Zona leste de SP volta a sofrer com enchentes; situação é pior que em dezembro

Segundo moradores, as comportas de três barragens da região, somadas às chuvas do final de semana, podem ter causado as novas inundações

Moradores tentam caminhar em meio a enchente no Jardim Pantanal (Foto: Ronaldo Souza/Divulgação)

Ruas e casas do Jardim Romano, Pantanal, Chácara Três Meninas, Vila Aymoré e Jardim Martinho, bairros da zona leste da capital paulista, voltaram a sofrer com inundações desde o sábado (22). “A situação agora é pior que em dezembro, quando as chuvas começaram”, aponta Raimundo Nonato, morador do Jardim Martinho.

Segundo Vagner Fernandes, morador da rua Beira Rio, na Chácara Três Meninas, “antes mesmo de chover, já começou a encher. No primeiro chuvisco, as águas começaram a tomar as casas.” Fernandes teve parte da casa inundada e cada membro da família foi morar com um parente para fugir da enchente. A mãe do morador está fora de São Paulo, por problemas de saúde causados pelo medo de inundações. “Ela estava com crise nervosa, aí apoiamos ela ir para a Bahia”, cita.

“O córrego está fluindo ao contrário. Em vez de ir para o rio, ele está voltando de tão cheio”, descreve Nonato, que teve o térreo de sua casa atingido pelas águas. Ele, a esposa, e a filha de um ano e meio estão morando na parte superior da residência, onde também abrigam alguns vizinhos. Segundo o morador, a família está presa dentro de casa, ilhada pelas águas. “Deixei o carro no trabalho. Quem não conseguiu tirar [o carro] de casa, foi atingido pela inundação”.

Com medo das enchentes, Fernandes explica que muitos moradores estão “fugindo” e até pagando aluguel por conta própria. “Ninguém entra no Jardim Pantanal. Tem lugar de onde as pessoas já fugiram, porque não tem como um ser humano viver, só bicho. A água chega no peito”, ilustra.

Estranhamento

Jd Pantanal - novo alagamento

Os moradores estranham o fato de a chuva no sábado ter sido branda, mas os bairros terem ficado mais alagados que após as precipitações de 8 de dezembro, quando as inundações começaram na região.

“A enchente  ganhou maiores proporções. Onde nunca se imaginou chegar água, agora chegou”, afirma Ronaldo Delfino de Souza, da coordenação do Movimento de Urbanização e Legalização do Jardim Pantanal.

A hipótese dos moradores é de que as barragens, acima da barragem da Penha, no rio Tietê, tiveram as comportas abertas. A da Penha estaria mantendo as comportas fechadas para evitar o alagamento da Marginal do Tietê. “Nós temos soltando nas barragens de cima 10 m3/s [de água]. A barragem aqui [da Penha] caberia 4,8 m3/s”, calcula Souza.

Questionado, o Departamento de Águas e Energia Elétrica do estado de São Paulo (DAEE), responsável pelas barragens, não se manifestou sobre a denúncia dos moradores.

Para muitos moradores, os governos estadual e municipal inundam a região para obrigar as famílias a se retirarem para a construção do Parque Várzea do Tietê. “As famílias estão sendo expulsas mesmo. É como aquelas histórias de construção de barragens [que fazem cidades inteiras ficarem sob a água]. Aqui o [Jardim] Pantanal vai virar mar”, denuncia Souza. “A gente acha que é exatamente isso que o governo do estado quis provocar, para o recuo das famílias e não ter de indenizar para poder fazer o tal do parque”, concorda Fernandes.

Nonato e Souza estimam que milhares de famílias foram atingidas de sábado até esta terça-feira. “Estou a um quilômetro do rio, e minha casa foi atingida”, lamenta Nonato. Diversas casas estariam com mais de um metro de água, avalia Souza.