Racismo

Dados da CPI evidenciam impacto da pandemia na população negra

Frei David, da Educafro, alerta que é preciso elaborar políticas públicas para as famílias das vítimas e àqueles que vão necessitar de cuidados por conta de sequelas da doença

Paula Froes/Gov. Bahia
Paula Froes/Gov. Bahia
"Se o negro morre muito mais é porque há todo um histórico de descuidado, abandono e marginalização do povo negro", adverte Frei David

São Paulo – O relatório final da CPI da Covid no Senado foi aprovado, nesta terça-feira (26), com a inclusão parcial de um estudo sobre o impacto da pandemia na população negra do país. O texto da comissão mostra como houve, por parte do governo de Jair Bolsonaro, uma “naturalização” das desigualdades e do racismo que colocou negras e negros em condição de maior vulnerabilidade do que outros grupos. 

O documento destaca que estas diferenças justificariam a adoção de políticas públicas compensatórias, “mas elas foram desprezadas pelo governo”. E o resultado disso foi trágico. Uma pesquisa da PUC-Rio, mencionada no relatório, apontou que, até 18 de maio do ano passado, de 8.963 pacientes negros internados em hospitais brasileiros, 54,8% morreram, enquanto entre os 9.988 brancos a taxa de letalidade foi de 37,9%. A comissão também cita o impacto da pandemia sobre as mulheres, quilombolas e indígenas como exemplo da omissão federal. 

Apesar da apresentação dos dados, a avaliação do fundador da ONG Educafro, oFrei David Raimundo dos Santos, é de que os senadores da comissão “foram negligentes com essa temática”. Em entrevista a Glauco Faria, no Jornal Brasil Atual, Frei David falou sobre os resultados do relatório final a partir da perspectiva do povo negro e cobrou novos encaminhamentos. “Porque a violência contra o negro do governo Bolsonaro e do conjunto do poder de saúde municipal e estadual foi gravíssima”, destacou.

Racismo

De acordo com diretor-executivo, o movimento negro articula uma reunião com o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) para cobrar atenção à população negra. Segundo ele, será reivindicada a elaboração de políticas de cuidado às famílias de vítimas da covid-19. E também de assistência `aqueles que necessitam de atenção por conta das sequelas da doença. 

“No Mapa da Desigualdade, da Rede Nossa São Paulo, ficou provado que no bairro Itaim Bibi, na zona sul, classe alta de São Paulo, morreram 1,7 vezes mais pessoas negras. Os negros morreram bastante nas periferias, mas também aqueles que estavam em bairros ricos”, observa. “Olhando o bairro de Pinheiros, na zona oeste, ele possui 64,5 vezes mais leitos de UTI do que o bairro de São Miguel Paulista, (no extremo leste). Sendo que São Miguel é muito maior do que o bairro de Pinheiros”, descreve Frei David. “Se o negro morre muito mais é porque há todo um histórico de descuidado, abandono e marginalização do povo negro.” 

Impacto na educação

Ao lado de outras entidades, a Educafro também elabora uma ação contra Bolsonaro contra o desmonte da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN). O presidente também será alvo de outra representação contra os cortes orçamentários nas universidades federais. A medida levou à redução de auxílios a alunos mais pobres, como o bolsa-moradia e a bolsa-alimentação. Para além da questão do acesso à saúde, Frei David lembra que a pandemia também acentuou desigualdades que já existiam na área da educação. 

A Educafro estima que 30 em cada 100 jovens negros, que entraram em instituições federais com cotas, tiveram de abandonar o curso por falta de políticas de permanência. “Ou seja, é um tremendo atraso para toda a nação.” 

Confira a entrevista 

Redação: Clara Assunção


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