Luta contra a opressão

Movimento de mulheres ocupa dois espaços no ABC paulista para oferecer acolhimento

Localizadas em Santo André e Mauá, as duas casas estavam desocupadas e sem função social há mais de 10 anos, segundo o Movimento de Mulheres Olga Benário

Movimento de Mulheres Olga Benário/Reprodução
Movimento de Mulheres Olga Benário/Reprodução
As duas casas serão sede de um centro de referência e de passagem para mulheres vítimas da violência. Em Mauá, ocupação leva o nome de Casa Helenira Preta II

São Paulo – Na manhã do último domingo (25), data em que se comemorou o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, centenas de mulheres, organizadas pelo Movimento de Mulheres Olga Benário, ocuparam dois imóveis abandonados no ABC, região metropolitana de São Paulo. Segundo o grupo, os espaços, que já estão abertos, vão abrigar duas casas, uma de referência para o atendimento e aconselhamento, e outra para o acolhimento de mulheres em situação de violência.

Um dos espaços está localizado na cidade de Mauá, onde o movimento organiza desde 2017 a Casa de Referência para Mulher Helenira Preta. A ocupação do local, à época, forçou inclusive o município a criar a secretaria de Políticas Públicas para Mulheres de Mauá, até então inexistente. Apesar dos avanços, a integrante da ocupação, Amanda Bispo, afirma que ainda faltam políticas públicas que protejam as mulheres e seus filhos vítimas da violência. Além disso, a primeira casa também é alvo de um leilão que o movimento debate junto à prefeitura. 

Diante desse cenário e do aumento dos índices de violência de gênero, as mulheres escolheram construir a casa Helenira Preta II na mais nova ocupação. “A violência contra a mulher tem crescido no país, a fome também. Está difícil comprar comida, há desemprego, tudo está mais difícil. Mas a gente não vê o governo resolver nossos problemas e a situação piora cada vez mais. Por isso decidimos fazer essa ocupação para atender mulheres em situação de violência e fazer um projeto de creche em que as mães participem e a gente construa uma creche popular”, explica Amanda em entrevista ao repórter Cosmo Silva, da Rádio Brasil Atual.

Função social

Em quatro anos, mais de 630 mulheres em situação de violência foram atendidas pela casa, que também oferece acesso à cultura e capacitação para geração de trabalho e renda. O Movimento de Mulheres Olga Benário também é responsável na região pelas “brigadas de solidariedade”. Uma iniciativa que, desde o início da pandemia, leva cestas básicas às comunidades próximas, e presta apoio para serviços jurídicos, sociais e sanitários. 

O objetivo do grupo é que a segunda casa, em Santo André, também possa contribuir para a população da região. A ocupação foi batizada neste domingo com o nome da escritora Carolina Maria de Jesus.

Casa Carolina Maria de Jesus

À reportagem, o movimento destaca que os dois imóveis descumpriam a condição constitucional de função social da propriedade. A integrante do movimento e coordenadora da ocupação Carolina Maria de Jesus, Laura Santana, afirmou que, no caso da casa em Santo André, o espaço já estava abandonado há mais de 10 anos e com dívidas do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). Laura conta que no domingo, no entanto, dia da ocupação, um homem apareceu acompanhado de duas viaturas policiais se identificando como proprietário e querendo retirar o grupo de mulheres “à força” do local. 

“Mulheres essas que já haviam feito toda a limpeza do local, tornando-o habitável e o preparando para atender mulheres vítimas da violência. E quando entramos estava impossível transitar dentro da casa, tinha muita sujeira, muita caixa, estava muito abandonado”, descreve.

Após a ocupação do imóvel, as mulheres receberam a visita e solidariedade de um representante do Grupo Tortura Nunca Mais, Sol Massari. Para manutenção dos espaços, o movimento segue agora em paralelo com uma campanha coletiva no Apoia-se.

Confira a reportagem


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