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Feira da Reforma Agrária: ocupações do MST ‘retornam à sociedade em forma de comida’

Evento que vai até domingo, no Parque da Água Branca, em São Paulo, também expõe debate sobre modelo de produção de alimentos

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Durante quatro dias, desta quinta até domingo (11 a 14), a feira terá 500 toneladas de alimentos, com 1.500 itens de produtos comercializados por 1.200 expositores

São Paulo – Na abertura da quarta edição da Feira da Reforma Agrária, em São Paulo, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) enfatizou o papel da organização no combate à fome. Ao mesmo tempo, o próprio evento ajuda a mostrar a real função das atividades dos sem-terra, que voltaram a ficar sob ataque do conservadorismo político. “O que a gente ocupou de terra estamos devolvendo para a sociedade brasileira em forma de comida”, afirma Ceres Hadich, da direção nacional do MST. “Isto (a diversidade de produtos) só foi possível, porque lá atrás houve ocupação de terra”, reforça Gilmar Mauro, também da direção.

Durante quatro dias, desta quinta até domingo (11 a 14), a feira – que retorna após cinco anos – terá 500 toneladas de alimentos, com 1.500 itens de produtos comercializados por 1.200 expositores – até sorvete será lançado. Além disso, os visitantes poderão conhecer melhor a variedade gastronômica do país no espaço ‘Culinária da Terra’: 95 pratos em 30 cozinhas instaladas no local, no Parque da Água Branca, zona oeste da capital. O evento terá ainda seminários e apresentações musicais.

Doação de alimentos

Ao final da feira, 25 toneladas de alimentos serão doadas. “Cada estado já organizou sua parte”, lembra Gilmar Mauro. Desde 2019, a Feira da Reforma Agrária passou a fazer parte do calendário oficial de eventos do município, por meio da Lei 17.162.

A feira mostra o resultado do trabalho de quase 2 mil associações e mais de 120 cooperativas, com produção de agroindustrializados e itens in natura. E esse é o debate que o MST pretende fazer – sobre a relação entre reforma agrária e alimentação saudável, por outro modelo para o campo. “Nossa luta não é mais do que o cumprimento da Constituição. A reforma agrária, na nossa visão, é uma das alternativas concretas para resolver o problema da fome”, afirma Gilmar.

Como acabar com a fome?

Fazer três refeições por dia, como costuma dizer o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, já não é suficiente para acabar “estruturalmente” com a fome, acrescenta Ceres. É, por exemplo, comer “sem veneno” (agrotóxicos), saber a procedência do alimentos. Envolve assegurar políticas públicas (Plano Safra, Programa de Aquisição de Alimento) e planejar regulação de estoques por meio da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). “Fortalecida e vinculada ao MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário)”, lembra a dirigente.

A própria pandemia, um “recado da natureza”, ajuda a repensar a relação entre produção de alimentos e desenvolvimento sustentável. Além disso, afirmam, a expansão de commodities, como soja e milho, reduz a área de plantio de itens básicos, com impacto na oferta e nos preços.

Vários ministros são esperados para o evento. Segundo o MST, o próprio Lula poderá participar. Gilmar Mauro afirma que, se vierem, o governador paulista, Tarcísio de Freitas, e o prefeito da capital, Ricardo Nunes, também serão bem recebidos Ele comentou que o movimento mantém conversas frequentes com autoridades do estado.

Nova ofensiva conservadora

A possibilidade de uma CPI no Congresso, contra o MST, não preocupa os dirigentes. Eles lembram que será a quinta instalada no parlamento para apurar ações do movimento. Para Ceres, por exemplo, o objetivo é atacar o governo, por meio da “direita aglutinada em torno da bancada ruralista”, em mais uma tentativa de criminalizar a reforma agrária. Gilmar não vê fato concreto que justifique uma comissão de inquérito. “Acho que vão se desmoralizar”, afirmou.

Assim, a feira também abre um calendário de comemorações pelos 40 anos do MST, que se completam em 2024, quando também deverá ser realizado congresso nacional da organização. E ocorre em um momento de reconstrução da política institucional e da democracia no país, ressaltam os dirigentes. “Vivenciamos anos muito escuros, de desesperança e falta de horizonte”, diz Ceres. “Este é um período de primavera.”

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