Fome Zero

Trabalhadores devem ampliar participação no combate à fome, defende ex-ministro José Graziano

O ex-diretor geral da FAO e ministro do governo Lula conclama os sindicatos ao grande debate: a fome resulta da exploração econômica por empresários que enriquecem mais e mais a cada dia

Ednúbia Ghisi
Ednúbia Ghisi
Em 2014, havia 4 milhões de pessoas passando fome no Brasil. Em 2018, eram 9 milhões. Em 2020, 19 milhões. E neste ano, pelo menos 33 milhões de pessoas

São Paulo – Ex-diretor geral da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) e coordenador do desenvolvimento do programa Fome Zero do governo Lula, José Graziano defendeu nesta terça-feira (21) o envolvimento dos sindicatos no combate à fome. Em participação virtual no Encontro Nacional contra a Fome, promovido pela Ação da Cidadania, ele disse que os trabalhadores “não podem ficar de fora” dessa frente de combate.

“A fome tem a ver fundamentalmente com o baixo poder aquisitivo da população, com salários miseráveis, que são pagos pelos empresários que se enriquecem cada dia mais. Esse é o nosso grande debate”, afirmou.

Em 2014, havia 4 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar grave no Brasil. O país era referência no combate à fome. Em 2018, o número mais que dobrou: 9 milhões de brasileiros. Em 2020, passou para 19 milhões. E agora são pelo menos 33 milhões de pessoas.

Esse aumento corresponde às mudanças trazidas a partir do impeachment da presidenta Dilma Rousseff. É o caso de retrocessos na legislação trabalhista e da desvalorização do salário mínimo.

Encontro Nacional para o combate à Fome

Graziano também defendeu a criação de um Ministério da Alimentação em substituição ao atual Ministério da Agricultura, mais voltado a políticas para incentivar a produção e exportação de commodities do que à produção de alimentos. E também uma Agência Nacional de Alimentação, deixando para a Anvisa a regulação de medicamentos e vacinas.

“Vamos criar uma agência para barrar os agrotóxicos nesse país, para disciplinar o rótulo dos produtos, que regule a propaganda para crianças. Os países civilizados já estão fazendo isso, inclusive aqui da América Latina, como no Chile, de onde estou falando. Então temos de pensar diferente. Não basta recompor o velho Consea (Conselho Nacional de Nutrição e Segurança Alimentar). Temos também de inovar na nossa estrutura de políticas públicas’, defendeu, referindo-se à atual situação do país.

Para a ex-ministra Tereza Campello (Desenvolvimento Social e Combate à Fome, no governo Dilma Rousseff), “não será trivial reconstruir” o país. “Mas temos acúmulo e essa atividade aqui mostra bem isso”, disse, referindo-se a representantes da sociedade civil reunidos no evento.

Aumento da pobreza

Tereza mostrou dados sobre a redução da fome no Brasil durante os governos de Lula e Dilma, bem como os programas de diversos ministérios que, articulados entre si, contribuíram para o êxito. “Em 13 anos o Brasil foi bem sucedido, chegando em 2014 com a mais baixa taxa de pobreza, extrema pobreza e desemprego da sua história”, disse.

“Foi com a Emenda Constitucional 95, do teto de gastos, que a pobreza começou a aumentar. E apesar do pagamento do Auxílio Emergencial, a situação não melhorou justamente por causa do desmonte da rede de proteção social e trabalhista. No tempo do Brasil Sem Miséria saíamos em busca ativa. Hoje, basta sair na rua”, lamentou.

O Encontro Nacional Contra a Fome, que reúne especialistas em políticas e segurança alimentar para debater as causas, consequências e soluções para fome termina nesta quinta-feira (23).

Confira


Leia também


Últimas notícias