Causa e consequência

Bolsonaro e garimpo levaram Yanomamis à tragédia e à maior crise humanitária do século

Reportagem do “Fantástico” mostra que indígenas são vítimas do descaso criminoso de quem deveria protegê-los e da cobiça dos invasores, estimulados durante governo Bolsonaro

Rede Globo/Fantástico/Reprodução
Rede Globo/Fantástico/Reprodução
A repórter Sonia Bridi visita terra yanomami para reportagem do Fantástico que comprovou sinais de genocídio indígena em Roraima

São Paulo – A tragédia humanitária em território Yanomami, a maior deste século, é consequência do descaso criminoso do governo de Jair Bolsonaro (PL) e da cobiça dos invasores. É o que mostrou reportagem do programa Fantástico, da TV Globo, exibida ontem (29), detalhando como a maior terra indígena do Brasil chegou a uma situação de emergência sanitária, com crianças, adultos e idosos em condições dramáticas de saúde, vitimados por doenças como malária e pneumonia, desnutrição, e contaminação por mercúrio.  

A reportagem acompanhou ação do programa de socorro coordenado pelo governo Lula, na região nos chamados Pelotões de Fronteira Especial (PFE) do Exército, em Roraima. Naquele local é onde a situação é a mais grave. E também onde está a maior concentração de garimpeiros.

No pelotão de Surucucu, feito para atender 30 crianças, a reportagem mostrou um cenário desolador, com mais de 100 pacientes. Próximo dali, a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) também resgata indígenas na região do chamado Homoxi, um lugar emblemático para entender essa crise. 

Ainda em 2017, então sob o governo Michel Temer, o garimpo avançou por dezenas de quilômetros no local e tomou a pista da Sesai, expulsando a equipe de saúde. A sede dos posto de saúde acabou virando depósito de combustível dos invasores. No ano passado, a Polícia Federal destruiu máquinas do garimpo e, em represália, os criminosos incendiaram o antigo posto.

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Casos de malária subnotificados

Ainda sem segurança na região, crianças, adultos e idosos precisam ser resgatados rapidamente, a maioria deles acometidos pela malária. Apenas no ano passado, foram registrados 22 mil casos de malária – em uma população de 30 mil Yanomamis.

No entanto, no Homoxi, onde o posto foi tomado e queimado pelo garimpo, houve apenas sete casos notificados. O que mostra, ainda citando o Fantástico que os números oficiais não refletem a realidade. Quando o presidente Lula foi a Boa Vista, acompanhado de sete ministros, no dia 21, encontrou cerca de 700 pessoas internadas na Casa do Indígena. O local, no entanto, tem capacidade para 300. “A gente não pode entender um país com as condições que tem o Brasil deixar nossos indígenas abandonados como eles estão aqui”, lamentou o presidente. 

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A crise sanitária já matou 570 crianças Yanomamis de 2019 a 2022, 29% a mais que nos quatro anos anteriores. Os dados do Ministério da Saúde foram compilados pela agência Sumaúma. As informações oficiais mostram, porém, que, no período Bolsonaro, as mortes de crianças Yanomamis por desnutrição quase quadruplicaram. Com dados do Ministério da Saúde, o Fantástico separou só as mortes por desnutrição de crianças de até 5 anos. Foram 152 nos últimos quatro anos, ante 33 no período anterior. Aumento de 360%.

“Esse é um dado que está no Ministério da Saúde e nada foi feito. E ainda há o risco de que esse dado seja subnotificado”, criticou a ministra do Povos Indígenas, Sonia Guajajara. É uma combinacao de crimes ligados ao garimpo que povocu essa crise”, também observa o ministra da Justiça, Flávio Dino. “Temos também lavagem de dinheiro, temos a atuação de organizações criminosas e, nesta questão específica da saúde, não há dúvida que nós temos indícios do crime de genocídio”, afirma.

A PF, Ibama, Funai e Ministério da Defesa já estão planejando operações para expulsar de vez o garimpo. A tarefa é imensa e, para o povo yanomami, pode levar anos para recuperar as roças e os rios voltarem a ter vida. 


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