Em São Paulo

Entidades ocupam a Faculdade de Direito da USP em ato ‘Pelas Vidas da Cracolândia’

Protesto que será realizado nesta terça, às 18h30, vai chamar atenção para as operações policiais violentas contra usuários de drogas e pessoas em situação de rua no centro da capital paulista

Polícia Civil/Divulgação
Polícia Civil/Divulgação
Organizações denunciam que dispersão dos usuários de drogas não só não soluciona as questões da Cracolândia, como também resulta em outros problemas

São Paulo – Entidades da sociedade civil irão ocupar a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), na região central da capital paulista, nesta terça-feira (28), a partir das 18h30, no ato público “Pelas Vidas da Cracolândia”. O evento reunirá frequentadores e moradores da região, militantes pelos direitos humanos, profissionais, professores, membros do sistema de Justiça e voluntários que atuam em prol da população do território. 

A proposta é chamar a atenção pública para a violência das operações policiais contra pessoas que vivem em situação de rua e usuários de substâncias psicoativas, que transitam pela região conhecida pejorativamente como Cracolândia. As entidades organizadoras do ato público também irão exigir das autoridades e órgãos públicos medidas voltadas para o território. 

Integrante da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil em São Paulo (OAB-SP), Gabriella Arima comenta que as propostas e sugestões serão desenhadas a partir da escuta das necessidades levadas pelas vozes presentes no ato. “A partir desse evento vamos começar a elaboração dessas propostas e sugestões. Isso porque a gente entende que é preciso ter essa escuta ativa principalmente dos atores que já estão há tantos anos na região. Queremos também escutar eles para entendermos quais são as propostas e as reivindicações que temos que fazer perante o Estado”, explica Gabriella.

Denúncias de violação

Há décadas, a Cracolândia é alvo de contradições e violações. Mas, em março, teve início outro capítulo envolvendo o território após uma operação policial expulsar os usuários do entorno da Praça Júlio Prestes. A ação não deu fim à Cracolândia, apenas mudou o endereço do fluxo – ponto de venda e consumo de drogas – que passou a ocupar a Praça Princesa Isabel

Pouco meses depois, em maio, uma nova operação policial contra o tráfico de drogas dispersou novamente o fluxo. O que fez com que os frequentadores da região se espalhassem pelas ruas do centro. A psicóloga Maria Angélica Comis, coordenadora do Centro de Convivência É de Lei, organização voltada à redução de danos associados ao uso de drogas, explica que essa fragmentação não só não soluciona as questões da Cracolândia, como também resulta em outros problemas. Entre eles, impede a atuação longitudinal dos trabalhadores da saúde, da assistência social e dos redutores de danos. 

“Com essa dispersão e fragmentação, muitas vezes os trabalhadores perdem mais tempo procurando a pessoa do que efetivamente garantindo um atendimento. O segundo problema é que fizeram com que se criasse um clamor público perante a população por internações. Então, foi uma ação desastrosa da prefeitura, porque ela fez dispersar as pessoas. E isso impactou a vida de diferentes moradores da região que não estavam acostumados com as pessoas usando drogas em frente às suas casas. Outro ponto que nos preocupa é a possibilidade de utilização dessa dispersão para desvalorizar alguns imóveis. E, com isso, tentar realizar novas desapropriações no território para responder à especulação imobiliária”, denuncia Maria Angélica.

Aumento da violência

O aumento da violência muitas vezes velada é outra consequência da dispersão do fluxo da Cracolândia. Integrante da Craco Resiste – coletivo que atua contra a violência policial no território –, Daniel Mello destaca casos de ações policiais que não são conhecidos, já que não há mais apenas um endereço da Cracolândia para onde a atenção pública é voltada. 

“O primeiro efeito é uma falta de transparência, quando você não sabe exatamente onde as pessoas estão, porque elas ficam em múltiplos pontos de atenção. E se violenta essas pessoas e muitas vezes nós nem ficamos sabendo. Temos circulado pelo centro de São Paulo e há locais que não são falados publicamente, mas que têm concentrações que eram da Cracolândia, e são feitas operações policiais que agridem e prendem essas pessoas”, observa Mello.

O ato público “Pelas Vidas na Cracolândia” será realizado na Sala dos Estudantes da Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco.

Confira a reportagem


Leia também


Últimas notícias