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Idec critica influência da agroindústria na Cúpula de Sistemas Alimentares da ONU

A Cúpula de Sistemas Alimentares das Nações Unidas sofrerá forte influência da indústria de alimentos e do agronegócio, segundo o Idec

CEE Fiocruz
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Idec defende que é preciso restringir a alta oferta de ultraprocessados e incentivar os agrocecológicos

São Paulo – A Cúpula de Sistemas Alimentares das Nações Unidas sofrerá forte influência da indústria de alimentos e do agronegócio, no evento marcado para o próximo dia 23 de setembro. Apesar de convidado a participar, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) não estará presente do fórum global, pois critica a falta de espaço à sociedade civil e de debate sobre alimentação saudável e sustentável.

A Cúpula dos Sistemas Alimentares deste ano é organizada pela ONU sob a justificativa de debater e criar consenso sobre tudo aquilo relacionado a alimentos e alimentação, desde a produção, transporte e distribuição, até a comercialização, consumo e formulação de políticas públicas. Vinculada ao agronegócio, a presidente da Aliança para a Revolução Verde na África, Agnes Kalibata, foi selecionada como Enviada Especial com o papel de coordenar o evento.

Doutora em nutrição em saúde pública e consultora técnica do Idec, Ana Paula Bortoletto afirma que foi identificado uma predominação de representantes do setor privado e agronegócio na organização do evento, enquanto a sociedade civil teve sua participação restrita.

“Esses atores defendem seus interesses comerciais e num espaço como esse se cria influências para decidir as políticas públicas a serem defendidas internacionalmente. Eles atrapalham o avanço de medidas que apoiem a agricultura familiar, a produção de orgânicos e a restrição aos ultraprocessados“, alertou ela à jornalista Marilu Cabañas, da Rádio Brasil Atual.

Contra-Cúpula

A Cúpula de Sistemas Alimentares da ONU reúne diferentes governos, incluindo o brasileiro, assim como representantes do setor privado, da sociedade civil e da academia. A partir dele, buscam-se respostas ao aumento da insegurança alimentar e nutricional nos últimos anos, para além da crise econômica, desigualdades e a pandemia da covid-19.

Entretanto, a influência do agronegócio deixa todo o processo desequilibrado, na opinião da especialista. Ela aponta ainda que quem vai tomar a decisão final será influenciado pela presença massiva desses atores da indústria. “Os governos precisam focar em melhorar a qualidade alimentícia e enfrentar as mudanças climáticas, mas serão influenciados por esse setor privado”, lamentou.

A partir das críticas, o Idec e outros movimentos do mundo que atuam pela agenda alimentar criaram uma articulação e uma espécie de “contra-cúpula”. “Nessa organização, nós levamos a visão dos atores mais vulneráveis e demos visibilidade às agendas comprometidas com a saúde e meio ambiente”, explicou Paula.

O Idec defende que é preciso restringir a alta oferta de ultraprocessados e incentivar os agrocecológicos. “Nós entendemos que para criar uma alimentação saudável e sustentável na América Latina é preciso proteger a produção de alimentos agroecológicos, sem veneno, e garantir a introdução desses atores ao mercado. Além disso, olhando para os consumidores, as pessoas precisam de uma rotulagem adequada, uma restrição da publicidade, e também políticas de tributação que coloquem preços mais altos aos produtos ultraprocessados e redução para os saudáveis”, acrescentou.

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