Resistência secular

Bolsonaristas tentam intimidar, mas mulheres indígenas realizam marcha em Brasília nesta sexta

Ameaças de apoiadores do presidente impediram por três dias a saída da 2ª marcha. Reunidas desde o início da semana, mulheres indígenas comemoraram ontem voto contrário de Fachin ao marco temporal

Marina Oliveira/Cimi
Marina Oliveira/Cimi
Marcha de mulheres indígenas em Brasília contra o marco temporal, em análise no Supremo Tribunal Federal

São Paulo – O voto do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin contra a tese do marco temporal, nesta quinta-feira (9), foi comemorado pelas 5 mil mulheres de 172 povos indígenas que realizam em Brasília a 2ª Marcha Nacional das Mulheres Indígenas. Desde o último dia 7, elas estão reunidas na capital federal para o evento que se estende até este sábado (11).

Na tarde de ontem, Fachin, também relator do processo, abriu o julgamento, concluindo seu voto contrário, iniciado na quarta (8). A tese do marco temporal, defendida por ruralistas, determina que as terras indígenas só poderão ser demarcadas caso comprovada a ocupação no dia em que a Constituição Federal de 1988 foi promulgada, em 5 de outubro. O julgamento deve ser retomado na próxima semana para continuidade do voto do ministro Kássio Nunes Marques, que pediu o adiamento da sessão, durante esta quinta, e também dos demais ministros da Corte. 

À repórter Júlia Pereira, da Rádio Brasil Atual, a integrante do Conselho do Povo Terena, Simone Eloy Amado, destacou que a demarcação das TIs é fundamental para a continuidade da cultura dos povos indígenas.”Isso nos foi garantido na Constituição Federal de 1988 e o direito à terra é o principal para os povos indígenas. É (ele que dá) o direito de plantar, colher, praticar nossas culturas, ensinar a realidade para as nossas crianças. É importante a demarcação de nossos territórios para que se dê continuidade às futuras gerações e à prática da nossa cultura”, garantiu Simone. 

2ª Marcha das Mulheres Indígenas

Como forma de fortalecer a luta das mulheres indígenas, elas realizam a marcha em Brasília também para a troca de saberes entre diferentes povos. Com o tema “Mulheres originárias: reflorestando mentes para a cura da terra”, as indígenas realizam diversas atividades, como reuniões, cantos, danças e apresentações tradicionais de cada um de seus povos.

“Quando nos encontramos nesses momentos, nós socializamos saberes, ouvimos e acolhemos as mulheres. Estamos agora nessa luta contra o marco temporal, contra esses retrocessos e temos essa força e importância de sermos mulheres indígenas, protetoras da natureza e dos povos indígenas”, observou à Rádio Brasil Atual a co-deputada estadual da Bancada Ativista do Psol na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), Chirley Pankará. 

Além dessas atividades, também será realizada a própria marcha. Em que as mulheres saem do acampamento, localizado entre a Fundação de Artes (Funarte) e o Planetário, no Eixo Monumental, para seguir até a Praça dos Três Poderes, cerca de quatro quilômetros distante, em um protesto pela defesa da justiça, liberdade e demarcação de terras. As organizações tentaram uma saída prévia na terça (7) e na quarta (8), mas precisaram se resguardar por conta por conta da presença de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, que permanecem em Brasília desde o dia 7, quando ocorreu a mobilização em favor do governo. 

Resistência

Oficialmente programada para ontem, a 2ª marcha precisou ser novamente adiada para evitar confrontos e garantir a segurança das mulheres indígenas. De acordo com informações do portal Amazônia Real, no início da semana circularam vídeos de bolsonaristas que “prometiam tirar sangue de indígenas em Brasília”. Na região, os apoiadores também estão direcionando os discursos agressivos e anti-democráticos contra a Corte aos povos originários. 

Simone Eloy comenta que diante dessas ameaças, “como medida de segurança de mulheres, crianças, anciãs, lideranças e pajés que estão no acampamento, foi decidido pelas mulheres indígenas de várias regiões do país que não vamos sair do acampamento e a atividade vai ser realizada externamente”. 

Apesar das intimidações, as 5 mil mulheres indígenas estão realizando nesta manhã de sexta (10) a 2ª Marcha Nacional. O trajeto foi alterado e elas seguem em direção à Praça do Compromisso, onde há 24 anos foi assassinado o índigena Galdino Pataxô Hã-Hã-Hãe. O movimento é promovido pela Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga) e tem apoio da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e suas organizações de base. 

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