Ex-capitão do Bope descarta volta da política de enfrentamento no RJ
Rodrigo Pimentel diz que Rio vive 'agora ou nunca' e alerta que não pode haver recuo na linha adotada de promover pacificação e combate à organização criminosa dentro dos presídios
Publicado 25/11/2010 - 16h16
São Paulo – Crítico da repressão violenta ao tráfico de drogas, o ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope), Rodrigo Pimentel, afirma que a reação da polícia carioca aos incêndios de veículos no estado não representa a volta da política de enfrentamento ao tráfico. Defensor das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), ele acredita que o crime organizado age por ter perdido espaço nas favelas para promover tráfico de drogas, além de ter sofrido ofensivas em outras frentes.
Desde domingo (21), 55 veículos foram incendiados e 23 pessoas foram mortas desde o início da semana. Forças policiais estão, nesta quinta-feira (25), fazendo incursões em áreas ocupadas pelo Comando Vermelho, como o Complexo do Alemão.
Em entrevista a Dayanne Sousa, do Terramagazine, o roteirista dos dois filmes Tropa de Elite considera que o momento é uma espécie de “agora ou nunca”. “Nunca na minha vida deixei de criticar a política de segurança pública. (…) Mas esse momento que eu vivo hoje da minha vida é um momento único na história do Rio de Janeiro”, insiste.
Pimentel garante não ter vínculos partidários com o governador Sérgio Cabral (PMDB), reeleito em outubro, mas se mostra otimista. “Essa p… tem que dar certo!”, ressalta, em referência à política de segurança adotada atualmente. “Nós já testamos vários remédios e nada funcionou. O que a gente não testou ainda é a ocupação territorial permanente. Estamos testando e está funcionando. É necessário”, defende. “O Estado não pode ser refém, não pode se ajoelhar, não pode recuar um milímetro”, alerta.
O ex-capitão do Bope acredita que o encaminhamento de criminosos para fora do estado, combinada com a proposta de pacificação de comunidades e o indiciamento de familiares de detentos formaram um conjunto fortemente prejudicial aos grupos organizados. “Os familiares que enriqueceram ilicitamente estão sendo investigados e denunciados pelo Ministério Público. Isso provoca no tráfico revolta”, acredita.
“Todo mundo dizia que essa UPP era esquisita porque os bandidos não reagiam. Esta aí a prova de que não era nada esquisito. A UPP é realmente eficaz e tira o território do tráfico. A reação é essa aí”, afirma Pimentel.
Ele sustenta que a população está solidária com a ação da polícia, porque não tem interesse na volta do tráfico. “Nós vamos viver um desconforto nos próximos dias, mas se for isso o preço para que a política de pacificação funcione, que seja pago”, disse.
- ONG critica ‘transmissão online de possível chacina’ no Rio
- Líder comunitária teme ‘efeito colateral’ da repressão no Rio
- Ex-capitão do Bope descarta volta da política de enfrentamento no RJ
- Ministro diz que violência no Rio compromete ações de saúde pública e combate à dengue
- Apoio federal é importante para moradores do Rio, diz pesquisador
- Ativista teme retrocesso da ação policial no Rio