Ligações suspeitas

MP do Rio faz operação contra rede de apostas de bicheiro e Ronnie Lessa

Rede de jogos de azar explorada pelo miliciano acusado de matar a vereadora e o motorista Anderson Gomes era acobertada por policiais, segundo investigação do MP-RJ. Operação deflagrada nesta terça (10) apreendeu R$ 2 milhões em casa de delegada

MP-RJ/Divulgação
MP-RJ/Divulgação
Tratativas para que o ex-PM virasse sócio de um bingo na Barra da Tijuca, zona Oeste do Rio, começaram em abril de 2018, dias após o 14 de março, data do crime contra Marielle

São Paulo – Provas do processo sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes foram compartilhadas para a deflagração, nesta terça-feira (10), da Operação “Calígula”, do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ). A ação teve como alvo uma organização voltada à exploração de jogos de azar no Rio e em outros estados. Segundo o MP, a quadrilha é integrada por dezenas de pessoas, incluindo o policial militar reformado Ronnie Lessa, acusado de executar Marielle e Anderson, em março de 2018. 

As denúncias oferecidas pelo MP apontam que a estrutura ilegal, formada por casas de apostas e bingos, é liderada pelo bicheiro Rogério de Andrade e seu filho, Gustavo de Andrade. Eles são acusados pelos crimes de organização criminosa, corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro.

As denúncias também mostram que a parceria entre o bicheiro e o Ronnie Lessa é antiga, “com elementos de prova de sua existência desde 2009”. No entanto, a Promotoria identificou que em 2018, poucos dias depois do assassinato de Marielle e Anderson, os dois denunciados se aproximaram ainda mais.

Segundo informou o jornal O Globo, as tratativas para que o ex-PM virasse sócio de um bingo na Barra da Tijuca, zona oeste da capital fluminense, começaram em abril de 2018, poucos dias após o 14 de março, data do crime contra a vereadora e o motorista. 

Policiais envolvidos

Além dos mandados contra Rogério e Gustavo de Andrade, além do próprio Ronnie Lessa, foram expedidos outros 29 mandados de prisão e 119 mandados de busca e apreensão – Lessa atualmente aguarda preso o julgamento pelo assassinato da vereadora. Até a manhã de hoje, segundo a Polícia Civil, 11 pessoas haviam sido presas.

As investigações também mostraram que a rede de exploração de jogos de azar era acobertada por policiais. Entre eles, o delegado Marcos Cipriano de Oliveira Mello, levado para a Corregedoria da Polícia Civil. Assim como a delegada Adriana Cardoso de Belém, que por anos foi titular do 16º Distrito Policial (DP), na Barra. 

Ela deixou o comando daquele DP em janeiro de 2020, um dia depois de o chefe do Setor de Investigações (SI) da delegacia ser preso na Operação “Os Intocáveis 2” que visava desarticular a alta cúpula do grupo de milicianos que atuava no bairro de Rio das Pedras, também na zona oeste da cidade.

Naquele mesmo ano, a delegada chegou a se candidatar a vereadora no Rio, pelo PSC, mas não foi eleita. Na casa da policial, os investigadores encontraram quase R$ 2 milhões em espécie. O MP relata ainda que Lessa e Adriana teriam fechado um acordo, intermediado por Marcos Cipriano, em troca de propina paga por Rogério de Andrade, “viabilizou a retirada em caminhões de quase 80 máquinas caça-níquel apreendidas”. 

Provas contra Lessa

“O bingo financiado por Rogério de Andrade, e administrado por Ronnie Lessa e Gustavo de Andrade e outros comparsas, foi fechado pela Polícia Militar no dia de sua inauguração. Em seguida, após ajustes de corrupção com policiais civis e militares, a casa foi reaberta e as máquinas apreendidas, liberadas, conforme narrado”, diz o MP-RJ. 

A denúncia traz ainda os nomes dos policiais militares Márcio Araújo de Souza e Daniel Rodrigues Pinheiro. Os dois seriam responsáveis pela segurança da organização criminosa. Com a operação desta terça, o MP-RJ disse esperar desbaratar o esquema dos pagamentos de propina dos Andrade. Mas o órgão também apontou expectativa de produzir novas provas contra Ronnie Lessa. 

O caso foi comentado pela deputada federal Talíria Petrone (Psol-RJ). Em suas redes, a parlamentar ressaltou que “a cada dia aparece um nova denúncia contra o miliciano acusado de matar Marielle Franco”. Para ela, a relação entre as casas de apostas, abertas depois da execução, causa estranhamento. “Queremos explicações e precisamos saber quem mandou matar Marielle”, cobrou Talíria.

(*) Com informações dos jornais O Globo, Extra e CNNRedação: Clara Assunção 


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