Terror nas favelas

Chacina: operação policial no Rio deixa ‘cenário de guerra’ e 22 mortos

Ação na Vila do Cruzeiro começou por volta das 4h. Segundo Instituto Fogo Cruzado, “esta é a maior chacina do ano”, superando a de fevereiro, na mesma comunidade

PMERJ/Reprodução
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A segunda maior também havia sido realizada, em fevereiro deste ano, pela PM e PRF, também na Vila do Cruzeiro, quando nove pessoas foram mortas pela polícia

São Paulo – Sob o argumento de procurar por chefes do Comando Vermelho (CV) que estariam escondidos na comunidade, agentes do Batalhão de Operações Especiais (Bope), da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e da Polícia Federal (PF) deflagraram “a maior chacina do ano” no Rio. Desde cerca de 4h da manhã desta terça-feira (24), quando foi iniciada a violenta operação policial na Vila do Cruzeiro, zona norte da cidade, ao menos 22 pessoas foram mortas, segundo atualização das informações às 18h – nenhuma delas era das polícias.

Moradores relatam um “cenário de guerra” com intenso tiroteio. Pelo menos 11 escolas da rede municipal precisaram suspender as aulas devido à operação, segundo a secretaria municipal de Educação. Vídeos registrados pelo jornal Voz das Comunidades, mostraram um helicóptero blindado da Polícia Militar (PM) dando apoio aos agentes em terra. Entre os mortos, está a moradora Gabriele Ferreira da Cunha, de 41 anos, atingida por “bala perdida”. 

O ouvidor-geral da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, Guilherme Pimentel, protestou contra operação, afirmando que “ações do gênero jamais seriam toleradas em bairros nobres da cidade. E é preciso que também não sejam mais toleradas nas favelas do Rio de Janeiro”, contestou.

“Ninguém merece passar por isso. Essas operações policiais em favelas colocam em risco a vida de toda a população, impedem o funcionamento de serviços públicos e do comércio, inviabilizam a saída de milhares de pessoas para trabalhar e estudar, gastam rios de dinheiro e não resolvem absolutamente nenhum problema de segurança”, lamentou Pimentel. 

Execução sumária

A polícia afirma que as outras 12 pessoas mortas – que até o fechamento desta matéria ainda não tinham sido identificadas – estariam envolvidas em atividades criminosas. A corporação também alega ter sido atacada a tiros quando iniciava uma “operação emergencial” na comunidade.

O argumento chamou atenção da vereadora Tainá de Paula (PT) que questionou a reprodução da justificativa pelos meios de comunicação em seu Twitter. “Em que momento o Código Penal Brasileiro alterou tanto que perdi o ponto que permite execução sumária, gente?”. “Dez pessoas executadas à luz do dia, moradores morrendo com bala perdida e a mídia tratando com normalidade”, criticou. 

A parlamentar foi até a comunidade, e relatou ter visto “cenas de guerra”. “Quase uma centena de mães e familiares em busca de notícias dos desaparecidos. Notícias de corpos e feridos na mata”. Tainá também cobrou responsabilização do governador do Rio, Cláudio Castro (PL). “A normalização da barbárie que vive a favela é parte da política de morte do Estado”, comentou. 

Por volta das 12h, o tiroteiro recomeçou na região e um policial civil foi atingido no rosto, elevando o número de feridos para cinco.

Maior chacina do ano

O Instituto Fogo Cruzado, que reúne dados sobre a violência armada, informou que essa operação policial conjunta já é “a maior chacina do ano até agora” na região do Grande Rio, referindo-se a este ano. Até hoje, a maior também havia sido cometida na Vila do Cruzeiro. Em fevereiro, ação semelhante da PM e da PRF provocou a morte de nove pessoas. “Parece replay, mas não é”, escreveu o Instituto Fogo Cruzado. 

Redação: Clara Assunção


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