Salário de médicos de SP é ‘desumano e agressivo’, diz presidente do sindicato

Médicos evitam plantões na rede municipal devido a baixos salários e más condições de trabalho. Para vereadora da comissão de saúde da Câmara Municipal de São Paulo, falta 'sensibilidade social' da prefeitura de SP

São Paulo – Um dia depois da divulgação de um relatório sobre o déficit de 33% de médicos nos hospitais gerenciados pelo prefeitura de São Paulo, o presidente do Sindicato dos Médicos do Estado de São Paulo (Simesp), Cid Carvalhaes, afirmou à Rede Brasil Atual que é impossível convencer médicos a trabalhar na rede municipal “diante das péssimas condições de trabalho, do salário-base de R$ 1.273 e da infraestrutura sucateada”.

“Nós já falamos com a doutora Flávia [Terzian, superintendente das autarquias hospitalares] e com o Januário [Montone, secretário municipal de Saúde] que está tudo sucateado e faltando quase tudo, inclusive faltam outras modalidades de profissionais da saúde”, descreve.

Para Carvalhaes, o quadro ainda vai piorar porque muitos médicos assumem postos na prefeitura, mas ao se depararem com a precariedade desistem da vaga. “O médico fica desesperado (sic) com aquelas coisas e não volta mais. Muitos inclusive abandonam o emprego, dão um plantão hoje e não voltam mais”, dispara.

O receio de perder o registro profissional também leva médicos a desistirem do trabalho na rede municipal de saúde. “Eles argumentam da seguinte forma: ‘não vou arriscar meu CRM [registro no Conselho Regional de Medicina], em condições tão desumanas de trabalho como estas [que podem induzir a erro e gerar processos]”, argumenta.

“O profissional sai com uma malinha e vai de plantão em plantão [durante 5 dias] e troca de roupa, toma banho, tudo fora de casa, para garantir um salário minimamente digno”, relata Cid Carvalhaes, presidente do Sindicato dos Médicos de São Paulo.

Segundo o dirigente sindical, há histórico de concursos para médicos, em que um mês depois da admissão, metade dos aprovados já haviam desistido da atuação.

“Dos que assumiram, 50% não resistiram um mês, devido às péssimas condições de trabalho, exposição negativa e constrangimento ético, por saber que apesar de terem capacitação para atender bem a um paciente e salvar uma vida, se veem impossibilitados disso, por não terem condições materiais para o trabalho”, conta o médico.

“É melhor não ser participante disto do que estar envolvido e ter a sensação de culpa, de que é corresponsável por essa situação”, justifica Carvalhaes.

Salário ‘agressivo’

O presidente do sindicato julga que o salário na capital paulista, de tão baixo, chega a ser uma ‘agressão’ aos médicos. “É vil, vergonhoso e, inclusive, agressivo praticar um salário dessa natureza”, assevera.

“O médico fica ‘desesperado’ com aquelas coisas e não volta mais. Muitos inclusive abandonam o emprego, dão um plantão hoje e não voltam mais”, dispara  Carvalhaes

Com uma série de incorporações previstas no serviço público, Carvalhaes calcula que o salário dos médicos em São Paulo pode chegar a R$ 2.400. “Mas isso depende de produtividade, gratificação por desempenho, gratificação por área de difícil provimento, periculosidade”, lista, entre outros quesistos. Entretanto, essas incorporações não são computadas no cálculo da aposentadoria ou afastamento temporário do profissional.

“Isso é desumano, agressivo e desonesto por parte das autarquias municipais”, indigna-se o presidente do sindicato.

Para sobreviver, Carvalhaes cita que há médicos que chegam a ficar 5 dias por semana sem dormir em casa. “O profissional sai com uma malinha e vai de plantão em plantão. Troca de roupa, toma banho, tudo fora de casa, para garantir um salário minimamente digno”, relata. “Mas, tudo isso ao custo do sacrifício do médico, cuja categoria tem percentualmente o maior número de mortes precoces e grande índice de distúrbios circulatório,s tanto coronarianos, como cerebrais”, expõe.

Insensibilidade social

Para a vereadora Juliana Cardoso (PT), da Comissão de Saúde da Câmara Municipal de São Paulo, a falta de médicos nos hospitais públicos de São Paulo reflete a falta de “sensibilidade social da administração do prefeito Gilberto Kassab (DEM)”.

No mesmo sentido, Cid Carvalhaes avalia que São Paulo é gerenciado por “um modelo absolutamente insensível com a área social”. “É só ver os números na educação, do transporte coletivo, da merenda escolar, mas o campeão do descuido é a saúde”, acentua.

Em audiência realizada pela Câmara de Vereadores, em maio deste ano, um representante da autarquia hospitalar municipal argumentou que está em estudo um plano de carreira para atrair médicos, citou Juliana. Entretanto, ela avalia que “se o novo plano de carreira não sinalizar melhoria salarial não vai adiantar”. 

Segundo a vereadora, iniciativas desse tipo, por força de legislação, dependem da prefeitura. “Os vereadores não podem propor projetos que criem despesas. No máximo podemos alterar algum projeto encaminhado pelo prefeito Gilberto Kassab.”

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