Protesto por morte de adolescente inicia mês de mobilização no Rio

Rafael da Rocha Ribeiro, morto na última quarta-feira (25), tinha 15 anos. Julgamentos de policiais e outras manifestações estão marcadas

Protesto em Manguinhos marca início de um mês de debates sobre direitos humanos e violência policial (Foto: Rede de Comunidades contra a Violência/Divulgação)

Uma manifestação de moradores da favela Mandela de Pedra, em Manguinhos, junto com organizações e movimentos sociais da região marcou o início da mobilização contra violações de direitos humanos no Rio de Janeiro nos próximos 15 dias. O protesto de segunda-feira (2) foi motivado pela morte de Rafael da Rocha Ribeiro na última quarta-feira (25/10) em uma operação policial.

Participaram da manifestação muitos voluntários da ONG Rio de Paz, conhecida pelos protestos que organiza na Praia de Copacabana. Segundo painel produzido pela entidade para o ato, desde janeiro de 2007 ocorreram 20 mil assassinatos no estado, dos quais 3.272 são autos de resistência – mortes em supostos confrontos com a polícia usadas, segundo organizações de defesa dos direitos humanos, para ocultar execuções sumárias.

Moradores, incluindo muitas crianças, carregavam cruzes e cartazes feitos à mão, e denunciavam que as operações policiais são quase diárias e não têm nenhum cuidado com as pessoas que estão nas ruas ou nas suas casas.

Protesto por morte de adolescente inicia mês de mobilização no Rio (Foto: Rede de Comunidades contra a Violência/Divulgação)

Nesta quinta-feira (3), um ato contra o “revide” da polícia a traficantes em nome da Segurança Pública no Rio de Janeiro está marcado. A concentração ocorre na Central do Brasil, às 12h, em frente à Secretaria de Segurança Pública.

Para dia 11, está programado o julgamento dos acusados pelo homicídio de Ricardo Augusto Mota Iberê Gilson em abril de 1999 nas dependências do Manicômio Judiciário do Hospital Henrique Roxo, em Niterói (RJ). No 2º Tribunal do Júri do Fórum do Rio, os réus são o policial militar Eustáqui Cirino de Souza e os agentes penitenciários José nivaldo de Melo e Jorge José Rigueira da Paixão, acusados de terem espancado Ricardo até a morte. A médica Cali Galiasso Barboza teria, segundo a denúncia, omitido socorro e emitido laudo falso, atestando morte natural.

Seis dias depois, ocorre a primeira audiência judicial do caso do homicídio de Josenildo Estanislau dos Santos, na 2ª Vara Criminal do Fórum do Rio. Ele foi assassinado em abril deste ano no Morro da Coroa, em Catumbi. O Ministério Público denunciou os policiais militares Vagner Barbosa Santana, Carlos Eduardo Virgínio dos Santos, Jubson Alencar Cruz Souza e Leonardo José de Jesus Gomes.

Assassinato

Protesto por morte de adolescente inicia mês de mobilização no Rio (Foto: Rede de Comunidades contra a Violência/Divulgação)

Segundo moradores que testemunharam o assassinato, o adolescente de 15 anos foi morto por policiais militares “vestidos de preto”, possivelmente do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope). Integrantes da associação de moradores acusam a polícia de barrar a entrada de socorro na favela.

Rafael teria saído de um beco, vindo de casa, para jogar lixo fora, e assim que virou as costas para retornar foi atingido por um tiro disparado pelos policiais. Segundo as testemunhas, naquele momento não havia confronto entre policiais e traficantes.

Protesto por morte de adolescente inicia mês de mobilização no Rio (Foto: Rede de Comunidades contra a Violência/Divulgação)

A mãe, Angélica Gomes da Rocha, contou à Rede de Comunidades contra a Violência, que foi trabalhar naquele dia preocupada com as operações da polícia, mas com a informação de que o Bope estaria na favela do Arará.

O local onde Rafael foi baleado é uma área de entulhos e lama, onde ficavam barracos demolidos como parte das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no Complexo de Manguinhos. Grande número de casas na beira do Faria Timbó ainda devem ser demolidas, mas os moradores esperam o pagamento de indenização ou compra de novas residências.