Urgente

Sociedade reage a crime brutal em Blumenau e pede combate à cultura do ódio

Ataque a creche em Santa Catarina deixou quatro crianças mortas. ‘Diante da monstruosidade, é urgente investir em políticas de paz’, afirma Lula

Reprodução/Twitter
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Um homem de 25 anos atacou crianças com uma machadinha; quatro morreram e quatro estão internadas

São Paulo – Personalidades de diferentes campos reagiram à brutalidade do ataque em uma creche em Blumenau (SC) nesta quarta-feira (5), quando um homem atacou crianças com uma machadinha. Quatro morreram e quatro estão internadas. De acordo com a Polícia Civil local, elas tinham entre 4 e 7 anos. Autoridades agora trabalham para identificar as razões do atentado, uma vez que o homem não tinha ligação com a escola ou com qualquer uma das vítimas.

Especialistas em comunicação pedem que não sejam divulgadas imagens ou maiores informações sobre o criminoso. A ideia é não dar visibilidade ao agressor, uma vez que isso pode ser considerado positivo em redes de ódio e possa estimular mais comportamentos violentos. “A literatura aponta o chamado ‘efeito contágio’ desse tipo de massacre. Noticiário sangrento tende a gerar mais ocorrências e a ‘santificação’ dos agressores”, como explica o jornalista e professor da Universidade de São Paulo (USP) Rodrigo Ratier, em sua coluna no Ecoa/UOL. Especialista em comunicação digital, Ratier pede “controle imediato das notícias e das armas”.

Em relação às demais repercussões na sociedade, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) manifestou indignação e solidariedade com as famílias. “Não há dor maior que a de uma família que perde seus filhos ou netos, ainda mais em um ato de violência contra crianças inocentes e indefesas. Meus sentimentos e preces para as famílias das vítimas e comunidade de Blumenau diante da monstruosidade ocorrida na creche Bom Pastor”, disse . Seu partido, em nota, disse ser “urgente investir em políticas de paz e solidariedade”.

Por conta do ato de violência nesta quarta, Lula decidiu antecipar a criação de um Grupo de Trabalho Interministerial para dar celeridade às ações de combate à violência nas escolas. A decisão foi anunciada pelo ministro da Educação, Camilo Santana, e já vinha sendo desenvolvida em função da recorrência de casos de ataques a instituições de ensino. A primeira reunião do GT será nesta quinta-feira (6).

Reação urgente

Entre as ações imediatas adotadas pelo governo está o fortalecimento da ronda escolar. O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, anunciou que o Governo Federal vai repassar, inicialmente, R$ 150 milhões em recursos aos estados e municípios, por meio do Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP), para apoio às polícias militares e guardas municiais. Será constituído, adicionalmente, um grupo emergencial de monitoramento virtual, com 50 policiais atuando exclusivamente contra ameaças feitas em redes sociais.

Para o professor e pesquisador na Faculdade de Educação da USP Daniel Cara, o ataque era esperado. “A pergunta nunca foi se aconteceria um novo ataque com mortes. Mas quando. Essa chaga precisa ser enfrentada. Todo o Brasil precisa agir com urgência. O que estamos esperando?”, criticou.

Ele adiantou que conversou com integrantes do Ministério da Educação. “O MEC articula a formulação de um Decreto Interministerial para o estabelecimento de um grupo de trabalho que elabore uma política nacional de combate à violência às escolas. Autorizaram esse anúncio pelo fato de que nosso relatório, elaborado na transição governamental, terá consequências positivas. O Brasil vai reagir.”

Já o ministro da pasta, Camilo Santana, disse que está em contato também com o governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), sobre o caso. “Recebemos chocados a informação do ataque a uma creche em Santa Catarina, vitimando crianças indefesas e provocando uma dor imensurável às famílias e angústia à população. Minha solidariedade a todos diante dessa tragédia, que comove o país”, afirmou.

Cultura do ódio

Os desafios não são poucos. Além de implementar medidas urgentes para ampliar a segurança dos estudantes e professores nas escolas, a solução passa por questões como o combate à cultura do ódio. Nos últimos anos cresceu o discurso de ódio e a intolerância no Brasil e no mundo. Xenofobia, machismo, racismo e até nazismo ganharam espaço, em especial nos ambientes das redes sociais.

A filósofa e escritora Marcia Tiburi destaca o papel de políticos e mesmo da imprensa comercial. “A matança na creche em Blumenau é efeito da política do ódio implantado pelos extremistas de direita no Brasil há 10 anos. Governo e povo terão muito trabalho contra isso. A máquina de produzir fascistas precisa ser parada. Não é dando voz a Steve Bannon que isso vai acontecer”, disse. Bannon é um dos estrategistas de Donald Trump, nos EUA, e de Jair Bolsonaro no Brasil. Pesa sobre ele disseminação massiva de desinformação, além de propagação de discurso de ódio. Marcia faz referência a um artigo com falas do extremista contra Lula, publicado pelo jornal Folha de S.Paulo.

O ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social do governo, Paulo Pimenta, também destacou a necessidade de combate assertivo contra o discurso de ódio. “Triste a cultura da violência que se espalhou pelo Brasil. Desta vez, atinge a creche Bom Pastor, em Blumenau. Quatro crianças foram mortas e uma outra está e em estado grave. Nossa total solidariedade às famílias e ao povo de Blumenau frente a essa monstruosidade absurda”, declarou.

Culto à violência

O doutorando em Ciência Política e ex-deputado federal Jean Wyllys lembra de pontos que ligam a extrema direita à ascensão da violência nas escolas. “A veneração por armas, a ideologia supremacista branca, o anti-intelectualismo, o fanatismo evangélico neopentecostal, mas também e sobretudo forma espetaculosa de cometer, espalhar o terror.”

“Toda solidariedade aos pais das crianças mortas no massacre em Blumenau. Não consigo imaginar o tamanho dessa dor. Creio, contudo, que é importante entender esse novo massacre em escolas no Brasil como um grave sintoma da ascensão da extrema-direita. Depois de 4 anos de governo Bolsonaro, massacres em escolas, antes comuns só nos EUA, praticamente estão virando rotina no Brasil. Essa forma de terrorismo está associada ao medo, ansiedade e pânico que a extrema direita cria em homens limítrofes articulados em rede”, completa.


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