FASCISMO DIGITAL

iFood tem nomes de restaurantes com frases pró Bolsonaro e ataques contra Marielle

Restaurantes também tiveram denominações mudadas para mensagens contra a vacinação

REPRODUÇÃO
REPRODUÇÃO
Usuários da rede de delivery mostram, através de suas redes sociais, que alguns estabelecimentos foram exibidos com termos como "Lula Ladrão" e "Bolsonaro 2022"

São Paulo – O iFood sofreu um ataque virtual, na noite da última terça-feira (2), e os restaurantes cadastrados tiveram seus nomes alterados para frases pró-Jair Bolsonaro. De acordo com o aplicativo, a ação foi feita por um funcionário que tinha acesso ao sistema da empresa.

Usuários da rede de delivery mostram, por meio de suas redes sociais, que alguns estabelecimentos foram exibidos com termos como “Lula Ladrão” e “Bolsonaro 2022”. Além disso, a ação também atacou Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro assassinada em 2018, e fez falsas alegações como “Vacinas Matam”.

Em nota, o iFood disse que o episódio foi causado por meio da conta de um funcionário de uma empresa prestadora de serviço de atendimento que tinha permissão para ajustar informações cadastrais dos restaurantes na plataforma, “e que o fez de forma indevida”.

O fato coincide com a saída do aplicativo como principal patrocinador do podcast Flow, nos últimos dias, após um dos participantes do programa ter questionado redes sociais: “Ter uma opinião racista é crime?”. O Sleeping Giants, perfil destinado a desmonetizar conteúdos que propagam desinformação nas redes, apontou a correlação.

“As empresas não querem patrocinar fake news e discurso de ódio porque também sofrem ataques da milícia digital. Ontem foi a Fiat e a Gerdau, hoje o Ifood, amanhã quem será?”, questionou o perfil.

Ataque fascista

O conteúdo do ataque ao aplicativo foi comentado nas redes sociais e os usuários questionaram o foco em Marielle. O educador e ativista Jota Marques alertou para a antecipação do clima eleitoral. “Essa fita aí do iFood é só a pontinha do iceberg que nos aguarda em 2022! Vai ter que ser com coragem porque a covardia vai cantar”, tuitou.

Em sua coluna no Uol, o jornalista Leonardo Sakamoto afirmou que o ataque à figura de Marielle “não foi um fato isolado, mas um breve afloramento de um lençol freático de esgoto que segue borbulhando no subterrâneo da sociedade”.

O deputado federal Ivan Valente (Psol-SP) chamou o caso de “fascismo sem limites”. “É inacreditável que as milícias digitais bolsonaristas tenham invadido o IFood e zombado do ASSASSINATO de Marielle. Há muito tempo os limites ficaram para trás. Mas é cada vez mais evidente a desumanidade dessa horda odienta que segue o presidente”, criticou em seu Twitter.

O psiquiatra e professor da Unicamp Luís Fernando Tófoli afirma que o episódio do “hackeamento” do Ifood expõe a gravidade o tamanho do ecossistema neofascista da internet brasileira.

“De qualquer forma, o gozo gorduroso com o qual os cyberfascistas raiz têm com a afronta à memória da Marielle é a notícia mais grave para quem tem esperanças de que a humanidade desta nação – que nunca foi mesmo muito brilhante neste quesito – possa ser resgatada em breve”, disse em sua rede social.