Sem condições

São Paulo anuncia réveillon e carnaval em 2022; especialistas consideram precipitado

Médicos afirmam que pandemia não está controlada. E temem que turistas tragam novas variantes na bagagem

Marcelo Pereira/SECOM
Marcelo Pereira/SECOM
Réveillon na Avenida Paulista atrai milhões de pessoas

São Paulo – A prefeitura de São Paulo anunciou na semana passada que prepara a realização do réveillon e do carnaval em 2022. Por conta da redução no número de leitos de UTIs utilizados por pacientes infectados pela covid-19 na cidade, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) considera que já é possível planejar duas das principais festas da capital. Especialistas da área médica, contudo, discordam da decisão. Eles afirmam que a pandemia ainda está fora de controle. E temem a disseminação de novas variantes, em função do fluxo de turistas vindos de outras partes do Brasil e do mundo.

Segundo dados que vêm sendo divulgados pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), a média móvel de óbitos está caindo nas últimas duas semanas. Porém, os números de novos casos ainda são elevados. Na avaliação de Aristóteles Cardona Júnior, da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares, ainda é muito cedo para pensar em aglomerações. Segundo ele, países que já começaram a promover eventos com a participação do público, seguem uma série de medidas – como a testagem em massa – em falta no Brasil.

Experiência internacional

“Por exemplo, vimos agora jogos da Eurocopa, que contaram com público, mas dentro de um planejamento. Considerando também uma estabilidade que a gente ainda não tem. Infelizmente, dada a característica da pandemia por aqui, é preciso reforçar: ainda é cedo para falar e começar a planejar, de fato, aglomerações”, disse Cardona em entrevista a Larissa Bohrer, para o Jornal Brasil Atual, nesta terça-feira (6).

Mesmo que em algumas cidades a vacinação contra o coronavírus já esteja mais avançada, para o médico não é possível afirmar que a pandemia esteja controlada no Brasil. Ele destaca que oscilações já ocorreram em outros momentos da pandemia. E que, até mesmo em países como vacinação bem mais avançada – Portugal, Espanha e Inglaterra – ocorreram novos surtos.

“Aprendemos, ao longo desse período, que é preciso ver o que está acontecendo em outros países. E não temos nada absolutamente que nos aponte para uma situação de tranquilidade. E muito menos falar em pandemia controlada em nosso país”, acrescentou o doutor.

Visita surpresa

A médica especialista em Saúde Pública Ligia Bahia, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), lembra que os cuidados precisam continuar, mesmo que a maioria da população brasileira esteja vacinada até o final do ano.

Segundo a doutora, é preciso considerar que eventos desse tipo atraem não apenas pessoas de outros estados, mas também de outros países. O que pode aumentar o contágio por outras variantes do novo coronavírus.

Ligia alerta que, por mais que a maior parte da população de São Paulo venha a estar totalmente vacinada quando chegarem o réveillon e o carnaval, não vai poder ter descuidos com aglomerações. “O Brasil continua sendo um caso muito perigoso. É uma situação muito explosiva. A gente já experimentou essa situação, de diminuição, e não correspondeu à realidade”, alerta Ligia.

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