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Funcionários acusam Facebook de fortalecer extrema direita

Denúncias publicadas por consórcio de 17 organizações jornalísticas norte-americanas indicam que empresa foi alertada durante anos sobre disseminação de fake news e discurso de ódio

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Antidemocracia. Estudo feito por funcionária mostrou que algoritmos do Facebook privilegiam conteúdos conservadores e de extrema-direita.

São Paulo – Consórcio de veículos de comunicação chamado “The Facebook Papers” publicou neste sábado (23) denúncias de que a rede social de Mark Zuckerberg vem contribuindo há anos para a disseminação de fake news. Reportagens exibidas em veículos como The News York Times, CNN e Washington Post mostram, inclusive, que o Facebook amplificou a mobilização de grupos de extrema-direita que culminou na invasão ao Capitólio em 6 de janeiro e deixou cinco mortos. O consórcio é formado por um total de 17 organizações jornalísticas norte-americanas.

As reportagens se espalharam pelo território americano desde as primeiras horas da manhã. O New York Times, por exemplo, mostrou que funcionários do Facebook alertaram por anos sobre a desinformação e potencial risco de radicalizar os usuários da plataforma. E que apesar de sempre terem solicitado ações para frear o fenômeno, a empresa falhou e não resolveu os problemas.

Embora a rede social tenha culpado Trump pela disseminação de notícias falsas, vários funcionários acreditam que poderia ter sido feito mais para evitar a proliferação de fake news. O alerta veio, inclusive, por meio de um estudo interno, intitulado “Jornada de Carol para QAnon”.

Algoritmo

Em julho de 2019, uma funcionária do departamento de pesquisas do Facebook criou uma conta-teste se passando-se por uma “mãe conservadora” da Carolina do Norte. Uma semana depois, sua página começou a receber recomendações de conteúdo de teorias da conspiração.

Entre as sugestões recebidas, ela optou por seguir páginas, como as das Fox News e da Sinclair Broadcasting, impérios de mídia que controla 294 estações de televisão e chega a cerca de 40% dos lares americanos com conteúdo de tom conservador. Poucos dias, vieram sugestões para a pesquisadora seguir páginas e grupos relacionados ao QAnon. Até mesmo uma fake news de que Trump estaria enfrentando uma conspiração obscura feita por pedófilos democratas foi enviada pelos algoritmos do Facebook.

Algum tempo depois, segundo a reportagem a mesma funcionária criou outra conta-teste, desta vez simulando perfil esquerdista. Notou então que os mesmos algoritmos do Facebook alimentavam o novo perfil com memes de “baixa qualidade” e desinformação política. Ela deixou a empresa em agosto de 2020.

Facebook exposto

Em seu pedido de demissão, divulgado pelo BuzzFeed News, a pesquisadora disse que o Facebook estava “conscientemente expondo os usuários a riscos de danos à integridade” e citou a lentidão da empresa em agir contra o QAnon como um dos motivos para sua saída. “Já sabemos há mais de um ano que nossos sistemas de recomendação podem levar os usuários rapidamente ao caminho de grupos e teorias de conspiração. Nesse meio tempo, o grupo extremista QAnon ganhou proeminência nacional, com candidatos ao Congresso”, escreveu.

Os documentos expostos agora pelo “The Facebook Papers” reforçam as revelações feitas no mês passado por Frances Haugen, ex-gerente de produtos da plataforma. Segundo ela, a rede de Zuckerberg mentiu sobre ações da empresa para combater o discurso de ódio, violência e fake news. Frances disse que o Facebook desmontou sua equipe de “integridade cívica” logo após a eleição de 2020, assim que Joe Biden foi declarado vencedor.

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Com Revista Fórum


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