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Padre Júlio, do povo de rua de São Paulo, ganha homenagem da Assembleia

Defensor dos moradores das ruas e dos direitos humanos, religioso está há 36 anos pregando e praticando a solidariedade

Reprodução
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Em fevereiro, padre Júlio usou uma marreta para destruir pedras sob um viaduto, colocadas para espantar moradores. Depois, ajudou a plantar flores

São Paulo – O padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de São Paulo, receberá nesta quinta-feira (4) homenagem da Assembleia Legislativa. O 1º secretário da Casa, deputado Luiz Fernando Teixeira (PT), entregará um “colar de honra”. A proposta foi apresentada pelo presidente do Grupo Tortura Nunca Mais, o advogado Ariel de Castro Alves.

Criada em 2015, a honraria é destinada a pessoas “que tenham atuado de maneira a contribuir para o desenvolvimento social, cultural e econômico” do estado. O religioso, que completará 73 anos em dezembro, é conhecido por sua defesa dos direitos humanos. A cerimônia está marcada para as 19h30 de hoje, no Plenário Juscelino Kubitschek, com transmissão pela TV Alesp.

Verdadeiro cristianismo

“O padre Júlio representa a igreja ao lado dos pobres, dos excluídos e na defesa dos direitos humanos”, afirmou Ariel à revista Fórum. “Ele resgata os princípios da Teologia da Libertação e o trabalho das comunidades eclesiais. Exerce o verdadeiro cristianismo.”

Em fevereiro, o religioso chamou a atenção da opinião pública ao usar uma marreta para quebrar pedras que haviam sido colocadas sob um viaduto na zona leste paulistana, em possível ação contra moradores de rua. Alguns dias depois, organizou um ato para plantar flores no mesmo local.

Padre há 36 anos

Ordenado sacerdote em 1985 por dom Luciano Mendes de Almeida e designado vigário episcopal para o Povo de Rua por dom Paulo Evaristo Arns, o padre Júlio também foi professor. É pároco da igreja de São Miguel Arcanjo, na Mooca, zona leste. Criou a Casa Vida nos anos 1990, quando, como ele mesmo diz, a aids era considerada uma “peste”. Seu trabalho ao lado de voluntários não foi interrompido com a pandemia.

Nestes 36 anos, padre Júlio também vem enfrentando políticas higienistas dos governantes e a constante violência contra moradores de rua. Ele estima essa população em pelo menos 30 mil pessoas na cidade. A solidariedade é uma dimensão humana, não religiosa, costuma repetir.