Luta em campo

MST retoma ocupações para reivindicar políticas de reforma agrária e de combate à fome

Na última semana, foram ocupadas terras improdutivas em São Paulo, Bahia e Rio Grande do Norte. Retorno levou em conta o avanço da vacinação contra a covid-19 e o crescente agravo das condições socioeconômicas da população

Coletivo de Comunicação do MST em Pontal do Paranapanema
Coletivo de Comunicação do MST em Pontal do Paranapanema
"Há uma necessidade fortíssima de que os assentamentos atuem no sentido de produção de alimentos e da proteção da natureza", explica a dirigente nacional, Marina dos Santos

São Paulo – Após meses de cautela devido à pandemia de covid-19, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) voltou a ocupar latifúndios pelo Brasil, reivindicando a retomada das políticas de reforma agrária, do combate à fome e da preservação ambiental. Segundo o movimento, até o final do ano, várias ações vão ocorrer para atender à crescente demanda de famílias sem-terra, em meio à grave crise econômica e ao desemprego que assolam o país.

A dirigente nacional do MST, Marina dos Santos, destaca que a retomada das ocupações foi decidida por conta do atual contexto socioeconômico. “Na verdade, não é nem uma necessidade que o MST tem de organizar. Mas é uma necessidade que surge a partir das necessidades do próprio povo trabalhador. Precisamos retomar as ocupações, porque elas também podem ser um instrumento importante no combate à fome que estamos vivendo hoje”, explica.

De acordo com a dirigente, embora o MST não tenha realizado jornadas de luta, o movimento manteve ocupações de áreas consideradas emblemáticas. Uma delas, a Usina Cambahyba, em Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro. O local chegou a ser utilizado na ditadura civil-militar para matar e queimar corpos de militantes de esquerda.

Nova fase de ocupações

“É importante destacar que essa retomada das ocupações também se dá em um momento que os assentamentos estão clamando por políticas públicas, por atenção do governo como um todo. Porque há uma necessidade fortíssima de que os assentamentos atuem no sentido de produção de alimentos e da proteção da natureza. Tendo em vista não só uma comida saudável, mas pensando em um Brasil saudável para todos os trabalhadores do campo e da cidade”, ressalta Marina.

A primeira ocupação dessa nova fase foi realizada no dia 16 de outubro, na entrada da sede da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn), às margens da rodovia RN-188. Inicialmente articulado com 150 famílias, o Acampamento Retomada Seridó já conta com cerca de 300 famílias que fogem da pobreza e da fome na região.

O acampamento sofreu ameaças por conta de mentiras espalhadas nas redes sociais por bolsonaristas, que incitaram fazendeiros a atirar contra os sem-terra, sob a acusação de que ocupariam propriedades privadas. O dirigente do MST no Rio Grande do Norte, Jonh Nascimento, destaca, contudo, que a mobilização é para pressionar o governo federal a retomar a reforma agrária, da forma como determina a Constituição Federal.

Reforma agrária e alimentação

No dia 23 de outubro, foram realizadas duas novas ocupações. Na Bahia, cerca de 40 famílias da Brigada Zacarias, do MST na Chapada Diamantina, ocuparam a fazenda Água Branca, no município de Ruy Barbosa. No local foi montado um acampamento, onde as famílias começaram o processo de produção de alimentos. De acordo com o movimento, a fazenda tem, ao todo, 600 hectares improdutivos e não cumpre a função social da terra.

Já em São Paulo, cerca de 50 pessoas tomaram a fazenda Santa Cruz do Kurata, no município de Mirante do Paranapanema, no Pontal. O dirigente estadual do MST em São Paulo, Diógenes Rabello, explica que a fazenda tem cerca de 1.400 hectares. A área também faz parte de uma das centenas de latifúndios oriundos de terras griladas, que já tiveram o julgamento transitado em julgado.

Enquanto não realizou ocupações, o MST se concentrou na produção e distribuição gratuita de alimentos durante a pandemia. Desde abril do ano passado, os sem-terra distribuíram mais de 5 mil toneladas de alimentos produzidos em assentamentos da reforma agrária.

Confira a reportagem