Moradores denunciam descaso da prefeitura na zona norte de SP

No Jardim Joana D´Arc, a Rede Brasil Atual ouviu moradores que acusam paralisação de obras e retirada arbitrária de 120 famílias, sem garantia de moradia

Francisco e Izabel: desespero e medo de perder a casa onde moram três famílias (Foto: Suzana Vier/RBA)

São Paulo – A casa de Francisco e Izabel da Silva acabou de ser reformada. As paredes foram texturizadas e cada um dos quatro cômodos recebeu uma cor diferente. O piso, novinho, mais parece um espelho, para orgulho dos moradores. “Nós ainda devemos a reforma e os móveis”, informa Izabel. Outros dois filhos construíram suas casas na parte superior da residência dos pais.

Apesar da casa aconchegante, Francisco e os filhos estão entre as 120 famílias que correm o risco de ser despejadas da alameda das Roseiras, no Jardim Joana D´Arc, sem garantia de uma nova moradia ou auxílio-aluguel. O aviso chegou aos moradores em abril, mas as informações são vagas, gerando insegurança e preocupação sobre o destino da população.

O local, segundo lideranças, foi considerado área de risco pela prefeitura. O fato estranho, relatam os moradores ouvidos pela reportagem da Rede Brasil Atual, é que até o início do ano a prefeitura vinha realizando obras no local. Uma placa, a poucos metros das casas ameaçadas, informa que a prefeitura está realizando a canalização na alameda das Roseiras.

Entretanto, há quatro meses a obra parou e os moradores estão sendo orientados a deixar o local, com a promessa de serem transferidos para um abrigo provisório. “De repente, pararam a obra e disseram que 120 famílias vão ter de sair daqui”, explica Madalena Figueiredo, uma das coordenadoras do movimento Rede Bairro.

“Abrigo?”, rechaça seu Francisco. “Imagina que nessa idade eu vou perder minha casa para ficar em abrigo”, protesta. “Trabalhei a vida toda e vou terminar num abrigo, amontoado… eu não saio daqui”, promete o idoso.

Expedito Pereira Diniz calcula que faltavam “apenas 100 metros para terminar a canalização do esgoto”.

A moradora Heleni de Oliveira Brito conta que a própria população cavou há dez anos a vala agora em obras. “Isso é água de chuva, abrimos o canal para escoar a água que causava enchentes, já que aqui é uma baixada”, explica. Desde a abertura, a região não enfrentou mais problemas com enchentes, ainda segundo Heleni. Mas pontes improvisadas foram montadas para permitir a ligação entre a rua e as residências. A obra interrompida resolveria o problema de acesso às casas.

Conflito

obra inacabada

Além da paralisação da obra de canalização, os moradores reclamam da falta de informação e do conflito entre secretarias.

“A secretaria de habitação faz cadastro para a gente ficar. O (órgão responsável pelo) Meio Ambiente diz que é pra sair”, explica Expedito Diniz.

“A gente tá num desespero que ninguém tem ideia”, diz Francisco. “Desde que vieram aqui e marcaram nossa casa, a gente não sabe o que vai acontecer”, afirma em referência às marcações que a secretaria Municipal de Meio Ambiente teria feito em todas as casas.

Lideranças também afirmam que moradores foram assediados pela prefeitura com a sugestão de “voltar para o norte”, com uma indenização de R$ 5 mil pela casa. “Minha casa vale muito mais. Não vou para abrigo, albergue, nem pra lugar nenhum”, disse um morador que prefere não se identificar.

Mobilização

Difícil acesso

Os moradores decidiram reagir à retirada das famílias com um abaixo-assinado que será encaminhado ao Ministério Público Estadual pedindo a continuidade da obra de canalização de esgoto da alameda das Roseiras, pavimentação da via e suspensão da retirada das famílias.

“Se for necessária a retirada das famílias, que pelo menos tenhamos moradia digna. Mas o que queremos mesmo é a continuidade aqui onde nossas famílias se estabeleceram. As crianças estão na escola, as famílias construíram boas casas”, descreve Madalena.

Na região, outras obras estão paralisadas, como a canalização e pavimentação da rua Santa Inês do Jardim Felicidade e desmoronamento de barranco depois que uma caixa de esgoto da Sabesp teria estourado.

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