Aventura golpista

Adesão de PMs ao ‘bolsonarismo radical’ cresce nas redes às vésperas de atos antidemocráticos

Pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública revela que interação é maior entre policiais militares de baixa patente, mas parcela bolsonarista ainda é minoritária

Isac Nóbra/EBC
Isac Nóbra/EBC
Entre soldados, cabos, sargentos e subtenentes, 51% mostram afinidade com os discursos bolsonaristas. Um aumento de 10 pontos percentuais em relação à pesquisa do ano passado

São Paulo – Um estudo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), divulgado nesta quinta-feira (2), mostra um aumento de 27% na aderência em redes sociais de profissionais das forças de segurança pública de todos os níveis com páginas de conteúdo bolsonarista entre janeiro e agosto deste ano. Na comparação com o mesmo período em 2020, essa interação passou de 17% para 21%, um crescimento de quatro pontos percentuais.

A pesquisa aponta ainda um aumento de 24% entre agentes das forças de segurança que marcaram presença nas redes bolsonaristas mais radicais, onde se propagam postagens de caráter antidemocrático como as que defendem o fechamento de instituições. Esse tipo de interação foi de 13%, no ano passado, para 17%. 

Como no primeiro levantamento do tipo feito pelo Fórum, o uso das contas nas redes sociais e para interação com grupos bolsonaristas foi sobretudo maior entre policiais militares de baixa patente. Os dados atualizados indicam que entre soldados, cabos, sargentos e subtenentes, 51% mostram afinidade com os discursos radicais. Um aumento de 10 pontos percentuais em relação aos 41% dos praças que, em 2020, mostravam-se abertamente alinhados ao ideário do presidente no Facebook ou Instagram. 

Entre essa base da corporação, até 30% interagem com conteúdos radicais, de teor disruptivo, contra 25% na pesquisa anterior. Houve, contudo, um crescimento também na adesão do bolsonarismo entre os oficiais de alta patente. Enquanto no ano passado as interações não passavam de 34%, o alinhamento às teses do presidente da República na tropa já chega a 44%. Nas redes de capitães, majores, tenentes-coronéis e coronéis, pelo menos 23% compartilham conteúdos antidemocráticos, ante 17% em 2020. 

Adesão é baixa nas outras forças

O levantamento observa, contudo, que é relativamente baixa a adesão ao bolsonarismo entre os agentes da Polícia Civil. As interações alcançaram 13% em 2021, contra 9% no estudo anterior. Assim como na Polícia Federal, em que os compartilhamentos representaram 17% frente aos 13% apurados em 2020. 

Para chegar a esses dados, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública levou em conta 651 perfis no Facebook e no Instagram monitorados de forma anônima. A amostra representa proporcionalmente o efetivo de agentes da segurança pública do país levantado pela entidade com base em informações de profissionais das polícias no Portal da Transparência do governo federal e dos estados. Foram consideradas apenas as informações públicas disponibilizadas pelas redes sociais aos pesquisadores, sem distinção entre policiais da ativa e da reserva. Com isso, o nível de confiança da pesquisa é de 95% e a margem de erro é de três pontos, para mais ou para menos. 

De acordo com o presidente do Fórum, o sociólogo Renato Sérgio de Lima, a atualização dos dados levou em conta “as ameaças em torno dos atos de 7 de setembro”. Ao longo das últimas semanas cresceram rumores de que apoiadores do presidente da República estariam convocando policiais militares da ativa e da reserva a participarem de atos em apoio a Bolsonaro, que poderiam culminar em um golpe institucional, com invasão do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Congresso. 

O impacto dos atos antidemocráticos

À Folha de S. Paulo, o presidente do Fórum observou que apesar da ameaça democrática e da pesquisa evidenciar “que o problema está nas Polícias Militares que apresentaram o maior aumento de interações com o bolsonarismo, inclusive com grupos de discursos mais radicalizados”, “mesmo assim, essa parcela bolsonarista ainda é minoritária no total de policiais”. O estudo indica que a maioria, entre oficiais e praças da PM, não está interagindo com os discursos reacionários do presidente. O “problema”, porém “é que se trata de uma parcela bastante significativa e bastante barulhenta”, disse Lima. 

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Assim como na primeira pesquisa, o Fórum também verificou que entre os policiais alinhados ao bolsonarismo há uma adesão a discursos de ódio, com pautas racistas e contrárias aos direitos humanos. Em outra reportagem, ao portal UOL, o presidente da entidade acrescentou que há um interesse capitaneado por Bolsonaro em mobilizar militares para, na verdade, “justificar um discurso de radicalização” e mostrar “amparo popular”. “Não é que o PM vai sair na rua para impor um golpe. Mas vai sair para defender o bolsonarismo.”

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Redação: Clara Assunção