Interior da Bahia

Antiga fábrica de celulose, assentamento do MST que exibirá ‘Marighella’ é referência em agroecologia

Área com mais de 200 famílias passou às mãos dos sem-terra em 2015, para produção de alimentos saudáveis

Cadu Souza/MST
Cadu Souza/MST
Assentamento fica em local antes destinado a produção de celulose. Após longa negociação, passou para os sem-terra em abril de 2015

São Paulo – As mais de 200 famílias do Assentamento Agroecológico Jacy Rocha, em Prado, no litoral sul da Bahia, terão neste fim de semana atividades culturais que irão atrair olhares inclusive de outros países. A programação inclui a Jornada da Juventude Camponesa e uma feira agroecológica, com itens produzidos em assentamentos e acampamentos ligados ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Mas o momento mais aguardado é o da exibição, na noite deste sábado (6) do filme Marighella, com a presença do diretor, Wagner Moura, integrantes do elenco e outros artistas.

Após dois anos de espera, o filme estreou em circuito comercial na última quinta (4). Segundo o jornal O Globo, em quatro dias, incluindo as pr´´é-estreias, Marighella já era o filme brasileiro mais assistido no ano, com 36 mil espectadores.

O militante comunista nasceu na Bahia (1911), assim como o diretor e ator, em 1976. Assim, Marighella já havia morrido há quase sete anos quando Wagner veio ao mundo. E foi durante um verão baiano, em 2012, que o então ator recebeu um exemplar da biografia escrita pelo jornalista Mário Magalhães. O presente foi dado por uma amiga dos tempos de teatro, Maria Marighella, neta de Marighella, filha de Carlinhos – ele tem hoje 73 anos.

Movimentos sociais

Em suas declarações neste período de lançamento do filme enfim concretizado, Wagner Moura tem ressaltado o papel dos movimentos sociais, como MST, MTST (sem-teto) e LPJ (Levante Popular da Juventude) no Brasil atual. E faz a conexão com a resistência na ditadura. “Hoje lutam porque houve exemplos no passado”, afirma.

Referência em agroecologia, o assentamento está instalado na antiga Fazenda Colatina, às margens de uma rodovia (BR 101), a quase 800 quilômetros de Salvador, desde 30 de abril de 2015. Seu nome é em homenagem a uma professora pioneira no movimento pela educação em áreas da reforma agrária no estado.

Antiga fábrica de celulose

Destinado à produção de celulose (era propriedade da Fibria), o local – uma área de aproximadamente 3 mil hectares – passou às mãos dos sem-terra após longa negociação entre autoridades, trabalhadores e empresa. E passou, com isso, a ser direcionado ao cultivo de alimentos saudáveis, o que inclui bovino e psicicultura, leite, café, pimenta do reino e urucum.

A antiga fazenda integrou projeto denominado “Assentamentos Sustentáveis com Agroflorestas e Biodiversidade”, que incluía o governo a Bahia, o MST e a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP). Também abriga uma escola (Egídio Brunetto) que, segundo informações do movimento, já formou mais de 2 mil pessoas em cursos técnicos e de especialização.

Apesar do ambiente festivo, também existe preocupação com relação à segurança do evento. O filme, mesmo celebrado, tem provocado reações furiosas em especial de bolsonaristas e simpatizantes da ditadura. Apresentado há dois anos pelo mundo, Marighella sofreu dificuldades anormais para ter sua exibição liberada no Brasil. Outro assentamento (Fábio Henrique), também em Prado, foi atacado por homens armados no último domingo (31). O Ministério Público cobrou providências, a Secretaria da Segurança disse ter determinado reforço no policiamento e o Consórcio Nordeste repudiou a ação. O próprio assentamento Jacy Rocha sofreu ataque em agosto do ano passado.

No sábado, antes da exibição do filme, prevista para as 18h30, haverá pela manhã uma plenária reunindo povos tradicionais, de terreiros, indígenas e quilombolas. Já no início da tarde, haverá um ato em defesa da reforma agrária, seguido do lançamento de autobiografia do ator José de Abreu. Também são esperados no evento, entre outros, a cineasta Tata Amaral e os atores Herson Capri, Bella Camaro e a própria Maria Marighella, que participam do filme.