Crime na floresta

Pescador confessou ter atirado em Dom e Bruno, esquartejado e queimado, diz PF

Bolsonaro diz que Dom e Bruno eram “malvistos”. Lula e Alckmin expressam indignação. “Crime está relacionado ao incentivo à violência por parte do atual governo.”

Reprodução
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Quando Bruno Pereira e Dom Phillips desapareceram, o governo desfalcou a Força Nacional em vez de reforçar

São Paulo – O superintendente da Polícia Federal (PF) no Amazonas, Alexandre Fontes, confirmou na noite desta quarta-feira (15), em entrevista à imprensa, que o pescador ilegal Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como “Pelado”, confessou ter assassinado o indigenista Bruno e o jornalista inglês Dom Phillips. Restos humanos encontrados enterrados no local indicado por Amarildo serão periciados em Brasília. Confirmadas as identificações, serão entregues às respectivas famílias das vítimas.

Também continuas preso Oseney da Costa de Oliveira, o “Dos Santos”, irmão de Amarildo, que não confessou envolvimento no caso. A Polícia Federal afirma que ainda investiga a autoria de uma terceira pessoa no crime, citada por Amarildo, além da participação de outras pessoas no caso. “Pelado” está detido desde o dia 7, dois dias após o desaparecimento de Bruno e Dom. Oseney foi preso temporariamente na terça (14).

Amarildo havia negado num primeiro momento ter atirado na dupla. Depois, acabou confessando, segundo a PF. Este texto foi atualizado na noite desta quarta-feira. Ele também indicou onde afundou a lanha usada por Bruno e Dom, mas a polícia só deve ir ao local nesta quinta-feira (16).

“Bolsonaro é corresponsável por sumiço de Bruno Pereira e Dom Phillips”

No domingo (12), a PF divulgou imagens de uma mochila, um notebook, roupas e chinelos encontrados durante as buscas, no interior do Amazonas. Bruno Pereira e Dom Phillips haviam partido da Comunidade São Rafael em uma viagem de duas horas, rumo a Atalaia do Norte, onde não chegaram.

O jornalista, colaborador do também britânico The Guardian e outros veículos, escrevia um livro sobre ameaças ao meio ambiente e incomodava muita gente. “Esse inglês, ele era mal visto na região. Porque ele fazia muita matéria contra garimpeiro, a questão ambiental… Então, aquela região lá, que é bastante isolada, muita gente não gostava dele. Ele tinha que ter mais do que redobrado a atenção para consigo próprio. E resolveu fazer uma ‘excursão'”, afirmou Jair Bolsonaro em uma entrevista ao canal da jornalista Leda Nagle (aqui reproduzido pelo blog do jornalista Leonardo Sakamoto).

Até esta quarta-feira (15), nove pessoas já tinham sido ouvidas pela polícia. Entre elas, a mulher de Amarildo, Josenete, que prestou depoimento na sexta-feira (10) em companhia de um advogado e preferiu não falar sobre a prisão do marido nem sobre o caso dos desaparecidos. Uma entrevista coletiva da PF para falar sobre o suposto encerramento do caso é esperada para a qualquer momento.

Dor e indignação

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-governador Geraldo Alckmin afirmaram em nota que a confirma do assassinato de Bruno Pereira e Dom Phillips “causa dor e indignação”. Em nota, manifestaram solidariedade aos familiares e amigos do indigenista e do jornalista. “Bruno e Dom dedicaram a vida a fazer o bem. Por isso percorreram o interior do Brasil, ajudando, protegendo e contando a vida, os valores e o sofrimento dos povos indígenas. O mundo sabe que este crime está diretamente relacionado ao desmonte das políticas públicas de proteção aos povos indígenas. Está diretamente relacionado também ao incentivo à violência por parte do atual governo do país”, afirmam.

“O que se exige agora é uma rigorosa investigação do crime; que seus autores e mandantes sejam julgados. A democracia e o Brasil não toleram nem podem mais conviver com a violência, o ódio e o desprezo pelos valores da civilização.”