Onde estão Bruno e Dom Phillips?

‘Lentos demais’: ONU critica desprezo do governo com desaparecidos no Amazonas

“Reposta inicial foi lamentavelmente extremamente lenta”, afirmou o Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, que cobrou empenho do governo Bolsonaro

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A Apib ingressou nesta sexta (10) com petição no Supremo Tribunal Federal (STF) cobrando também empenho do governo Bolsonaro nas buscas por Bruno Pereira e Dom Phillips

São Paulo – O Alto Comissário da Organização das Nações Unidas (ONU) para os Direitos Humanos pediu, nesta sexta-feira (10) que as autoridades brasileiras e o governo de Jair Bolsonaro “redobrem” os recursos e esforços disponibilizados para as operações de buscas pelo indigenista Bruno Araújo Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips. Os dois estão desaparecidos desde domingo (5) na região do Vale do Javari, no Amazonas. Mas entidades precisaram recorrer à justiça para exigir o uso imediato de helicópteros, embarcações e equipes de buscas para localização do servidor licenciado da Funai e do colaborador do jornal britânico The Guardian

A situação foi destacada pelo comitê da ONU em entrevista coletiva nesta manhã, em Genebra. A porta-voz da agência das Nações Unidas, Ravina Shamdasani, afirmou que a resposta do governo Bolsonaro foi “extremamente lenta”. E lamentou que o incidente foi “desdenhado” por autoridades. “Uma linguagem de desdenhar foi inicialmente usada o que foi muito lamentável”, contestou. Apesar de não citar nomes, o comentário foi resposta ao presidente Bolsonaro e autoridades do governo que, em diversas ocasiões, responsabilizaram Bruno e Phillips pelo próprio desaparecimento. 

Nesta terça (7), o mandatário alegou que a dupla fazia uma “aventura não recomendada”. A ONU frisou, no entanto, que a proteção dessas pessoas é responsabilidade do Estado”. “A resposta (do governo ao desaparecimento) foi extremamente lenta, infelizmente. Achamos bom que agora, após uma medida judicial, as autoridades tenham empregado mais meios para as buscas. (…) O Estado tem a responsabilidade de proteger o trabalho de jornalistas e de defensores dos Direitos Humanos. Eles têm a obrigação de assegurar o direito à segurança e de iniciar uma investigação”, garantiu a porta-voz. 

Governo dá aval para violência

A agência da ONU também disse estar preocupada com os “constantes ataques e perseguições enfrentados por defensores dos direitos humanos, ambientalistas e jornalistas no Brasil”. Ravina Shamdasani disse ainda que o órgão tem ciência que autoridades brasileiras do alto escalão “têm feito declarações lamentáveis contra jornalistas”. O que, de acordo com as Nações Unidas, “pode resultar num endosso para aqueles que querem cometer ataques contra jornalistas por seu trabalho”. 

Ela ressaltou que Dom Phillips e Bruno Pereira “fazem um papel importante na região, levantando alertas e inclusive monitorando e reportando atividades ilegais no Vale do Javari”. A viagem dos dois tinha como objetivo denunciar a invasão de terras indígenas por garimpeiros, madeireiros e pescadores e caçadores ilegais – defendidos por Bolsonaro. Esta sexta marca o quinto dia de buscas pelo jornalista e o indigenista na região, sem informações do paradeiro de ambos. 

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5º dia de buscas

Até o momento, a Polícia Civil diz ter como suspeito de envolvimento Amarildo da Costa de Oliveira, conhecido como Pelado. Ele teve a prisão temporária decretada na noite desta quinta (9) pela Justiça do Amazonas, após pedido do Ministério Público do estado. Segundo testemunhas, ele foi visto em sua lancha perseguindo o barco onde estavam Bruno e Phillips. A embarcação foi apreendida pela polícia que encontrou vestígios de sangue. As amostras serão analisadas e comparadas ao material genético de familiares dos desaparecidos para saber se é sangue humano ou animal. 

Apesar dos apelos, entidades de direitos humanos e lideranças indígenas seguem criticando e denunciando a falta de ação e recursos do governo Bolsonaro. A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) ingressou hoje com uma petição no Supremo Tribunal Federal (STF) cobrando empenho nas buscas. De acordo com a entidades, as aeronaves disponíveis “não foram usadas de maneira eficiente”. Há também “poucos barcos e agentes públicos atuando no caso”, observa a Apib. 

Redação: Clara Assunção – Edição: Helder Lima

(*) Com informações do UOL