Crise humanitária

Saúde dos Yanomami depende da retirada dos garimpeiros, diz secretário

“Só será possível assegurarmos uma universalização da saúde indígena em todo o território Yanomami com a retirada dos garimpeiros”, disse Ricardo Weibe Tapeba

Reprodução/TV Brasil
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Tapeba também afirmou a necessidade um segundo hospital de campanha no território Yanomami

São Paulo – O secretário de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, Ricardo Weibe Tapeba, afirmou nesta terça-feira (7) que o restabelecimento do atendimento em saúde na Terra Indígena (TI) Yanomami depende da remoção completa dos garimpeiros. Ele afirmou que ultimamente grupos de garimpeiros têm se articulado como verdadeiras “organizações criminosas”.

Tapeba disse que a Secretaria Especial da Saúde Indígena (Sesai) tem condições de ampliar o atendimento no território Yanomami. Mas a atuação desses grupos criminosos de garimpeiros dificulta o recrutamento de profissionais de saúde e a reabertura dos polos base, responsáveis pela saúde dos indígenas.

“Colocamos para o presidente da República e para a ministra Nísia Trindade (Saúde), de forma muito clara, que a Sesai tem condição de ampliar nossa capacidade de assistência no território Yanomami, recrutando mais profissionais de saúde, garantindo inclusive a reabertura dos polos base que temos no território. Mas só será possível se a gente de fato tiver uma ação coordenada que resulte na remoção dos garimpeiros”, afirmou o secretário.

Infraestrutura e combate à fome

Nesse sentido, Tabeba disse que a Sesai aguarda para os próximos dias a conclusão de uma reforma numa pista de pouso na região do Surucucu para, assim, implementar um novo hospital de campanha. A região do Surucucu é uma das mais atingidas pela crise humanitária decorrente da expansão do garimpo ilegal.

Além disso, a Sesai também elabora um plano de melhoria na infraestrutura dos polos base. O objetivo é garantir água potável, energia e acesso à internet nesses locais que fazem o atendimento em saúde aos indígenas. As más condições de infraestrutura e o acosso pelos garimpeiros leva a uma “rotatividade” muito grande entre os profissionais de saúde contratados para servir no território.

Tanto a reforma dos polos base, como a instalação do hospital de campanha no Surucucu serviriam para evitar a remoção aérea dos indígenas que necessitam de atendimento. Assim, somente no mês passado, foram 1.155 horas de voos realizados para executar essas remoções.

Até o dia 3 de fevereiro, o governo federal distribuiu 90 toneladas de mantimentos e medicamentos no território Yanomami. Ainda assim, o secretário informou que a situação de desnutrição entre os indígenas ainda é “extremamente grave”. Nesse sentido, a Sesai desenvolve planos de “alimentação assistida” e “alimentação terapêutica”. E ainda implementou um Centro de Resgate Nutricional, composto por pediatras, nutricionistas, enfermeiros e técnicos de enfermagem.

“Mas acreditamos que só será possível assegurarmos uma universalização da saúde indígena em todo o território Yanomami com a retirada dos garimpeiros. Só será possível a reabertura dessas unidades de saúde, com segurança para as comunidades e para os profissionais, com a saída dos garimpeiros. Além da desnutrição, pneumonia e malária estão entre as doenças que mais acometeram os indígenas no último mês.

Aparelhamento político

Para Tapeba, o cenário de emergência em saúde no território Yanomami é resultado do “aparelhamento político” ocorrido no Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI). Grupos políticos ligados aos próprios garimpeiros que devastaram a região atuaram para impedir a atuação das equipes de saúde.

“O que a gente experimentou no DSEI Yanomami nos últimos anos foi um verdadeiro aparelhamento político, de verdadeiras oligarquias políticas que detém o poder em Roraima. As dificuldades que nós identificamos da área de gestão são resultado desse aparelhamento”, afirmou. Sem citar nomes, ele afirmou que a Polícia Federal (PF) está investigando o caso.