ESTADO DE VIOLÊNCIA

Chacina no Salgueiro é caso ‘desastroso, abjeto e inadmissível’, afirma deputada

Em 2021 foram registradas 38 chacinas no estado do Rio de Janeiro, sendo 27 cometidas por policiais, aponta a Rede de Observatórios de Segurança

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Para a parlamentar, os possíveis 20 mortos são resultados de uma equivocada política de segurança pública implementada os últimos 30 anos

São Paulo – Moradores do Complexo do Salgueiro, na cidade fluminense de São Gonçalo, retiraram oito corpos de um manguezal nesta segunda-feira (22). De acordo com os moradores, no entanto, o número de mortos pode chegar a 20, pois há desaparecidos. Na avaliação da deputada estadual Mônica Francisco (Psol), o caso é totalmente “desastroso, abjeto, inadmissível em um Estado democrático de direito”.

Em entrevista a Glauco Faria, no Jornal Brasil Atual, a parlamentar lamentou que, mais uma vez, mulheres negras estejam envolvidas no processo de dor e mobilização para encontrar o corpo de seus próprios filhos. A chacina no Salgueiro ocorreu após a realização de uma operação do Batalhão de Operações Especiais (Bope), na madrugada do último sábado (20).

Para a deputada, os possíveis 20 mortos são resultados de uma equivocada política de segurança pública em curso nos últimos 30 anos e que não promove nenhuma segurança. “Eles aplicam o orçamento no confronto e ostensividade. No ano que vem, a pasta tem R$ 12 bilhões. Essa política equivocada de segurança não respeita a população e a polícia opera dentro da ótica da vingança”, criticou.

Chacina no Salgueiro não é fato isolado

Segundo a Rede de Observatórios de Segurança, entidade composta por organizações acadêmicas e da sociedade civil que monitora e difunde informações sobre segurança pública, a chacina do Salgueiro não é um episódio isolado. até outubro deste ano foram registradas 38 chacinas no estado do Rio de Janeiro, sendo 27 cometidas por policiais, resultando em 128 mortes.

A parlamentar afirma ainda que é necessário que o Supremo Tribunal Federal (STF), que aceitou a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 635 em decisão liminar do ministro Edson Fachin, analise em plenário o mérito da ação e ratifique a decisão. Em vigência desde junho de 2020, a decisão proíbe operações policiais nas favelas e periferias do Rio para casos excepcionais durante a pandemia.

“Precisamos de uma resposta urgente. Estamos em um Estado democrático e o Supremo precisa se manifestar. É preciso que as instituições atuem de maneira célere. Se nada for feito, vamos ver, de maneira triste, o número de mortos só aumentar”, disse Mônica.

A parlamentar lamenta que o Ministério Público, responsável pelo controle externo das atividades policiais, siga fazendo um trabalho insuficiente em casos similares. “O Ministério Público é um órgão do Estado que deveria monitorar as ações policiais, mas há uma certa dificuldade para que isso aconteça. Vejo com preocupação essa omissão, ainda mais porque no governo Bolsonaro as instituições viraram alvo de ingerência, o que dificulta a autonomia dos órgãos”, criticou.

Confira a entrevista