Outro inverno

Em uma semana, 12 pessoas em situação de rua morreram por causa do frio intenso em São Paulo

Prefeitura diz que não tem como atestar mortes, e movimento cobra mais ações do poder público para enfrentar a situação

Marcelo Camargo/EBC
Marcelo Camargo/EBC
As entidades criticam o investimento principal do município em abrigos e centros temporárias de acolhimento, os chamados CTAs

São Paulo – No período de uma semana, 12 pessoas em situação de rua morreram por causa do frio na cidade de São Paulo, de acordo com o Movimento Estadual da População em Situação de Rua (MEPRSP). As mortes ocorreram em locais diferentes do município. Cinco foram na Sé, uma na Baixada do Glicério (região central), outra nas proximidades do Terminal Tiradentes (zona norte), e houve uma vítima ainda no Pátio do Colégio, também no centro. O movimento da população de rua confirma dois óbitos na Barra Funda, zona oeste, e outros dois na Mooca, zona leste. 

E a previsão é que a onda de frio continue pelos próximos dias. Além da baixa temperatura, a neblina e os chuviscos também contribuem para diminuir a sensação térmica de quem não tem um teto, molhando casacos, cobertores e papelões utilizados. Para amenizar o sofrimento, o presidente do MEPRSP, Robson Mendonça, reforça a importância das ações de solidariedade, como conta em entrevista à repórter Larissa Bohrer, da Rádio Brasil Atual.

“De domingo a domingo servimos de 600 a 700 refeições e à noite levamos café e cobertor para eles. Repomos toda a noite porque as cobertas molham e não tem como eles se cobrirem com elas molhada”, explica.

Faltam ações

De acordo com o coordenador municipal do Movimento Nacional da População de Rua (MNPR), Anderson Lopes Miranda, “estar na rua já é difícil e, neste momento de frio, é ainda pior”. À reportagem, ele cobra mais ações da prefeitura de São Paulo, sob o comando de Ricardo Nunes (MDB).

“A importância dessa luta é fazer com que a prefeitura acolha para que (os desabrigados) não morram de frio. As prefeituras têm que cuidar. Não adianta fazer operação frente fria se eu não abro os equipamentos, se não acolho, não dou condições. Tantos espaços que poderiam acolher e a prefeitura não faz parcerias”, contesta Miranda.

As entidades criticam o investimento principal do município em abrigos e centros temporárias de acolhimento, os chamados CTAs. Historicamente, quem atua de perto com essa população, defende a ampliação de programas de locação social e de moradia social, iniciativas consideradas mais próximas da demanda de pessoas em situação de rua que, muitas vezes, têm vulnerabilidades sobrepostas.

Número de sem-teto só cresce

Segundo Mendonça, a Operação Baixas Temperaturas deixa a desejar justamente por encaminhar às pessoas a albergues que, aponta, “são insalubres”. À imprensa, a gestão Nunes alega que não tem como atestar as mortes provocadas pelo frio e que faz ações para evitá-las. A prefeitura destaca que o Centro Esportivo Pelezão dispõe de 140 vagas para atender a demanda por conta do frio. 

À Rádio Brasil Atual, Wagner, que mora nas ruas da Avenida Paulista há mais de cinco anos, conta que além do frio mais intenso é cada vez maior o número de pessoas sem teto. “A noite tem sido muito gelada, época de inverno é ruim para todo mundo. E muita gente ficou sem casa na pandemia, ficou desempregado, não tinha dinheiro para pagar o aluguel, e veio para a rua. Vira e mexe aparece gente precisando de coberta e roupas”, descreve.

Diante da situação, Robson Mendonça reforça os pedidos de doações de agasalhos para o inverno, meias, toucas, blusões, calças e casacos, principalmente masculinos, para a maioria de homens que compõem a população em situação de rua. 

Confira a reportagem

Redação: Clara Assunção


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