Especialista alerta para problemas psicológicos infantis gerados por confrontos armados no Rio

Em protesto em Manguinhos, no Rio de Janeiro, moradores seguram cartazes pedindo justiça pela morte de adolescente de 15 anos (Foto: Rede de Movimentos Sociais contra a Violência/Divulgação) Rio de […]

Em protesto em Manguinhos, no Rio de Janeiro, moradores seguram cartazes pedindo justiça pela morte de adolescente de 15 anos (Foto: Rede de Movimentos Sociais contra a Violência/Divulgação)

Rio de Janeiro – Os confrontos entre policiais e criminosos ou entre os próprios criminosos, rotineiros nas favelas do Rio de Janeiro, geram mais transtornos do que as mortes ou as conhecidas “balas perdidas”. Problemas como o medo, a insônia e até distúrbios de aprendizagem, que atingem principalmente crianças e adolescentes, são outros resultados dessa violência cotidiana.

A opinião é da especialista em saúde de crianças e adolescentes Evelyn Eisenstein, da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e da Sociedade Internacional para a Prevenção de Abuso e Negligência contra Crianças (Ispcan, na sigla em inglês).

Segundo ela, os problemas psicológicos gerados nas crianças pelos confrontos armados são quase invisíveis para a mídia, mas aparecem cada vez mais nas unidades de saúde do Rio de Janeiro.

“As crianças estão à mercê de tudo isso que elas estão vivenciando, não só na prática, no tiroteio diário em cada bairro, mas também através da mídia e das repercussões”, afirma.

Evelyn Eisenstein afirma que um dos problemas enfrentados pelas crianças é o medo, junto com a sensação de estarem sendo ameaçadas e sem proteção, o que gera estresse e insônia. Em consequência, podem aparecer também distúrbios de aprendizagem e problemas na escola, como a evasão e o atraso escolares.

“Sem contar quando ela está em plena aula e a interrompe por causa de um tiroteio”.

A interrupção de aulas e o fechamento de escolas têm sido comuns no Rio de Janeiro. Na última terça-feira (3), pelo menos 13 mil alunos da região de Vila Kennedy, na zona oeste, ficaram sem aulas por causa de confrontos entre criminosos e policiais.

Na quinta-feira (5), tiroteios durante uma operação policial deixaram 4 mil alunos sem aulas na região de Acari e Costa Barros, na zona norte.

Nesta semana, a Secretaria Municipal de Educação do Rio chegou a anunciar um projeto de capacitação de professores para acalmar alunos durante situações de crise, como incêndios, acidentes ou confrontos armados.

A sensação de abandono e o uso de drogas podem ser outras consequências da vivência cotidiana em meio a esses conflitos. A longo prazo, as crianças e adolescentes passam a aceitar a violência como uma prática comum, num processo de banalização dessa violência.

Segundo ela, a intensificação dos confrontos armados no Rio, que já duram mais de duas décadas, é hoje um reflexo da violência que ocorreu nos últimos anos.

“Esse homens que hoje se confrontam, sejam policiais, milicianos ou traficantes, foram crianças e adolescentes algum dia. Se eles tivessem aprendido o que é paz, se tivessem expectativa de futuro ou até mesmo melhor rendimento escolar, não estaríamos com a violência que temos hoje em dia. Temos que interromper esse ciclo, para que ele não continue se reproduzindo”, afirmou.

Para interromper esse ciclo, explica a especialista, é preciso que desde já haja investimentos em programas de prevenção da violência, em vez de recorrer simplesmente ao confronto policial. Esses programas, afirma Evelyn Eisenstein, devem ser não só para a Olimpíada de 2016, mas para o futuro da cidade.

Fonte: Agência Brasil