ERA DIGITAL

Redes sociais se tornaram atores políticos relevantes, afirma especialista

Interesses econômicos da grandes plataformas digitais favorecem segmentos que disseminam mensagens de ódio e notícias falsas para aumentar o engajamento dos usuários

CC0/Domínio Público
CC0/Domínio Público
Os funcionários do Facebook alertaram por anos sobre a desinformação e potencial risco de radicalizar os usuários da plataforma

São Paulo – As redes sociais, como Facebook e WhatsApp, têm se tornado atores relevantes para o debate político, com capacidade de interferir em eleições e ajudar na ascensão de perfis e páginas de extrema direita. Já há alguns meses, ex-funcionários do Facebook vêm denunciando que a empresa sabe como fazer das suas plataformas ambientes mais seguros, o que não acontece por conta da maximização dos lucros.

“Estamos lidando com um ambiente que se apresenta como público, mas que opera por meio de regras privadas. São as plataformas que determinam seus termos de uso, o que pode e não pode circular ali, e evidentemente decidem isso com base em seus interesses próprios”, afirma o professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) Viktor Chagas, membro associado do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital (INCT.DD).

Nem sempre tais interesses são políticos a priori, mas se relacionam a ganhos econômicos e acabam favorecendo segmentos que disseminam mensagens de ódio e notícias falsas. “Como o objetivo das plataformas é manter os usuários conectados, ´é fundamental que o conteúdo suscite engajamento. Nesse sentido, elas se apropriam de uma lógica perversa, em que alguns dos conteúdos são privilegiados em relação ao alcance e visibilidade, atuando no sentido de difundir desinformação”, acrescentou, em entrevista a Glauco Faria, no Jornal Brasil Atual.

Em meio às revelações dos ex-funcionários, veio à tona o fato de pesquisadores do Facebook terem realizado um teste constatando que os algoritmos da rede social são capazes radicalizar os usuários por meio de conteúdos polarizados. O experimento ficou conhecido como a “Jornada de Carol”.

Redes sociais e eleições

Nos Estados Unidos, cerca de 50 milhões de pessoas tiveram suas informações vazadas para a empresa de marketing político Cambridge Analytica por meio de testes de personalidade na rede social. O vazamento contribuiu para a eleição de Donald Trump, em 2016. Já no Brasil, o influência eleitoral se deu a partir do WhatsApp, com a disseminação de mensagens.

Para o pesquisador da UFF, é importante diferenciar as mecânicas eleitorais e a apropriação dessas plataformas em contextos regionais. “No Estados Unidos, houve uma micro-segmentação de dados, destinando mensagens para perfis de usuários e eleitores, filtrados pela própria plataforma. Já no Brasil, houve uma dinâmica eleitoral calcada no WhatsApp, que se apresenta de maneira mais opaca e diz garantir a privacidade. E nesse ambiente você lida com riscos ainda maiores, com disseminação rápida da desinformação e do discurso de ódio.”

A linguagem e a maneira de se comunicar também fazem parte desse processo. Os memes, por exemplo, têm ajudado na disseminação do ódio, após a extrema direita usá-los como estratégia no debate político. De acordo com Chagas, o meme se tornou uma arma desses grupos ultraconservadores para fortalecer determinados imaginários.

“Se antes, o humor gráfico era a charge, os memes fluem de maneira mais volátil e com maior capacidade de acesso. Tornaram-se uma linguagem da comunicação. Na mão dos ultraconservadores, o humor tem menos constrangimento, ou seja, fazer piada racista ou homofóbica não é objetivo de reflexão. Portanto, a arma deles se torna mais demolidora. O meme é sintético e desperta um engajamento muito grande”, explicou.

Confira a íntegra da entrevista


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