Ancestralidade

ATL 2023 reforça movimento de ‘aldear a política’

Acampamento Terra Livre debate nesta terça representação de mulheres e LGBTs. Ontem, mais de 200 povos marcharam em frente ao Congresso pela derrubada de PLs anti-indígena

@estercezaar/ISA
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No primeiro dia do ATL, milhares marcharam em frente ao Congresso Nacional para exigir a derrubada de projetos de leis anti-indígenas

São Paulo – Lideranças indígenas de todo o Brasil abriram o segundo dia da edição deste ano do Acampamento Terra Livre (ATL 2023), nesta terça-feira (25), em Brasília, destacando a importância e formas de ampliar a representação indígena oficial nos espaços de poder. O debate fez parte da plenária “Parentíssimos e Parentíssimas; Autoridades Indígenas no Movimento e no Governo”, que contou com a presença da ministra dos Povos Indígenas do Brasil, Sônia Guajajara. 

Em um ato histórico, a titular da pasta foi recebida pelo seu povo, os Guajajara, que a saudaram com cantos ancestrais. O evento também contou com a presença da deputada federal Célia Xabriabá (Psol), a primeira mulher indígena eleita por Minas Gerais, e da presidenta da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana.

Durante a plenária, Joenia destacou a reconstrução da entidade sob o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas ponderou que o órgão ainda precisa ser reestruturado para avançar, após o desmonte promovido pela gestão anterior, do ex-presidente Jair Bolsonaro. 

“O povo está com sede de justiça, o povo está querendo suas terras regularizadas, livres de invasão, o povo está morrendo de conflitos. Nós estamos do lado do povo, nós queremos fazer cumprir essa missão. Mas precisamos estruturar a Funai”, pontuou.

Ameaça do garimpo

As lideranças também lembraram das ameaças aos territórios dos povos originários, denunciando, principalmente, o garimpo em Terras Indígenas. O vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami (HAY), Dário Kopenawa, mostrou imagens da destruição provocada pelos invasores na maior TI do país, que passa hoje por uma situação de emergência sanitária, com crianças, adultos e idosos em condições dramáticas de saúde, vitimados por doenças como malária e pneumonia, desnutrição e contaminação por mercúrio.  

Segundo a liderança, ainda 30 mil Yanomami estão correndo risco de morte por conta da contaminação. Segundo dados extraídos de relatório da HAY, em 2021 o garimpo ilegal avançou 46% em comparação com 2020. No ano passado, já havia sido registrado um salto de 30% em relação ao período anterior. De 2016 a 2020, o garimpo na TIY cresceu nada menos que 3.350%, revela o estudo da Hutukara.

“O nosso pessoal que está aqui em frente tem um grande desafio que é mudar a visão dos gestores não indígenas. Para que as políticas públicas possam chegar de acordo com nossa realidade”, ressaltou o coordenador geral da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Toya Manchineri.

ATL 2023 na abertura

Considerada a maior mobilização indígena do Brasil, a 19ª edição do ATL teve início nesta segunda (24). Mais de 200 povos originários de todo o país estão em Brasília para participar o evento que tem como tema “O futuro indígena é hoje. Sem demarcação, não há democracia!”. A mensagem deste ano reforça a importância da demarcação de terras indígenas no país, que ficou paralisada durante os quatro anos de governo Bolsonaro. Ao longo deste segundo dia do acampamento, também haverão plenárias sobre a representatividade de mulheres e indígenas LGBTs.

Ainda ontem, milhares marcharam em frente ao Congresso Nacional para exigir a derrubada de projetos de leis anti-indígenas. Entre eles, o PL 191/2020, de autoria do ex-presidente, que permite a mineração em terras ancestrais dos povos indígenas. Assim como o chamado “PL da Grilagem”, que regulariza a ocupação ilegal de terras públicas no país.

Para as entidades, essas iniciativas “tornam os indígenas os alvos mais frequentes da violência no campo. Ao longo do ano passado, segundo relatório da Comissão Pastoral da Terra (CPT), recém divulgado, os povos originários representaram 38% das pessoas assassinadas. O ATL 2023 segue até sexta (28), com outras duas marchas. Nesta quarta (26), eles decretam “Emergência Climática”, para enfrentar o racismo ambiental e as violações de direitos causadas pelas mudanças no clima. 


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