Alternativa

Financiamento popular da agricultura familiar dribla omissão de Bolsonaro

Em operação inédita, em duas semanas, foi possível captar 17,5 milhões de reais em benefício direto à produção de 7 cooperativas e mais de 13 mil famílias assentadas.

Prefeitura Municipal de Araripina
Prefeitura Municipal de Araripina
Apesar dos vetos de Bolsonaro, agricultura familiar segue colocando comida saudável na mesa dos brasileiros

São Paulo – A agricultura familiar camponesa dribla o presidente Jair Bolsonaro e seus ataques e omissões. Em resposta ao segundo veto à lei de apoio ao setor – Lei Assis Carvalho –, em plena pandemia, trabalhadores rurais Sem Terra seguem cumprindo a função social da terra e ocupando os espaços dos grandes latifúndios improdutivos do Brasil. Só que dessa vez, rompendo as cercas do mercado financeiro.

Em operação inédita, em duas semanas, foram captados R$ 17,5 milhões em benefício direto à produção de sete cooperativas e mais de 13 mil famílias assentadas. É a consolidação de mais uma operação bem-sucedida de investimentos voltados às cooperativas da Reforma Agrária Popular – o movimento conhecido como Financiamento Popular da Agricultura Familiar (Finapop).

Com isso, apesar das dificuldades enfrentadas na ausência de auxílio governamental, políticas de fomento e acesso a créditos, camponeses seguem fomentando soluções com o desafio de semear a terra, produzir alimentos saudáveis, sem veneno, e por um preço justo.

Cooperativas da reforma agrária

A captação dos recursos foi operacionalizada por Eduardo Moreira e João Paulo Pacífico, fundador do Grupo Gaia. Ambos são conhecedores do trabalho das cooperativas da reforma agrária popular, conquistadas pela luta organizada pelo MST.

“Sempre ouvi na mídia que o MST era um grupo de terroristas que roubava e não trabalhava… até que um dia o meu amigo Eduardo Moreira resolveu viver por algumas semanas em acampamentos e assentamentos ligados aos Sem Terra”, cita Pacífico em artigo publicado após o sucesso da última operação após enfrentar entraves com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O órgão que regula o mercado financeiro chegou a suspender a operação temporariamente.

“Então, existe sim a expectativa de que novas operações sejam feitas, até por conta do sucesso dessa operação. Uma operação que teve 5 mil pessoas abrindo conta, interessadas em investir, e só 1.500 pessoas conseguiram investir”, disse Eduardo Moreira em entrevista ao MST, referindo-se à reclamação de muitas pessoas que chegaram a abrir suas contas, mas não conseguiram contatar a corretora.

Financiamento agricultura famíliar

“A corretora deve ter ficado sem conseguir atender todas as pessoas que pediram as contas. Mas isso abre espaço para uma próxima operação. Eu acredito que possa haver aí ao longo dos próximos 12 meses, uma nova operação dessa”, disse Moreira, um dos maiores entusiastas e investidor do Finapop.

Moreira comentou também que, muitas vezes, a repercussão da operação foi equivocada. Alguns veículo publicaram que o MST estava negociando ações em bolsa de valores. “O MST não fez nada, quem fez foram sete cooperativas que levantaram o financiamento para sua produção”.

Conforme esclareceu, não se trata de ações e sim títulos de renda fixa, que foram emitidos através de um Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA). Além disso, os títulos não foram negociados. “Eles podem ser negociados sim, mas não é na bolsa de valores, eles negociam no mercado de balcão”, explicou.

A operação histórica ainda permitiu investimentos a partir de R$ 100, reafirmando o caráter popular do Finapop. Para Eduardo Moreira, o ideal seria que os bancos públicos, como a Caixa ou o Banco do Brasil, liderassem operações como esta.


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