Violência crescente

Famílias sem-terra são feitas reféns na Bahia. MST denuncia participação de bolsonaristas

Ônibus foram queimados e casas e veículos foram depredados por cerca de 20 homens fortemente armados que exigiam a localização de dirigentes locais do MST. Atentado é parte de ação financiada para atacar o movimento

MST/Bahia/Reprodução
MST/Bahia/Reprodução
Ataque a assentamento do MST foi executado por cerca de 20 homens

São Paulo – O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) denunciou neste domingo (31) um atentado contra famílias camponesas do Assentamento Fabio Henrique, no município de Prado, na Bahia. De acordo com o MST, os sem-terra foram feitos reféns por um grupo de mais de 20 homens encapuzados e fortemente armados. Segundo testemunhas, eles chegaram ao local atirando em direção aos trabalhadores que estavam reunidos em assembleia durante a manhã de ontem. 

Dois ônibus usados pelos agricultores foram queimados. Os criminosos também depredaram casas e os disparos atingiram três carros que estavam estacionados na praça da agrovila. Segundo o movimento, com as armas apontadas para a cabeça dos trabalhadores, os criminosos exigiam que fossem localizadas as lideranças regionais do MST. 

“Durante o atentado, vários trabalhadores foram perseguidos e tiveram que adentrar em meio à plantação de eucalipto, circunvizinha ao assentamento”, descreveu a organização em suas redes sociais. Apesar da ação, ninguém ficou ferido, mas as famílias estão aterrorizadas. Esta é a primeira vez que o assentamento é alvo de um atentado, segundo o movimento, que descreveu à reportagem que o sentimento dos agricultores ainda é de “muito medo”.

Durante a ação dos criminosos, disparos atingiram três carros que estavam estacionados na praça da agrovila

Participação de bolsonaristas

Em nota, a direção nacional do MST atribuiu o atentado “a uma ação coordenada, com apoio de grupos bolsonaristas a nível local e nacional”. Segundo a direção, esses grupos “financiam e recrutam milicianos, com objetivo específico de atacar o Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra”. O movimento afirma que trabalhadores rurais conseguiram identificar alguns dos criminosos como pessoas ligadas a grupos de apoio ao presidente da República. Durante a campanha eleitoral em 2018, Bolsonaro também pregava “receber os invasores de terra a bala”. 

Ainda segundo os agricultores, esses indivíduos também frequentariam o Casarão Brasil, um espaço de articulação bolsonarista localizado no município de Teixeira de Freitas, cerca de 80 quilômetros de distância de Prado. No Facebook, o grupo se descreve como “instituição civil e popular, sem fins econômicos, que se compromete em lutar, de forma prática, pela liberdade e os valores tradicionais judaico-cristãos”. Recentemente, em 16 de outubro, a página compartilhou um vídeo em que Bolsonaro chama o título de propriedade rural de “carta de alforria”, em alusão do documento usado na época da escravidão para libertação de escravos. 

Com a chamada “governo Bolsonaro libertando o povo das mãos do MST”, a publicação do Casarão Brasil agradece ao presidente que declara ter entregue 800 títulos da reforma agrária ao assentamento Rosinha do Prado. O local fica na divisa com o assentamento Fabio Henrique, alvo do atentado.

No Facebook, o grupo se descreve como “instituição civil e popular, sem fins econômicos, que se compromete em lutar, de forma prática, pela liberdade e os valores tradicionais judaico-cristão”

Investigações

Um boletim de ocorrência (B.O) foi registrado pelas famílias do assentamento neste domingo. Elas permanecem no local sob a escolta da Polícia Militar. Para o MST, também é estranho que o atentado tenha ocorrido próximo à estreia do filme Marighella. A obra será exibida neste sábado (6), no assentamento Jacy Rocha, também próximo ao Fabio Henrique.

O evento será um ato político e contará também com a participação do diretor do longa-metragem Wagner Moura. Os atores Bruno Gagliasso e Henrique Vieira, que atuam no filme, também participam do ato.

O MST declarou que está em contato com a Secretaria de Segurança Pública da Bahia. A reportagem procurou o órgão, questionando sobre a abertura de uma investigação. A pasta redirecionou os questionamentos à assessoria da Polícia Civil, que não atendeu à reportagem.


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