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Uso da bicicleta cresce com pandemia, mas falta segurança para quem pedala

Milhares de pessoas aderem ao pedal para evitar aglomerações no transporte público. Acidentes crescem 30% no país, colocando em evidência a necessidade de mais ações para aumentar a segurança do ciclista

Carlos Nogueira / PMS
Carlos Nogueira / PMS
Santos (SP) é uma das cidades que apresenta boa infraestrutura cicloviária: adesão em alta

São Paulo – A crise sanitária com a pandemia no país e a necessidade de isolamento foi um fator primordial para expandir a cultura da bicicleta no país. Motivadas pela possibilidade de sair do transporte público – foco de contaminações –, e ter uma alternativa de transporte saudável, milhares de pessoas no país aderem ao pedal. A segurança na ruas e ciclovias brasileiras, no entanto, deixa a desejar. Segundo a Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet), houve um “aumento relevante de 30%” no registro de sinistros que exigiram atendimento médico a ciclistas traumatizados, nos primeiros cinco meses de 2021 em relação a igual período do ano anterior.

“Os dados demonstram a importância de termos atenção e iniciativas focadas nesse público. O uso da bicicleta cresceu no Brasil e exige uma abordagem de prevenção ao sinistro”, diz o presidente da Abramet, Antonio Meira Júnior.

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Segundo a associação, em janeiro de 2019 foram registrados 1,1 mil sinistros graves com ciclistas, número que subiu para 1.451 em janeiro de 2021, “o mais alto nível no período estudado”.

Produção cresce

A procura pela bicicleta na pandemia se reflete nos números da indústria no país. Neste ano, a produção deve crescer 27,8%, conforme aponta a Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo). O setor prevê este ano fabricar 850 mil unidades, enquanto em 2020 foram fabricadas 665 mil unidades.

Os novos consumidores buscam na bicicleta uma forma de driblar as dificuldades da pandemia. É o caso da professora de dança, Sinara Ferreira Dias, que aderiu ao ciclismo. “Durante uma internação, decidi que iria comprar uma bicicleta para garantir minha qualidade de vida”, conta. A promessa foi cumprida no dia 20 de julho do ano passado. “Sempre tive contato com as pessoas e o isolamento social me deixou muito deprimida. No início, pedalar foi uma terapia”, relembra.

Grande amiga

Hoje a bicicleta é uma companheira inseparável. As pedaladas já não ficam restritas às ruas de Manaus, onde mora: Sinara agora treina triatlo e nos finais de semana, junto com os amigos, encara percursos de mais de 200 quilômetros. “A bike ajudou a superar uma das fases mais difíceis que vivi. Ela salvou minha vida”, afirma.

A analista comercial Lilian Souza, de São Paulo, também adquiriu o hábito de pedalar há pouco mais de um ano. Frequentadora assídua de academia, a chegada da pandemia a obrigou a ficar em casa e fazer aulas on-line. “Minha treinadora sempre lançava desafios para eu manter o corpo em movimento até que surgiu a vontade de ter uma bike. Mas, confesso que, no início, tive dúvidas se iria gostar ou não”, destaca. Tudo mudou no dia do aniversário, quando ganhou uma dos amigos.

Antes de sair de bicicleta pelas movimentadas ruas da capital paulista em meio à pandemia, seguiu a recomendação da treinadora e adquiriu todo o equipamento de segurança como capacete, óculos e luvas. “Não estava confiante nas primeiras pedaladas. Afinal, nem sabia trocar uma marcha”, confessa. “Hoje estou mais confiante. Faço parte de um clube de ciclismo, conheci pessoas novas e participo de passeios”, completa.

Dia nacional do ciclista

Transformar a dor em uma ação positiva, ainda que em meio a processos muito difíceis, foi a experiência vivida pelo economista Persio Davison, de 73 anos. Da trágica morte de seu filho, Pedro Davison, atropelado por um motorista alcoolizado na chamada faixa presidencial do Eixão Sul, em Brasília, ele viu surgir, em todo o país, um movimento de conscientização e de mudanças de atitudes que, desde então, ajudam a melhorar as estatísticas de ciclistas mortos no trânsito.

Todos os esforços de conscientização culminaram na criação do Dia Nacional do Ciclista, em 19 de agosto.

“O Dia Nacional do Ciclista, para nós, é o dia da morte de nosso filho. Por outro lado, é, para a sociedade, um dia de conscientização e de busca por novos caminhos para a mobilidade. Um dia para lembrar que todos temos de ser protetores de todos, e que a realidade só será menos trágica se nos respeitarmos. Um dia para lembrar que temos o mesmo direito de respeito pela escolha sobre como queremos nos locomover”, disse Persio.

Foi no dia 19 de agosto de 2006 que, após participar de um churrasco em comemoração ao aniversário da filha Lulu, de 8 anos, que Pedro, aos 25 anos e com um curso de biologia recém-concluído, optou por fazer algo que estava muito acostumado: “dar um pedal”, isto é, andar de bicicleta, simplesmente.

Com informações da Agência Brasil e da Abraciclo