano, em que obras antienchentes começaram há meses, e aos moradores do Jardim Fiorello.  “Nós víamos obras acontecerem do outro lado, mas nada do lado de Itaquá”, diz a moradora.

O bairro é separado do Jardim Romano na capital paulista pelo rio Três Pontes. Na área paulistana do rio, um muro de contenção foi construído e um dique está em andamento. No Jardim Fiorello, dezenas de famílias vivem há pouco mais de dois metros do rio, como Daniel Laurindo de Souza. “Quando houve enchente, não teve bolsa aluguel. Estão dando atenção agora”, diz o morador.

A reivindicação dos moradores é a construção de um muro de contenção no rio Três Pontes, do lado de Itaquá, desassoreamento do rio e retirada das famílias em situação de risco com indenização “à altura do valor das construções” ou auxílio aluguel para os moradores que preferirem essa forma de compensação. “Nossas casas são bem construídas, não poderemos recomeçar a vida sem uma indenização à altura de valor das construções”, salienta Sandro.

Mais enchentes

Segundo Judite, a proximidade com o rio sempre causou enchentes no bairro, mas depois da construção de Centro de Educação Unificado (CEU) Três Pontes, inaugurado em 2008 pela prefeitura de São Paulo, a situação piorou.

O próprio dique em construção no Jardim Romano é motivo de medo para os moradores. “Vai aumentar o volume de água que vem pra cá”, antevê Sandro.

Divisa de SP com ItaquáNo campo de futebol da associação de moradores do bairro, os meninos já trocaram a bola pela vara de pesca. Em uma semana, o campo se transformou em lagoa. “É incrível. O rio passa distante daqui, mas já estamos sofrendo alagamentos”, descreve Sandro.

Sobre o fato de 74 famílias do bairro residirem em Área de Proteção Ambiental (APA), Judite tem a resposta na ponta da língua. “O CEU foi construído numa APA, porque só nós estamos errados nessa história?”, critica. “Há 30 anos quando chegamos aqui, não havia ninguém para orientar que não deveríamos construir”, arremata Sandro.

Prefeitura

Em nota, a prefeitura de Itaquaquecetuba informou que vai realizar obras de contenção de enchentes e está em contato com os moradores na tentativa de definir a melhor forma de remoção das famílias. “Rogério Tarento (Secretário Municipal de Habitação) também informou aos munícipes que, em contrapartida às remoções, a prefeitura dispõe de duas possibilidades: indenização ou aluguel social”, diz a assessoria de imprensa do município. A prefeitura de Itaquá não especificou que obras serão realizadas.

O aluguel social atenderia as famílias por seis meses – prorrogáveis por mais seis – com o valor de R$ 400 mensais, com inscrição em conjuntos habitacionais do governo do estado. Já a indenização só pode ocorrer em relação aos materiais utilizados na construção das casas, por se tratar de “áreas ocupadas irregularmente”.

A prefeitura cita que a retirada das famílias vai ocorrer devido à antecipação de obras no município por parte do Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica).

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