LUTA JUDICIAL

Santa Marina: despejo é suspenso e clube centenário pode virar patrimônio histórico

Ação do Ministério Público paulista, que contou com a mobilização de dezenas apoiadores, conseguiu suspender reintegração de posse

Fernando Martinez/Jogos Perdidos
Fernando Martinez/Jogos Perdidos
Fundado por trabalhadores da extinta Vidraria Santa Marina, o Santa Marina Atlético Clube quase não comemorou o aniversário de 108 anos, completos neste domingo (15)

São Paulo – Após semanas de tensão aguardando a execução de uma ação de reintegração de posse, o centenário Santa Marina Atlético Clube, sediado na Água Branca, zona oeste de São Paulo, conseguiu uma vitória importante na Justiça. A entidade conseguiu uma liminar, na última semana, para continuar com o campo de futebol onde atua, após ação movida pela Promotoria de Justiça do Meio Ambiente do Ministério Público de São Paulo.

Fundado por trabalhadores da extinta Vidraria Santa Marina, com uma longa história de conquistas e ações sociais, o Santa Marina Atlético Clube quase não comemorou o aniversário de 108 anos, completados neste domingo (15).

Com a iminência da execução da reintegração de posse, ação movida pela multinacional Saint Gobain, atual dona do terreno, a diretoria do clube chegou a preparar a mudança, empacotando materiais esportivos, móveis, troféus e lembranças. Mas a mobilização de dezenas de apoiadores e do Ministério Público conseguiu reverter a situação aos 45 minutos do segundo tempo e pode tornar o clube patrimônio histórico da cidade.

O presidente do Santa Marina, Francisco Ingegnere, que há 24 anos trabalha para preservar e levar adiante essa história, relata que ficou feliz, mas ainda está processando o que aconteceu na última semana.

“A gente leva um choque e a fim nem caiu direito. Essa empresa está gastando muito dinheiro para tirar a gente daqui, mas temos muita gente boa nos ajudando. Nós nascemos nesse clube e é muito importante para as famílias e para a comunidade manter o espaço”, comemorou Francisco, em entrevista ao repórter Rodrigo Gomes, da Rádio Brasil Atual.

Disputa judicial

Embora esteja na área atual há 72 anos, o clube nunca teve nenhum documento de cessão. Em 2007, foi firmado um comodato entre o Santa Marina e a Saint-Gobain. Mas em 2017 teve início a disputa judicial

O clube ingressou com um pedido de usucapião da área e a empresa com um pedido de reintegração de posse. Em abril deste ano, a 2ª Vara Cível do Fórum da Lapa concedeu a reintegração e deu 120 dias para o clube deixar o local. A situação começou a mudar quando o promotor Geraldo Rangel de França Neto promoveu uma ação civil pública, com dezenas de assinaturas de apoio, pedindo que o despejo fosse suspenso até análise do valor histórico do clube.

“A ação visa o reconhecimento do valor histórico e cultural do clube, e também aguardamos a manifestação dos órgãos de preservação estadual e municipal sobre o local. O Santa Marina começou as atividades em 1909 e está no atual terreno em 1949, fazendo parte da história do bairro e conta a história da ocupação das várzeas do Rio Tietê. É um valor histórico para a cidade”, defende Rangel.

Reconhecimento do Santa Marina

O reconhecimento do valor histórico consolidaria definitivamente o clube, que já é considerado patrimônio cultural da cidade de São Paulo desde o ano passado. Além disso, manteria o trabalho de formação esportiva de 60 crianças de 5 a 15 anos que frequentam a escolinha de futsal mantida pelo clube.

“Meu avô cresceu e foi criado aqui. Estou contente de ter ficado. Desde que entrei na diretoria, me dedico a tudo isso, tanto ao clube quanto às crianças. Quem não tem passado, não tem futuro”, afirmou o presidente do Santa Marina.

A luta para manter o Santa Marina ainda não acabou. A Saint-Gobain ainda pode recorrer da decisão que suspendeu o despejo e o processo de análise do valor histórico do clube ainda não tem data para começar.


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