Mobilização nacional

Movimentos ocupam Bolsa de São Paulo em protesto contra privatização da Eletrobras

Em ato em frente à B3, sindicatos e organizações sociais exigem a reversão do processo, defendendo a empresa pública

Sindicato dos Bancários de São Paulo/Reprodução
Sindicato dos Bancários de São Paulo/Reprodução
"A partir de agora nossa luta é pela reestatização da Eletrobras, o Brasil não pode conviver sem uma empresa pública no setor mais importante que é o da infraestrutura", destacam os movimentos

São Paulo – Movimentos sociais e sindicatos ocuparam, nesta terça-feira (14), a frente da Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, no centro da capital paulista, em protesto contra a privatização da Eletrobras. Ainda ontem (13), as ações da maior companhia de energia do Brasil fizeram estreia na Bolsa, marcando o início da venda da empresa, considerada estratégica para a soberania e o equilíbrio energético do país. O processo de venda da estatal deve ser concluído hoje, na cerimônia de “toque de campainha” que vem sendo realizada na B3, pelo Ministério da Economia, desde as 12h.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) participa do evento. Ele e outras autoridades foram recebidas sob o forte protesto dos movimentos, que denunciam os impactos negativos dessa operação para a população. Um dos mais imediatos, de acordo com as organizações, será o aumento na conta de luz. O que deve sobrecarregar os consumidores com uma alta de pelo menos 20%. 

Coordenadora do Coletivo Nacional dos Trabalhadores Eletricitários (CNE), Fabiola Latino adverte que a privatização também prejudicará o desenvolvimento brasileiro. “A privatização da Eletrobras vai aumentar a nossa conta de luz. E não é só a conta de luz da conta que pagamos na nossa casa. A Eletrobras é a maior empresa de geração e transmissão da América Latina, é inicio da cadeia produtiva do Brasil. O aumento refletirá na cadeia industrial produtiva, vai acabar com o pouco desenvolvimento que estamos tendo hoje”, alerta Fabiola.

‘Povo não é ouvido’

“A Eletrobras pública é garantidora de projetos sociais no Norte, Nordeste e nas regiões mais carentes do país. A privatização, sem dúvida, vai aumentar nossa conta e isso são várias entidades, instituições, pesquisadores e a agência reguladora do setor elétrico que disseram. Mas os estudos que comprovam que esse aumento de tarifa que vai vir não foram mostrados à sociedade. E não foram mostrados porque se tivessem (sido) não eram 56% dos brasileiros contra a entrega da Eletrobras, seriam 100% dos brasileiros defendendo a Eletrobras pública, a energia limpa e o desenvolvimento do país”, acrescenta. 

Além da CNE, a manifestação desta terça foi convocada pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e pelas frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo. Em paralelo, os movimentos também protestam em atos na sede da Eletronorte, em Brasília, e na frente da sede da CGTEletrosul, em Florianópolis. Ainda ontem, o Comitê Nacional em Defesa de Empresas Públicas e o senador Paulo Paim (PT-RS) realizaram um ato na Comissão de Direitos Humanos do Senado também em defesa das empresas públicas e do patrimônio nacional.

Durante o ato de hoje, o Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região criticou que o presidente “gosta de falar do Data Povo, mas quando o povo está aqui para dizer pra ele o que pensa, fora dos cercadinhos de Brasília, ele não vem ouvir”. No processo de privatização da Eletrobras, consolidado na última quinta (9), o governo definiu o preço de cada ação em R$ 42, resultando em uma arrecadação inicial de R$ 29,29 bilhões. O montante pode chegar a um valor superior a R$ 33 bilhões, levando em consideração a possibilidade da inclusão de lotes extras de ações. Mas, ainda assim, está R$ 40 bilhões abaixo de seu valor, destacam os eletricitários.

Impactos da privatização

De acordo com os movimentos, há erros e omissões reconhecidas pelo ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Vital do Rêgo. Em julgamento em maio sobre o processo de venda da estatal, ele foi o único ministro que se posicionou contra a privatização. No julgamento, Vital do Rêgo disse que a Eletrobras estava sendo entregue a “preço de banana” por causa da pressa imposta pelo governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) para a conclusão do negócio, a quatro meses da eleição. O ministro ainda demonstrou preocupação com o possível aumento nas contas de luz após a privatização. 

“Bolsonaro está vindo para entregar a Eletrobras para a iniciativa privada, essa empresa tão fundamental para a infraestrutura e para possibilitar um Brasil desenvolvido e verdadeiramente soberano. Bolsonaro vem atacando as empresas públicas. Atacou a Petrobras, vendeu refinarias, fatiou a Caixa Econômica Federal nessa mesma B3 e agora quer entregar mais esse patrimônio público. Ele nada fez, desprezou a população, desprezou o povo, e ignorou as pautas dos trabalhadores e trabalhadoras. E agora quer entregar essa empresa fundamental para o Brasil”, criticou o diretor executivo do Sindicato dos Bancários Chico Pugliesi, durante o protesto. 

Ao todo, a Eletrobras controla hoje 125 usinas, com capacidade de 50 mil megawatts, 71 mil quilômetros de linhas de transmissão e 335 subestações de eletricidade, operadas por 12.500 trabalhadores. De acordo com o Dieese, a empresa alcançou investimentos em torno de R$ 200 bilhões entre 2000 e 2021. Caso concretizado o processo de venda, o Estado perde o controle acionário da empresa, que estava na casa de 62%, reduzindo sua participação para cerca de 45%.

Luta pela reestatização

Com isso, “o país fica vulnerável aos interesses de rentistas e fundos financeiros, que poderão impor aumentos abusivos no preço da energia a qualquer momento”, observa o MAB. Engenheiro da Eletrobras, Ikaro Chaves afirmou no ato que a luta agora será pela reestatização da empresa. De acordo com ele, a categoria e os movimentos desde o governo de Michel Temer (MDB) tentam impedir a privatização. Mas a “truculência” do governo Bolsonaro “atropelou as próprias promessas de campanha e a maioria da população brasileira, que é contra a venda da empresa”.

“A partir de agora nossa luta é pela reestatização da Eletrobras, o Brasil não pode conviver sem uma empresa pública no setor mais importante que é o da infraestrutura do Brasil e de qualquer país do mundo”, destacou Chaves.

Redação: Clara Assunção – Edição: Helder Lima

(*) Com informações do Sindicato dos Bancários de São Paulo e da CUT


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